São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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DECORAÇÃO

Para o norte-americano Ron Pompei Casa Cor 2004 apresenta muitos conceitos sem se preocupar com conforto

Arquiteto não se sente em casa na mostra

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Muitas idéias e pouco conforto. Foi essencialmente essa a impressão que o arquiteto norte-americano Ron Pompei, 57, teve durante a visita que fez a pedido da Folha à exposição Casa Cor 2004.
Entre as principais críticas do arquiteto, responsável entre outros pelo design interior de lojas como Levi's, Urban Outfitters e Anthropologie, nos EUA, estão o excesso de objetos -conseqüência de uma maior presença de patrocinadores nesta edição- e a falta de diálogo entre eles.
"Há tantos conceitos diferentes sendo apresentados de uma só vez que eles começam a competir uns com os outros", resumiu Pompei, cuja principal proposta é justamente criar espécies de "colagens tridimensionais" que levem o visitante a se sentir "culturamente integrado" no ambiente.
"O problema não é misturar coisas de modo eclético, mas é necessário muita sensibilidade para isso", afirmou. "É necessário os olhos de um artista para misturar estilos, materiais, tecidos para que tudo pareça harmonioso."
O primeiro "choque" estético do americano foi logo no primeiro cômodo oficial da casa, uma mansão do Morumbi de 2.900 m2 construída na década de 70 e mais tarde transformada em um pequeno clube de luxo. "Há algo de esquizofrênico aqui. Os materiais não têm relação entre si, são pesados, extremamente dramáticos", disse referindo-se ao hall de entrada criado pelo arquiteto paulista Léo Shehtman.
Na sala de estar, projetada por Marcelo Rosenbaum, Pompei também se sentiu incomodado. "O quarto é pequeno demais para algo desse tamanho", falou, em referência aos grandes sofás modulares de veludo, que ocupam boa parte do espaço da sala. As paredes, que mantêm a pintura inacabada, chegaram perto do gosto do americano: "Parece algo bom para alguém que tem crianças em casa. Mas eu não penduraria tantas coisas, deixaria o espaço livre para que as paredes fossem desenhadas e repintadas. Seria um bocado divertido".
Apesar do criticismo, quase todo ele voltado para a justaposição de texturas opostas, como um forro de bambu contra um piso de pedra polida ali, uma estante moderna contra uma penteadeira tradicional acolá, o arquiteto americano disse que daria uma nota sete à exposição completa.
"Não quero parecer implicante. Uma das coisas difíceis em uma mostra desse tipo, que é quase um showroom, é ser uma oportunidade única para esses profissionais. As pessoas tendem a querer colocar tudo o que puderem, têm medo de editar e deixar algumas coisas de fora", avalia. "Parece haver também uma presença forte do merchandising. Essa aproximação do comercial com o artístico, a obrigação de usar todas aquelas informações, muitas vezes atrapalha o arquiteto."
Entre os destaques positivos desta que é a 18ª edição da Casa Cor, Pompei incluiu o spa de João Armentano, a sala de cinema de Roberto Migotto, o café de Sig Bergamin e a piscina, decorada pelo paisagista Gilberto Elkis.
"A área da piscina é coerente com os jardins. A gente tem de se lembrar de como o nosso olho fica maravilhado com a natureza. Pedra, madeira, cerâmica, todas essas coisas juntas com a água."
Para ele, o uso de materiais reciclados e ecologicamente corretos foi outro dos acertos do evento.
Coordenada pela dupla de arquitetos Deborah Stock e Gustavo Horta, a Casa Cor 2004 fica aberta à visitação até o próximo 2 de novembro. São ao todo 85 ambientes, criados por profissionais de todas as partes do país.


CASA COR 2004. Onde: marginal Pinheiros, km 14,5, Morumbi, SP, tel. 0/ xx/ 11/3819-1411. Quando: de ter. a dom., das 12h às 20h. Até 2/11. Quanto: R$ 30. Estudantes com carteira da UNE e UBES e maiores de 60 anos pagam meia. Grátis para crianças de até 12 anos. Estac.: R$ 15.


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