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CRÍTICA
Comédia de ação à la James Bond tropeça no marketing
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Filme sobre as agruras de um
casamento, "Sr. e Sra. Smith",
de Doug Liman (de "A Identidade
Bourne"), é o casamento de dois
estilos de blockbuster: a ação "à la
James Bond" e a comédia de costumes, o que cria uma ressonância curiosa. Enquanto na tela marido e mulher brigam sem parar,
os gêneros, que na cartilha do
marketing correspondem a públicos-alvos específicos (masculino
para a ação, feminino para a comédia de costumes), também disputam espaço, trocam farpas e reproduzem a convivência nada
harmoniosa dos protagonistas.
Sem que o final seja lá muito feliz.
A impossibilidade de conhecer
o outro, mesmo quando esse outro é a pessoa mais próxima, ganha aqui sua metáfora mais barulhenta. John (Brad Pitt) e Jane
Smith (Angelina Jolie) estão casados há cinco anos (ou seis, como
ela insiste), mas não conhecem
suas verdadeiras identidades. Cada um trabalha como assassino e
esconde isso do outro, o que só será desvelado depois que recebem
o mesmo alvo como missão.
A inevitável missão seguinte será o extermínio recíproco, pretexto para que a guerra de nervos vivida em casa se torne uma guerra
literal e particular. Marido e mulher, no caso, dispõem de um arsenal mais poderoso que o de
Exércitos inteiros. Mas a explosão
da violência, salvadora da pátria,
vai reacender o desejo do casal.
Sexo e violência sempre formaram uma ótima combinação, "são
como ovos e bacon", disse David
Cronenberg no último Festival de
Cannes depois de apresentar seu
"O Anjo da Morte". A diferença é
que, em "Sr. e Sra. Smith", a violência é condição aparentemente
exclusiva para a eclosão do desejo.
Para Cronenberg, ao contrário,
quando a violência aflora, contamina todos os aspectos da relação
familiar (inclusive o sexual). Mas
em "Sr. e Sra. Smith" essa relação
é puramente esquemática e politicamente complicada, como se a
violência fosse uma forma justificável de intervenção capaz de corrigir os defeitos do mundo (inclusive relacionamentos em crise!).
Outro aspecto incômodo de "Sr.
e Sra. Smith" é que ele deixa transparecer o tempo todo o subtexto
do projeto de marketing que o gerou. O teor pré-fabricado não seria problema se houvesse riqueza
de proposta e o resultado final gerasse sentido. Mas o pressuposto
básico nunca é desenvolvido além
de sua função formulaica, com lacunas a serem preenchidas por situações repetitivas e uma ou outra piada. Outros filmes bem menos ambiciosos, de "Amor à
Queima-Roupa", de Tony Scott, a
"Guerra dos Roses", de Danny
DeVito, apresentam visões bem
mais divertidas para o tema.
Sr. e Sra. Smith
Mr. and Mrs. Smith
Direção: Doug Liman
Produção: EUA, 2005
Com: Brad Pitt, Angelina Jolie
Quando: a partir de hoje nos cines Butantã, Interlagos, Lapa e circuito
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