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Última Moda
Alcino Leite Neto - ultima.moda@folha.com.br
Jeans brasileiro vai à luta
Zoomp e Forum se reestruturam para enfrentar grifes estrangeiras
Duas das mais famosas e
prestigiadas grifes brasileiras, a
Zoomp e a Forum, estão passando por mudanças empresariais drásticas a fim de enfrentarem a crise que as atingiu nos
últimos anos com as mudanças
no consumo, as complicações
econômicas do mercado de
moda no país e a invasão do
jeans premium importado, que
afetou diretamente o coração
comercial das duas marcas.
O estilista Tufi Duek, dono da
Forum (criada em 1981), está
reformulando todo o quadro de
negócios do grupo e criando
três marcas diferentes: Forum
Jeans, Forum Tufi Duek e a grife Tufi Duek. Nos últimos dois
anos, a Forum assistiu a uma
queda de 15% nas suas vendas
de jeans. O mercado chegou a
comentar que a empresa estaria à venda. "Recebemos propostas, sim, mas não foram
aceitas", conta Duek (leia mais
sobre a Forum ao lado).
O estilista Renato Kherlakian também recebeu propostas para vender a Zoomp, empresa de moda pioneira que
desde 1974 trabalha na sofisticação do jeans feito no Brasil.
Como as coisas não estavam fáceis para a grife, com quedas de
8% no faturamento anual, ele
aceitou, em julho deste ano, a
oferta dos investidores Conrado Will e Enzo Monzani.
"Tivemos desacertos imperdoáveis nos últimos cinco anos
e vínhamos com problemas
contábeis bem sérios", diz
Kherlakian, que vendeu todas
as suas ações da empresa, por
uma quantia que ele não revela,
deixando de ser dono da
Zoomp e passando a diretor de
criação. As injeções de capital
devem dar novo fôlego à grife,
que reformula sua loja no shopping Iguatemi, termina uma
outra no novo shopping Leblon, no Rio (ambas devem
abrir até o final do mês), e pretende inaugurar mais quatro
em 2007 - inclusive no Kuait.
Os novos planos envolvem
uma forte estratégia de marketing para reativar a imagem da
Zoomp no desejo do consumidor, uma nova lapidação do
produto e investimentos "brutais" (nas palavras do estilista)
na equipe de criação. "As novas
coleções serão mais científica e
mercadologicamente preparadas. Uma nova configuração da
moda está surgindo no Brasil,
não com tempestades, mas
com céu de brigadeiro", diz.
O que está ocorrendo é a
reestruturação do sistema inteiro da moda brasileira e mundial. As grifes já não conseguem
se manter com a formação familiar ou personalista de sua
origem. Os negócios, para sobreviverem, estão sendo transferidos para técnicos capazes
de elaborar estratégias de marketing e vendas altamente profissionalizadas e agressivas.
Houve um tempo que não era
exatamente assim. Quando
Kherlakian fez o seu primeiro
jeans, há 32 anos, o Brasil era
um país mais provinciano, com
raras importações no mercado
de moda. Os principais rivais da
Zoomp eram a calça 501 da Levi's e outras marcas nacionais
-como a Soft Machine e a San
Sebastian, hoje extintas.
A Zoomp dedicou-se exclusivamente ao jeans até o final dos
anos 70, abrasileirando e modernizando o design das peças.
Nos anos 80, Kherlakian passou a produzir uma linha casual
chique. Pela equipe de criação
da grife passaram estilistas hoje famosos, como Alexandre
Herchcovitch e Jum Nakao.
Grandes investimentos de
marketing buscaram internacionalizar a marca nos anos 90.
A empresa chegou a ter oito escritórios na Europa e dois nos
EUA. O sucesso foi tão grande,
que ela começou a ter suas roupas pirateadas no Brasil, com
nomes como Zoemp e Zaamp.
Nos últimos anos, a Zoomp
parecia estar caminhando lentamente para o ostracismo.
"Nós revolucionamos a modelagem do jeans, mas o Brasil foi
aos poucos ficando para trás na
tecnologia do produto e no
marketing", diz o estilista.
A venda da empresa pretende reverter esta situação. "Apesar da crise, a imagem da marca
nunca foi arranhada", afirma
Kherlakian, 56. "Temos uma
história, e isso é raro no meio
da moda brasileira. Não vamos
abrir mão dela. Zoomp é também um som que atravessa o
futuro", diz.
O RAIO LISÉRGICO
O nome Zoomp nasceu durante uma viagem de ácido do estilista
Renato Kherlakian. No final de 1973, ele tirou férias nas praias
hippies de Macaé (RJ) e foi lá que "ouviu" o nome da marca.
"Achei que era um som que o universo fazia, misturado com a
energização das moscas que havia no lugar."
A logomarca, idealizada por Kherlakian, nasceu da estilização da
letra "z" e de imagens das histórias em quadrinhos.
DUAS VEZES FORUM
A Forum, criada em 1981,
tirou seu nome do idêntico
termo latino que designa
"praça pública". O logo
tradicional foi criado em
1984 pelo designer Maurício
de Oliveira. Com as
mudanças na empresa, o
nome será usado em duas
diferentes marcas: a grife
Forum e a Forum Tufi Duek
Forum ataca com 3 grifes
O estilista Tufi Duek, 51, fala
das mudanças que está promovendo na Forum com a disposição de quem se prepara para
uma batalha. "Não me lembro
de um período sem guerra de
mercado", diz. Desta vez ele
parte para a luta não com uma
arma, mas com três diferentes.
A Forum vai se desdobrar em
três grifes que estarão todas em
atividade em 2007. A Forum
vai vender o jeanswear e o
sportswear. A Forum Tufi
Duek cuidará do prêt-à-porter.
E a marca Tufi Duek será dedicada às roupas femininas de luxo. "Acessibilidade é o mote da
primeira grife; seletividade, o
da segunda; e exclusividade, o
da terceira. Somos a primeira
marca brasileira a segmentar
mercados", diz o designer.
No shopping Iguatemi, já se
pode encontrar duas filiais diferentes: a Forum e a Forum
Tufi Duek. No ano que vem, o
grupo divide a flagship da Oscar
Freire entre essas duas marcas
e inaugura, na mesma rua, a
primeira loja Tufi Duek. Será
também a única no Brasil a comercializar as roupas de luxo
criadas pelo estilista, que já são
vendidas na Europa e nos EUA.
Em janeiro, o grupo fará dois
desfiles na São Paulo Fashion
Week: o da Forum e o da Forum Tufi Duek -sem falar no
da Triton, a linha juvenil da
empresa. A grife Tufi Duek deve desfilar na semana de moda
de Nova York a partir de 2007.
Segundo Duek, as mudanças
são resultado da decisão de
transformar sua empresa de
produtora de roupas em gestora de marcas. Mas há outro motivo para as transformações.
Nos últimos anos, a Forum viu
suas vendas de jeans -que representam 80% do faturamento do grupo- caírem quase
15%. "Competir com redes de
"fast fashion" e com marcas internacionais premium foi o que
mais nos afetou. Agora, segmentados, vamos encarar os
estrangeiros. Temos uma vantagem, que é a nossa grande rede de distribuição", afirma. O
grupo Forum tem hoje 47 lojas
próprias no Brasil e vende 500
mil calças jeans por ano.
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