São Paulo, sexta, 10 de julho de 1998

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Dantas é Sorin, o que nada fez

da Reportagem Local

Sorin, o irmão da diva Arkádina, é o personagem de mais empatia em "Da Gaivota", como diz o próprio ator, Nelson Dantas. É um burocrata aposentado, que olha para trás e vê os sonhos que não concretizou. Para Dantas, é o mais simples de toda a peça. (NS)

Folha - Como você construiu o Sorin? Imagino que tenha incorporado falas dos personagens cortados.
Nelson Dantas -
É uma aglutinação, uma adaptação da dramaturgia. Mas ele já é assim, um pouco pelo temperamento. Um camarada que aquilo que ele diz não... Ele diz no quarto ato: "Eu sou o homem que quis. Eu quis isso, não fiz. Quis aquilo, não consegui". Os outros têm ambições, delírios. E o Sorin é um cara pé-no-chão, um pouco por falta de talento, um pouco pela acomodação mesmo. É um ponto de equilíbrio entre os outros. Ele é essencialmente medíocre (ri). Mas é um medíocre que tem o seu charme. Até por fugir ao narcisismo ou ao desespero dos outros, ele passa a ser um personagem que tem um tipo especial de empatia com o espectador. E fazer esse tipo de personagem não tem muita dificuldade. É o mais simples mesmo.
Folha - Mas ele seria, em princípio, aquele personagem pelo qual o público entra na peça. Não é tão fácil se identificar com Arkádina ou Treplev.
Dantas -
Que são muito fechados em si mesmos. Mas ele, na verdade, é tão autodescritivo como os outros. Ele também se coloca como ele é, inclusive de uma maneira repetitiva. Tanto que certas falas que se repetiam, em vários atos, a gente resumiu no quarto ato, dizendo que ele não fez, não persistiu. A única coisa que ele fez foi ser um burocrata durante 20 anos.
Folha - Mas ele teve sonhos.
Dantas -
Ele teve sonhos, mas não teve tesão nem nada para fazer.
Folha - Como o tio Vânia.
Dantas -
Como Vânia.



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