São Paulo, sábado, 10 de setembro de 2011 |
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CRÍTICA INFANTOJUVENIL "Fábulas" de Coelho não suscitam reflexões Adaptação de clássicos carece de ironia e charme; reedições com guias didáticos seguem método ultrapassado AO CONTRÁRIO DO QUE SE ESPERA DO GÊNERO FÁBULA, FALTA-LHE O TEMPO DA RECEPÇÃO, DE PARAR NO CORPO DAS FRASES MÔNICA RODRIGUES DA COSTA ESPECIAL PARA A FOLHA De leitura rápida, as "Fábulas" de Paulo Coelho têm modelo similar ao de mensagens de internet, sem explorar recursos expressivos que suscitem reflexões. A ação se desenrola e acaba rapidamente, no estilo coloquial e direto dos romances e novelas de Coelho. Ao contrário do que se espera do gênero fábula, falta-lhe o tempo da recepção, de parar no corpo das frases, observar-lhes os truques de linguagem. O autor reescreve 96 contos exemplares, cuja estrutura consiste em breve introdução, seguida de diálogos mostrando animais e seres humanos em situações de desafio ou conflito. O leitor acaba de ler como se tivesse consultado enciclopédia com verbetes. As ilustrações -de Alarcão- obedecem ao mesmo princípio, de revelar minimamente o contexto. O que parece importar em "Fábulas" é a marca Paulo Coelho. Operação oposta à do francês Jean de La Fontaine, que no século 17 reinventou o gênero usando animais para representar políticos e criticar o comportamento da corte, incluindo figuras de todas as classes sociais e descrições etiológicas que funcionam como pistas para decifrar a natureza moral das histórias. Sem o charme dos recontos de Monteiro Lobato, com comentários inteligentes da boneca Emília -interferência lúdica e irônica na narrativa clássica, também adotada por Italo Calvino em "Fábulas Italianas". Nas versões de Coelho, o leitor desconhece características da sociedade representada, o que ajudaria a entender a situação escolhida como exemplar para o "nosso tempo", como prometido. Em "A Cigarra e as Formigas", o inverno é "belo", mas contrapõe-se ao verão e faz a cantora sofrer com o frio e implorar por comida à formiga sem entendermos a razão. A seção "Roteiro Didático", incluída em livros adultos de Coelho a fim de atrair o jovem, sofre do mesmo método de empobrecimento dos constituintes da obra de ficção. A finalidade parece a mesma de "Fábulas": conquistar o lucrativo mercado de livros paradidáticos. O "Estudo da Obra" segue a metodologia da paráfrase, abandonada há quase um século pelos professores de literatura comparada. Essa forma de reescrever o texto solicita ao aluno apenas rememorar características emotivas dos personagens ou a descrição de cenas, sem atentar para jogos estilísticos que modelam a narrativa. Resta a pergunta que não quer calar: quem legitima tal intromissão na literatura de formação de um país? MÔNICA RODRIGUES DA COSTA é jornalista, poeta e doutora em comunicação e semiótica pela PUC/SP. FÁBULAS AUTOR Paulo Coelho EDITORA Saraiva/Benvirá QUANTO R$ 24,90 (128 págs.) AVALIAÇÃO regular EDIÇÕES DIDÁTICAS QUANTO R$ 24,90 AVALIAÇÃO ruim Texto Anterior: Autor fará 25 anos de carreira em nova editora Próximo Texto: Oitava Bienal do Mercosul reúne "agressões" às bandeiras Índice | Comunicar Erros |
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