São Paulo, sexta-feira, 10 de novembro de 2006

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Alcino Leite Neto - ultima.moda@folha.com.br

Jeans brasileiro vai à luta

Zoomp e Forum se reestruturam para enfrentar grifes estrangeiras

Duas das mais famosas e prestigiadas grifes brasileiras, a Zoomp e a Forum, estão passando por mudanças empresariais drásticas a fim de enfrentarem a crise que as atingiu nos últimos anos com as mudanças no consumo, as complicações econômicas do mercado de moda no país e a invasão do jeans premium importado, que afetou diretamente o coração comercial das duas marcas.
O estilista Tufi Duek, dono da Forum (criada em 1981), está reformulando todo o quadro de negócios do grupo e criando três marcas diferentes: Forum Jeans, Forum Tufi Duek e a grife Tufi Duek. Nos últimos dois anos, a Forum assistiu a uma queda de 15% nas suas vendas de jeans. O mercado chegou a comentar que a empresa estaria à venda. "Recebemos propostas, sim, mas não foram aceitas", conta Duek (leia mais sobre a Forum ao lado).
O estilista Renato Kherlakian também recebeu propostas para vender a Zoomp, empresa de moda pioneira que desde 1974 trabalha na sofisticação do jeans feito no Brasil. Como as coisas não estavam fáceis para a grife, com quedas de 8% no faturamento anual, ele aceitou, em julho deste ano, a oferta dos investidores Conrado Will e Enzo Monzani.
"Tivemos desacertos imperdoáveis nos últimos cinco anos e vínhamos com problemas contábeis bem sérios", diz Kherlakian, que vendeu todas as suas ações da empresa, por uma quantia que ele não revela, deixando de ser dono da Zoomp e passando a diretor de criação. As injeções de capital devem dar novo fôlego à grife, que reformula sua loja no shopping Iguatemi, termina uma outra no novo shopping Leblon, no Rio (ambas devem abrir até o final do mês), e pretende inaugurar mais quatro em 2007 - inclusive no Kuait.
Os novos planos envolvem uma forte estratégia de marketing para reativar a imagem da Zoomp no desejo do consumidor, uma nova lapidação do produto e investimentos "brutais" (nas palavras do estilista) na equipe de criação. "As novas coleções serão mais científica e mercadologicamente preparadas. Uma nova configuração da moda está surgindo no Brasil, não com tempestades, mas com céu de brigadeiro", diz.
O que está ocorrendo é a reestruturação do sistema inteiro da moda brasileira e mundial. As grifes já não conseguem se manter com a formação familiar ou personalista de sua origem. Os negócios, para sobreviverem, estão sendo transferidos para técnicos capazes de elaborar estratégias de marketing e vendas altamente profissionalizadas e agressivas.
Houve um tempo que não era exatamente assim. Quando Kherlakian fez o seu primeiro jeans, há 32 anos, o Brasil era um país mais provinciano, com raras importações no mercado de moda. Os principais rivais da Zoomp eram a calça 501 da Levi's e outras marcas nacionais -como a Soft Machine e a San Sebastian, hoje extintas.
A Zoomp dedicou-se exclusivamente ao jeans até o final dos anos 70, abrasileirando e modernizando o design das peças. Nos anos 80, Kherlakian passou a produzir uma linha casual chique. Pela equipe de criação da grife passaram estilistas hoje famosos, como Alexandre Herchcovitch e Jum Nakao.
Grandes investimentos de marketing buscaram internacionalizar a marca nos anos 90. A empresa chegou a ter oito escritórios na Europa e dois nos EUA. O sucesso foi tão grande, que ela começou a ter suas roupas pirateadas no Brasil, com nomes como Zoemp e Zaamp.
Nos últimos anos, a Zoomp parecia estar caminhando lentamente para o ostracismo. "Nós revolucionamos a modelagem do jeans, mas o Brasil foi aos poucos ficando para trás na tecnologia do produto e no marketing", diz o estilista.
A venda da empresa pretende reverter esta situação. "Apesar da crise, a imagem da marca nunca foi arranhada", afirma Kherlakian, 56. "Temos uma história, e isso é raro no meio da moda brasileira. Não vamos abrir mão dela. Zoomp é também um som que atravessa o futuro", diz.

O RAIO LISÉRGICO
O nome Zoomp nasceu durante uma viagem de ácido do estilista Renato Kherlakian. No final de 1973, ele tirou férias nas praias hippies de Macaé (RJ) e foi lá que "ouviu" o nome da marca.
"Achei que era um som que o universo fazia, misturado com a energização das moscas que havia no lugar." A logomarca, idealizada por Kherlakian, nasceu da estilização da letra "z" e de imagens das histórias em quadrinhos.

DUAS VEZES FORUM
A Forum, criada em 1981, tirou seu nome do idêntico termo latino que designa "praça pública". O logo tradicional foi criado em 1984 pelo designer Maurício de Oliveira. Com as mudanças na empresa, o nome será usado em duas diferentes marcas: a grife Forum e a Forum Tufi Duek

Forum ataca com 3 grifes

O estilista Tufi Duek, 51, fala das mudanças que está promovendo na Forum com a disposição de quem se prepara para uma batalha. "Não me lembro de um período sem guerra de mercado", diz. Desta vez ele parte para a luta não com uma arma, mas com três diferentes.
A Forum vai se desdobrar em três grifes que estarão todas em atividade em 2007. A Forum vai vender o jeanswear e o sportswear. A Forum Tufi Duek cuidará do prêt-à-porter. E a marca Tufi Duek será dedicada às roupas femininas de luxo. "Acessibilidade é o mote da primeira grife; seletividade, o da segunda; e exclusividade, o da terceira. Somos a primeira marca brasileira a segmentar mercados", diz o designer.
No shopping Iguatemi, já se pode encontrar duas filiais diferentes: a Forum e a Forum Tufi Duek. No ano que vem, o grupo divide a flagship da Oscar Freire entre essas duas marcas e inaugura, na mesma rua, a primeira loja Tufi Duek. Será também a única no Brasil a comercializar as roupas de luxo criadas pelo estilista, que já são vendidas na Europa e nos EUA.
Em janeiro, o grupo fará dois desfiles na São Paulo Fashion Week: o da Forum e o da Forum Tufi Duek -sem falar no da Triton, a linha juvenil da empresa. A grife Tufi Duek deve desfilar na semana de moda de Nova York a partir de 2007.
Segundo Duek, as mudanças são resultado da decisão de transformar sua empresa de produtora de roupas em gestora de marcas. Mas há outro motivo para as transformações. Nos últimos anos, a Forum viu suas vendas de jeans -que representam 80% do faturamento do grupo- caírem quase 15%. "Competir com redes de "fast fashion" e com marcas internacionais premium foi o que mais nos afetou. Agora, segmentados, vamos encarar os estrangeiros. Temos uma vantagem, que é a nossa grande rede de distribuição", afirma. O grupo Forum tem hoje 47 lojas próprias no Brasil e vende 500 mil calças jeans por ano.


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