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Dantas é Sorin, o que nada fez
da Reportagem Local
Sorin, o irmão da diva Arkádina,
é o personagem de mais empatia
em "Da Gaivota", como diz o
próprio ator, Nelson Dantas. É um
burocrata aposentado, que olha
para trás e vê os sonhos que não
concretizou. Para Dantas, é o mais
simples de toda a peça.
(NS)
Folha - Como você construiu o
Sorin? Imagino que tenha incorporado falas dos personagens cortados.
Nelson Dantas - É uma aglutinação, uma adaptação da dramaturgia. Mas ele já é assim, um pouco pelo temperamento. Um camarada que aquilo que ele diz não...
Ele diz no quarto ato: "Eu sou o
homem que quis. Eu quis isso, não
fiz. Quis aquilo, não consegui". Os
outros têm ambições, delírios. E o
Sorin é um cara pé-no-chão, um
pouco por falta de talento, um
pouco pela acomodação mesmo. É
um ponto de equilíbrio entre os
outros. Ele é essencialmente medíocre (ri). Mas é um medíocre
que tem o seu charme. Até por fugir ao narcisismo ou ao desespero
dos outros, ele passa a ser um personagem que tem um tipo especial
de empatia com o espectador. E fazer esse tipo de personagem não
tem muita dificuldade. É o mais
simples mesmo.
Folha - Mas ele seria, em princípio, aquele personagem pelo qual
o público entra na peça. Não é tão
fácil se identificar com Arkádina
ou Treplev.
Dantas - Que são muito fechados em si mesmos. Mas ele, na verdade, é tão autodescritivo como os
outros. Ele também se coloca como ele é, inclusive de uma maneira
repetitiva. Tanto que certas falas
que se repetiam, em vários atos, a
gente resumiu no quarto ato, dizendo que ele não fez, não persistiu. A única coisa que ele fez foi ser
um burocrata durante 20 anos.
Folha - Mas ele teve sonhos.
Dantas - Ele teve sonhos, mas
não teve tesão nem nada para fazer.
Folha - Como o tio Vânia.
Dantas - Como Vânia.
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