São Paulo, sexta-feira, 10 de novembro de 2000

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Empresário pode processar "Grupo dos Seis"

DA REPORTAGEM LOCAL

O episódio da saída do Grupo dos Seis do festival foi visto como um mal-entendido por Roberto Medina, mas o empresário não descarta acionar as bandas judicialmente. Abaixo, o empresário dá sua versão para o desentendimento entre bandas e produção.

Folha - A negociação com as bandas que anunciaram a saída do festival pode ser considerada descartada?
Roberto Medina -
Completamente descartada. Já até contratei novas bandas. Eu não posso anunciar por que falta assinar os contratos, cumprir as formalidades.

Folha - Você teve alguma dificuldade em conseguir outra bandas?
Medina -
Não. Tinha filas.

Folha - Quando é que você contratou?
Medina -
Ontem, por que eu esperei até a última hora

Folha - Vocês voltaram a falar no assunto?
Medina -
Eu falei até o momento em que me pareceu razoável. Esperei uma semana. Achava que eles iam cair na real e não caíram. Um festival com 159 bandas não vai ficar esperando...

Folha - Você acha que essas bandas vão fazer falta?
Medina - Todos fazem falta e nenhum faz falta nenhuma. As pessoas são motivadas a ir a um evento desses por vários fatores: pela festa, o namoro, a azaração. Isso é mais do que qualquer banda.

Folha - Porque o festival não teve esse engajamento social nas edições anteriores? O senhor acha que está tão diferente a realidade do Brasil hoje em relação à época em que ocorreram as outras edições do Rock in Rio, em 85 e 91?
Medina -
No primeiro, eu era um empresário que tinha vontade de fazer um movimento que botasse a cara do meu país para fora, um evento extraordinário, internacional. Esse era o meu sonho e foi atrás disso que eu corri. Não estava pensando em nada a não ser isso. Foi um projeto muito duro, um projeto pioneiro, a história da música no Brasil começou a ir a sério a estrutura técnica brasileira é uma das melhores do mundo.

Folha - Como vão ser os três minutos de silêncio que estão programados para o dia de abertura? As emissoras de rádios e as redes abertas de TV, fora as educativas, não têm exatamente um perfil de benevolência. Qual o custo disso?
Medina -
Eu não posso te dar o número, mas é completamente insignificante. Deve dar uns 3% de toda campanha de comunicação.

Folha - Como esse espaço vai ser usado?
Medina -
Com imagens de confraternização e de pessoas que de alguma forma alteraram o mundo: Madre Tereza de Calcutá

Folha - Isso já foi produzido? Os produtores que foram motivo de queixa foram afastados?
Medina -
Quando eles vieram até mim, essas pessoas não estavam fazendo mais o trabalho. Elas só tinham a tarefa de contratar. Tem aí 21 bandas nacionais, bandas extremamente felizes com o tratamento dada para elas. É muito natural que aconteça mal entendidos, que tenha pressão. Procurei ouvir as outras bandas e todo mundo com que eu falei estava entusiasmado com o tipo de tratamento que eu estava dando.

Folha - Uma das queixas dos grupos era de que hoje as bandas nacionais têm mais importância no mercado fonográfico que as estrangeiras e podem levar mais público que elas, mas estavam tendo tratamento inverso. Você considera que as atrações internacionais tem mais importância que as nacionais?
Medina -
Eu não considero isso. A principal importância dele é ser uma festa. Dois: é evento social. Três: a musicalidade brasileira é fundamental e eu vou prestigiar sempre. Quatro: faz uma pesquisa e pergunta se o cara vai no Rock in Rio por causa da atração nacional ou internacional. Ninguém vai dizer que vai por causa do nacional. Eu tenho mais artistas brasileiros que estrangeiros. A única coisa é que a gente não pode fazer todas as coisas para todas as pessoas.

Folha - Quando você diz que o festival é um evento de corpo internacional está se referindo a que exatamente?
Medina -
É um evento transmitido internacionalmente. Internacional não quer dizer não-nacional. As bandas brasileiras vão estar disputando um lugar espetacular, podendo exportar suas músicas internacionalmente em um momento em que o mercado da música latina nos Estados Unidos é do tamanho do estado brasileiro. A gente vai fazer um serviço que não tem tamanho. Para mim a primeira coisa é a batalha pela música brasileira.

Folha - Você acha que as queixas das bandas que quiseram se desligar do evento não têm fundamento?
Medina -
Eles diziam que não tinham bom relacionamento com a empresa que fazia os contratos. Pode ser, mas eu não presenciei isso.

Folha - A queixa deles é de que era o trato com o Rappa não foi cumprido. Você conhece esse trato?
Medina -
Não, mas se é isso é um erro nosso. Eles estavam insatisfeitos, mas a produção precisava fechar a grade toda para discutir cada caso. Aí eles se revoltaram. Pode ter fundamento mas não precisava ir a lugar nenhum

Folha - Você descarte qualquer diferença de tratamento entre bandas nacionais e estrageiras?
Medina -
O tratamento é igual. Não tem nada diferente. Até no camarim tudo é igual.

Folha - Por que os cachês são iguais para os brasileiros (R$ 20 mil) e diferenciados para os estrangeiros?
Medina -
Os cachês dos estrangeiros têm um padrão internacional. Os nacionais estão colaborando com a causa social Os estrangeiros não têm nada a ver com isso, com a nossa realidade. Eles não querem nem saber, não têm que estar inseridos no contexto nacional.

Folha - Em algum momento vocês cogitaram de processar os empresáris e as bandas ?
Medina -
Eu vou pensar nisso com mais calma, daqui a uns quinze dias.

Folha - Mas isso não quer dizer que você descarte a hipotese?
Medina -
Não, eu não descarto. Minha vontade é de encontrar um caminho legal.

Folha - Você acha que esse episódio arranhou a imagem do festival?
Medina -
Mau entendidos acontecem sempre. Eu nem lembro mais disso.


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