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"DJOMEH"
Iraniano cria geografia existencial
PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A geografia é uma questão
no cinema iraniano. Seja a
mais física, ou temática, como em
"Tempo de Embebedar Cavalos",
de Bahman Ghobadi, seja a dos
filmes onde o espaço está a serviço da mise-en-scène, com os personagens percorrendo em tempo
real geografias filmadas, jamais
citadas. É o cinema do espaço-tempo de Abbas Kiarostami.
"Djomeh", de Hassan Yektapanah, fica no meio do caminho, talvez mais para Ghobadi, que também não nega os planos longos,
mas olhando certamente para o
gênio de Kiarostami, que foi seu
mestre em "Gosto de Cereja", no
qual Yektapanah trabalhou como
diretor-assistente.
Tal herança polui um pouco o
fluxo de imagens que narra a
aventura romântica do imigrante
Djomeh no Irã. Porque discutir a
imagem não parece a praia de
Yektapanah, o que fica claro em
tomadas mais longas ou conceituais, como a da chaleira que faz a
água escorrer pela parede e a do
sol passando pelo buraco do balde. Quando a câmera se preocupa
menos em fazer uma poesia visual
a que seu diretor não é lá muito
capaz, o longa-metragem segue
bem o seu caminho.
Sem o esmero visual, fica a história de Djomeh, que sai do Afeganistão simplesmente porque
agrediu um dogma ao se apaixonar por viúva mais velha. Agredirá outro no Irã, ao se apaixonar
pela filha de um comerciante.
Quer pedir a mão da moça e, para
tal, pede ajuda ao chefe iraniano,
Mahmoud, que, aliás, o entende
melhor que seu colega afegão. Ele
nem quer retornar ao seu país, sabedor de que a família jamais o
compreenderá.
Interessante como este filme vai
de encontro ao discurso mofado
de um "Exílios", de Tony Gatlif,
por exemplo, onde a origem é a
meta para o casal se encaixar no
mundo. Djomeh, ao contrário,
tenta um encaixe por onde estiver, via afeto humano, além das
fronteiras e tradições locais e fiel a
uma globalização nada retórica.
Daí que "Djomeh" cria um novo
viés no cinema iraniano, o da geografia existencial.
Djomeh
Djomeh
Direção: Hassan Yektapanah
Produção: Irã, 2002
Com: Jalil Nazari, Mahmoud Behraznia,
Mahbobeh Khalili
Quando: a partir de hoje no Frei Caneca Unibanco Arteplex
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