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MÚSICA/CRÍTICA
Músico britânico abriu o festival paulista acompanhado por orquestra, Arto Lindsay e Dani Siciliano
Choque de Herbert e banda leva mágica ao Sonar
GUILHERME WERNECK
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA
Foi uma noite de mágica e de
felizes acidentes a abertura do
sonarsound, com a apresentação
da Matthew Herbert Big Band,
anteontem em São Paulo, no Teatro Abril.
Mágica pela performance bem
humorada de Herbert e da banda,
pelas mudanças de clima a cada
nova canção, como se cada uma
das faixas mostradas tivesse uma
personalidade única que necessitasse de uma encenação quase coreográfica. E pelas sucessões de
truques visuais, que podiam ser
tanto vídeos, chuva de papel picado, o uso de cópias da edição de
anteontem do jornal norte-americano "USA Today" ou o espocar
de flashes de máquinas fotográficas, que, além de complemento
visual, se transformavam em matéria-prima para as manipulações
sonoras de Herbert.
Os felizes acidentes eram o choque das intervenções de Herbert
sobre o som da banda, composta
por uma seção rítmica clássica,
com piano, baixo e bateria, mais
cinco saxofones, quatro trompetes e quatro trombones, que foi
regida por Pete Wraight, o responsável pelos arranjos do único
disco da MHBB, "Goodbye
Swingtime".
Herbert abriu o show sozinho.
Entrou no palco carregando uma
xícara e um pires. Bateu um no
outro, sampleou o som e começou a introdução de "Turning Pages" enquanto a orquestra se posicionava e começava a tocar, com
Herbert primeiro interferindo no
som, aumentando e abaixando
determinadas seções da banda,
criando loops e choques entre o
som produzido ao vivo e aquele
manipulado no seu computador.
Era uma espécie de aquecimento, uma deixa para os ouvidos da
platéia se acostumarem ao som
que variava entre a clareza dos arranjos e as intervenções que às vezes produziam cacofonia e dissonâncias.
Depois de duas músicas só com
a orquestra, Herbert chamou ao
palco sua mulher, Dani Siciliano,
para cantar a política "Simple
Mind". Num jogo provocativo,
distribuiu fotocópias da edição do
dia do jornal "USA Today" para
cada um dos membros da banda,
que começaram a picar a página
em pedaços e a fazer guerra de papel, enquanto Dani cantava lindamente a letra que, no refrão, dizia:
"Você pode estar certo/ Que eu
não poderia estar mais do que
pronta/ Para simplesmente ser/
Diferente dessa hipocrisia".
No telão, um vídeo mostrava
páginas do jornal inglês "Daily
Mail", brincando primeiro com a
imagem de Margaret Thatcher e
depois com a imagem de Tony
Blair.
O primeiro-ministro britânico
foi o grande alvo da noite. Enquanto nesse vídeo aparecia com
um recorte de jornal em que se lia
"irresponsável, sim" saindo de
sua boca, como se ele estivesse
mostrando a língua, mais tarde,
na apresentação da música "Misprints", outro vídeo o mostrava
com cara aparvalhada, à la George
W. Bush, e colocava uma boca,
provavelmente a de Herbert, sobre a de Blair para dublar a letra,
também cantada por Dani, em
que um recorrente "não ouço a ficha cair" deixava a situação ainda
mais engraçada.
A outra participação especial da
noite foi a do brasileiro-americano Arto Lindsay, que cantou "Fiction", parceria sua com Herbert.
Lindsay, que se apresenta hoje no
sonar, é um mestre da música imprevisível e se mostrou totalmente à vontade num duelo com Herbert, dando deixas vocais perfeitas para que o líder da banda brincasse com o seu canto. Voltou no
fim do show para cantar um dueto com Dani Siciliano.
Herbert, contudo, deu um show
à parte. Tocou acordeom, sampleou máquinas fotográficas, bexigas esvaziando, foi brilhante em
suas desconstruções do som da
orquestra, que tocou com muito
mais intensidade do que em
"Goodbye Swingtime". Um show
difícil de esquecer.
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