São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTES PLÁSTICAS

Visitantes da mostra que ocorre em São Paulo recebem dicas e ajuda em roteiros para ganhar tempo

Público aproveita o monitor como guia e "atalho" na Bienal

GUSTAVO FIORATTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um grupo de executivos, não mais de dez, desloca-se a passos lentos pelo segundo andar da Bienal, até estacionar em frente a um trabalho do alemão Thomas Demand, uma foto com cerca de três metros de largura que retrata o que parece ser um arbusto.
Entre os visitantes em roupas sociais circula uma jovem vestida informalmente de jeans. Posicionada entre o grupo e a obra, dispara: "Na semana passada, vi uma coisa nesta peça que me agradou. Queria que descobrissem o que é". Os executivos se movimentam em busca de soluções para a charada; nada descobrem. É a hora de a jovem entrar em ação e revelar o truque ilusionista do artista: uma pequena maquete de um arbusto feito com papel verde foi transformada em objeto de admiração estética por meio do recurso de fotografar e ampliar a imagem.
Com informações qualificadas, além de técnica para instigar o visitante, a jovem integra o grupo de 300 estudantes de artes plásticas, design, desenho industrial e jornalismo contratados pela Fundação Bienal para instruir e guiar o público através dos mais de 25 mil m2 pelos quais se espalham obras de 135 artistas que participam da Bienal de São Paulo, aberta até o dia 19 de dezembro.
Do ponto de vista do visitante, o número grande de monitores, seus variados tipos de formação, além dos diferentes graus de instrução (dentro do grupo, há estudantes quase formados e outros ainda no primeiro ano de faculdade) produzem a impressão de um serviço desigual em quem visita a mostra sob a orientação deles.
"Gostei muito da monitoria. O rapaz que nos acompanhou nos deu a oportunidade de comentar as obras. Deixou que as pessoas fizessem suas próprias leituras, formulou questões e só depois deu as respostas", avalia a professora universitária Filomena Moita, 56.
Dela discorda o professor de artes Alexandre Othon, 29, para quem o serviço não correspondeu à expectativa: "Comecei a visita acompanhando um monitor, mas o rapaz passava direto por algumas obras interessantes. Também tive a impressão de que ele se baseava muito em suas próprias opiniões e impressões. Não fiquei nem cinco minutos".
Esse desequilíbrio é reconhecido pelos próprios monitores, que por sua vez tentam se defender das críticas. "Muitos de nós não estão acostumados ao serviço. Mas as pessoas têm que saber também que a gente aprende muita coisa durante a exposição e que nosso trabalho amadurece aos poucos", explica Mariana (nome fictício; os funcionários presentes em ambos os textos desta página não são autorizados pela organização da Bienal a conceder entrevistas).
Segundo a monitora, para que o serviço seja aprimorado, os monitores participam de reuniões diárias em que podem esclarecer dúvidas e trocar experiências. "Fizemos um curso de três semanas para poder trabalhar como monitores, mas só entramos em contato com as obras na abertura da Bienal, há duas semanas."
Além dessa progressão, a organização busca aperfeiçoar as linguagens dos monitores para atender a públicos diversos. Para monitorar os grupos formados com antecedência, encontram-se estudantes com aptidões específicas. Alguns gostam mais de lidar com adolescentes; alguns têm mais jeito com idosos.
Sensibilidade também é essencial para quem monitora grupos formados pelo público espontâneo (visitantes que chegam individualmente). "Não é simples adaptar a linguagem para pessoas de diferentes níveis culturais. Você tem que arrumar um meio-termo", afirma Ricardo.
A expectativa do público sobre o trabalho dos monitores acaba moldando o serviço a outras funções. Muitas vezes, eles têm de exercer o papel de instrutor como um trabalho secundário.
Alguns visitantes procuram a monitoria com o objetivo de ver a exposição em tempo econômico, e o monitor acaba trabalhando como indicador de obras importantes. "Eu não tinha muito tempo e, quando entrei na Bienal, não sabia por onde começar. A monitoria foi excelente", diz a designer de moda Cristiane Bortoluzzi.



Texto Anterior: Decoração: Arquiteto não se sente em casa na mostra
Próximo Texto: Seguranças ensinam e contêm visitantes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.