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"Jardineiro" não tem chance, diz diretor
DA ENVIADA A VENEZA
Quando terminou a entrevista
coletiva de "O Jardineiro Fiel" ontem, no Festival de Veneza, dezenas de repórteres se precipitaram
até a mesa, em busca de um autógrafo ou uma foto com o diretor
brasileiro Fernando Meirelles e os
atores Ralph Fiennes e Rachel
Weisz.
A maioria das perguntas -feitas por jornalistas da Itália, da
Austrália, da Inglaterra, dos EUA
e da Espanha- foi dirigida ao diretor e acompanhada de um simpático comentário ao filme. Exceto no caso de um jornalista italiano, que desaprovou a montagem
"acelerada demais" e "o excesso
de cenas com a câmera na mão".
Meirelles disse que, uma vez
que havia decidido filmar no Quênia, onde não há indústria de cinema desenvolvida, ele tinha a alternativa de "transportar para lá
caminhões de equipamento, ou
filmar com as características do
cinema documental -equipe reduzida e câmera na mão". Ficou
com a segunda.
A denúncia de comportamento
antiético da indústria farmacêutica contida no filme foi o ponto
mais abordado na meia hora de
entrevista. Fiennes disse que "a
chave da questão é a acessibilidade [das populações africanas] aos
medicamentos" e afirmou acreditar no poder do filme de "fazer levar as pessoas a descobertas e a se
fazer perguntas".
Para Meirelles, "a política de
preços da indústria farmacêutica"
adotada na África é "o maior problema". O diretor contou que fez
longa pesquisa sobre o assunto e
filmou um documentário de dez
minutos sobre a questão. Mas
percebeu que o filmete não encaixava bem na edição de "O Jardineiro Fiel". Decidiu deixá-lo apenas para o DVD.
Depois de ressalvar que "nem
tudo é diabólico" no universo da
indústria farmacêutica, Weisz
afirmou que considera importante o aspecto do filme que aponta
para o papel dos governos.
Possíveis semelhanças e as diferenças entre "Cidade de Deus" e
este novo longa de Meirelles, desta vez assinado por um estúdio internacional, também foram alvo
da curiosidade dos jornalistas. Ao
citar as diferenças, Meirelles disse:
"É ótimo ser rico". O dinheiro investido na produção de "Cidade
de Deus" (R$ 3,5 milhões) é uma
fração do orçamento de "O Jardineiro Fiel" -US$ 25 milhões (R$
57,9 milhões).
Mesmo com a acolhida favorável da imprensa (costumeiramente menos generosa do que o público), Meirelles disse à Folha que
"O Jardineiro Fiel" não tem chances de vencer o Leão de Ouro. O
diretor tem vôo marcado para as
19h de hoje -horário de início da
premiação. Ele tomará o caminho
do aeroporto, a menos que a organização do festival lhe indique a
direção do tapete vermelho.
(SA)
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