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LIVROS
MÚSICA
Compositor atualiza obra de 1992 e amplia sua análise sobre o samba
Nei Lopes conta em livro a história oral do partido-alto
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Quem se diverte com os sucessos de Zeca Pagodinho pode não
saber, mas boa parte do que ele
canta está assentada em uma tradição chamada partido-alto. O
novo livro do escritor e compositor Nei Lopes explica isso para os
não-iniciados no samba e satisfaz
um anseio dos iniciados.
"Partido-Alto - Samba de Bamba", que está sendo lançado pela
Pallas, é uma versão ampliada,
atualizada e bem modificada de
um livro de Lopes que a mesma
editora publicou em 1992 e que
está fora de catálogo: "O Negro no
Rio de Janeiro e Sua Tradição Musical - Partido-Alto, Calango,
Chula e Outras Cantorias".
"[No novo livro] Eu estendo a
análise dos núcleos de expansão
da tradição do partido-alto, notadamente a zona portuária do Rio.
E atualizo o "Negro no Rio..." a
partir, inclusive, de estudiosos estrangeiros, como o [norte-americano] Philip Galinsky, que defendeu uma alentada tese sobre "pagode" nos EUA, e o [colombiano]
Alejandro Ulloa, que comparou
as "fiestas de solar" na América
hispânica com os pagodes de fundo de quintal", explica Lopes, 63.
Ele também colheu informações em duas novas entrevistas:
com o bem-sucedido Dudu Nobre e com Tantinho da Mangueira, guardião da tradição verde-e-rosa de partido-alto, representada
por nomes como Xangô, Zagaia e
Padeirinho.
"O advento da modernidade na
tradição do partido-alto parece
efetivamente marcado por um
nome: Osvaldo Vitalino de Oliveira, o Padeirinho", escreve Lopes
em um dos trechos em que, como
costuma fazer, restaura a importância de nomes do samba que
acabaram esquecidos por não terem feito carreira comercial.
Nesse ponto, instala-se um dos
problemas do partido-alto: como
é uma corrente do samba marcada fundamentalmente pela improvisação -com um refrão funcionando como senha melódica e
temática para que se criem versos
na hora-, o que fazer para torná-la mais conhecida sem trair suas
bases?
"Acho que a viabilidade comercial está exatamente em não ser
improvisado. Veja os exemplos
dos sambas iniciais [dos anos 60]
do Martinho da Vila. São partidos
estilizados ou sambas inspirados
na tradição do partido-alto. Fizeram grande sucesso, como os do
Zeca também fazem", explica Nei
Lopes.
Ele explica assim -e em detalhes- como o partido-alto sobrevive hoje. Um samba de Zeca ou
Martinho tem, freqüentemente, a
estrutura básica do partido, com
um refrão e "segundas partes",
mas os versos, quando gravados,
já não são mais improvisados.
"O partido-alto é bonito quando formalmente bem fincado na
tradição, independentemente de
ser ou não de improviso. Improviso, mesmo, é na cantoria nordestina, com aquelas regras todas,
com aquele rigor formal e técnico
impressionante. Partido-alto é
mais brincadeira."
No livro, Lopes esmiuça as origens rurais (mineiras, baianas,
paulistas) do partido-alto e sua
presença nas zonas urbanas através dos portuários do Rio e de artistas como Clementina de Jesus e
Candeia.
Partido-Alto - Samba de Bamba
Autor: Nei Lopes
Editora: Pallas
Quanto: R$ 38 (264 págs.)
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