São Paulo, sábado, 10 de setembro de 2005

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"Jardineiro" não tem chance, diz diretor

DA ENVIADA A VENEZA

Quando terminou a entrevista coletiva de "O Jardineiro Fiel" ontem, no Festival de Veneza, dezenas de repórteres se precipitaram até a mesa, em busca de um autógrafo ou uma foto com o diretor brasileiro Fernando Meirelles e os atores Ralph Fiennes e Rachel Weisz.
A maioria das perguntas -feitas por jornalistas da Itália, da Austrália, da Inglaterra, dos EUA e da Espanha- foi dirigida ao diretor e acompanhada de um simpático comentário ao filme. Exceto no caso de um jornalista italiano, que desaprovou a montagem "acelerada demais" e "o excesso de cenas com a câmera na mão".
Meirelles disse que, uma vez que havia decidido filmar no Quênia, onde não há indústria de cinema desenvolvida, ele tinha a alternativa de "transportar para lá caminhões de equipamento, ou filmar com as características do cinema documental -equipe reduzida e câmera na mão". Ficou com a segunda.
A denúncia de comportamento antiético da indústria farmacêutica contida no filme foi o ponto mais abordado na meia hora de entrevista. Fiennes disse que "a chave da questão é a acessibilidade [das populações africanas] aos medicamentos" e afirmou acreditar no poder do filme de "fazer levar as pessoas a descobertas e a se fazer perguntas".
Para Meirelles, "a política de preços da indústria farmacêutica" adotada na África é "o maior problema". O diretor contou que fez longa pesquisa sobre o assunto e filmou um documentário de dez minutos sobre a questão. Mas percebeu que o filmete não encaixava bem na edição de "O Jardineiro Fiel". Decidiu deixá-lo apenas para o DVD.
Depois de ressalvar que "nem tudo é diabólico" no universo da indústria farmacêutica, Weisz afirmou que considera importante o aspecto do filme que aponta para o papel dos governos.
Possíveis semelhanças e as diferenças entre "Cidade de Deus" e este novo longa de Meirelles, desta vez assinado por um estúdio internacional, também foram alvo da curiosidade dos jornalistas. Ao citar as diferenças, Meirelles disse: "É ótimo ser rico". O dinheiro investido na produção de "Cidade de Deus" (R$ 3,5 milhões) é uma fração do orçamento de "O Jardineiro Fiel" -US$ 25 milhões (R$ 57,9 milhões).
Mesmo com a acolhida favorável da imprensa (costumeiramente menos generosa do que o público), Meirelles disse à Folha que "O Jardineiro Fiel" não tem chances de vencer o Leão de Ouro. O diretor tem vôo marcado para as 19h de hoje -horário de início da premiação. Ele tomará o caminho do aeroporto, a menos que a organização do festival lhe indique a direção do tapete vermelho. (SA)


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