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CDS
ROCK/"SANGUEAUDIÊNCIA"
Álbum tem Manu Chao, Marisa Monte e BNegão
Com F.UR.T.O., Yuka comete disco-denúcia, mas não só
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Corrupção , balas perdidas
(e nem tanto), desigualdades
mil. Ao contrário do que cantam
por aí, o Brasil não tem graça. E é
nesse cenário sombrio, contraditório e perigoso que Marcelo Yuka apresenta o seu F.UR.T.O.
Sigla para Frente Urbana de
Trabalhos Organizados, entidade
fundada pelo próprio com foco
no ativismo social e artístico, seu
braço musical tem ainda Maurício Pacheco (ex-Mulheres que Dizem Sim), na guitarra e voz, e os
percussionistas Garnizé e Jamilson da Silva. Primeiro produto:
"SangueAudiência", lançado neste mês pela Sony.
Conhecido como a alma lírica
do Rappa, de quem se afastou
-ou foi afastado- após o incidente que, cinco anos atrás, o colocou em uma cadeira de rodas,
Yuka volta à carga com letras ainda mais politizadas, levantando
bandeiras do MST, dos movimentos feministas, das comunidades dos morros do Rio e das
pesquisas com células-tronco.
Com produção de Chico Neves,
Berna Ceppas e da própria banda,
em que Yuka toca baixo e bateria
programados e em que, inevitavelmente, Pacheco muitas vezes
ainda soa como Falcão ao cantar,
"SangueAudiência" é um disco-denúncia, mas não só. No lugar
do revanchismo e dos modos
gangsta de certo hip hop, prega o
"terrorismo cultural". "Não existe
enredo do inferno que tire a minha emoção", diz Yuka na autobiográfica -e qual não é?- "Flores nas Encostas do Cimento".
Em meio a pedradas movidas a
dub e eletrônica, sobram críticas
para o "consumo siliconizado",
os latifundiários de "Verbos à Flor
da Pele", que acompanha discurso de João Pedro Stédile, e as fronteiras da globalização da contundente "Desterro", dividida com
Marisa Monte.
Ainda assim, apesar do caráter
engajado -os céticos diriam
panfletário-, "SangueAudiência" guarda respiros saudáveis como a benjoriana-século 21 "Coisas Tão Simples", um manifesto à
(afro)brasilidade: "Os tambores
vão falar e rezar e brincar / construindo a identidade / que meu
pai me passou".
De mesmo modo, o "cheiro de
pneu queimado" em "Gente de
Lá", com participação de BNegão,
não abafa o agogô de "Paradoxo",
em que canta "a maioria de nós
como povo ainda possui poucas
virtudes para o mau" (sic).
Porém, como foi dito lá em cima, o F.UR.T.O. não parece interessado em anistiar o passado/
presente e tocar a bola adiante.
De "Todos Debaixo do Mesmo
Sombreiro", dobradinha com
Manu Chao que trata dos desaparecidos políticos das ditaduras latino-americanas, a "Não se Preocupe Comigo", sobre desaparecidos que continuam a desaparecer
ainda, "SangueAudiência" é a trilha sonora do Brasil dos militares,
das CPIs e dos "mensalões".
Ou vai dizer que você não viu
esse "filme", tipo ontem?
"Perderam o governo, mas ainda seguram seus trunfos / Quando cair, delete o meu nome dos
seus computadores (...) Tráfico de
influência, tráfico de vaidade, tráfico pra ocupar o melhor lugar na
corte / Bem-vindo à Ego City." Bem-vindo ao Brasil.
SangueAudiência
Artista: F.UR.T.O.
Lançamento: Sony Music
Quanto: R$ 35, em média
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