São Paulo, sábado, 10 de setembro de 2005

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LIVROS

MÚSICA

Compositor atualiza obra de 1992 e amplia sua análise sobre o samba

Nei Lopes conta em livro a história oral do partido-alto

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Quem se diverte com os sucessos de Zeca Pagodinho pode não saber, mas boa parte do que ele canta está assentada em uma tradição chamada partido-alto. O novo livro do escritor e compositor Nei Lopes explica isso para os não-iniciados no samba e satisfaz um anseio dos iniciados.
"Partido-Alto - Samba de Bamba", que está sendo lançado pela Pallas, é uma versão ampliada, atualizada e bem modificada de um livro de Lopes que a mesma editora publicou em 1992 e que está fora de catálogo: "O Negro no Rio de Janeiro e Sua Tradição Musical - Partido-Alto, Calango, Chula e Outras Cantorias".
"[No novo livro] Eu estendo a análise dos núcleos de expansão da tradição do partido-alto, notadamente a zona portuária do Rio. E atualizo o "Negro no Rio..." a partir, inclusive, de estudiosos estrangeiros, como o [norte-americano] Philip Galinsky, que defendeu uma alentada tese sobre "pagode" nos EUA, e o [colombiano] Alejandro Ulloa, que comparou as "fiestas de solar" na América hispânica com os pagodes de fundo de quintal", explica Lopes, 63.
Ele também colheu informações em duas novas entrevistas: com o bem-sucedido Dudu Nobre e com Tantinho da Mangueira, guardião da tradição verde-e-rosa de partido-alto, representada por nomes como Xangô, Zagaia e Padeirinho.
"O advento da modernidade na tradição do partido-alto parece efetivamente marcado por um nome: Osvaldo Vitalino de Oliveira, o Padeirinho", escreve Lopes em um dos trechos em que, como costuma fazer, restaura a importância de nomes do samba que acabaram esquecidos por não terem feito carreira comercial.
Nesse ponto, instala-se um dos problemas do partido-alto: como é uma corrente do samba marcada fundamentalmente pela improvisação -com um refrão funcionando como senha melódica e temática para que se criem versos na hora-, o que fazer para torná-la mais conhecida sem trair suas bases?
"Acho que a viabilidade comercial está exatamente em não ser improvisado. Veja os exemplos dos sambas iniciais [dos anos 60] do Martinho da Vila. São partidos estilizados ou sambas inspirados na tradição do partido-alto. Fizeram grande sucesso, como os do Zeca também fazem", explica Nei Lopes.
Ele explica assim -e em detalhes- como o partido-alto sobrevive hoje. Um samba de Zeca ou Martinho tem, freqüentemente, a estrutura básica do partido, com um refrão e "segundas partes", mas os versos, quando gravados, já não são mais improvisados.
"O partido-alto é bonito quando formalmente bem fincado na tradição, independentemente de ser ou não de improviso. Improviso, mesmo, é na cantoria nordestina, com aquelas regras todas, com aquele rigor formal e técnico impressionante. Partido-alto é mais brincadeira."
No livro, Lopes esmiuça as origens rurais (mineiras, baianas, paulistas) do partido-alto e sua presença nas zonas urbanas através dos portuários do Rio e de artistas como Clementina de Jesus e Candeia.


Partido-Alto - Samba de Bamba
Autor:
Nei Lopes
Editora: Pallas
Quanto: R$ 38 (264 págs.)



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