EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Ter apreço pelo tom apocalíptico muitas vezes propagado pelo cinema, pela televisão ou ainda nos livros é um direito que todos têm. Mas tentar sustentar essa preferência a partir da ciência, por mais que ele tenha suas idiossincrasias é, no mínimo, um grande equívoco.
Tudo bem. O mundo parece finalmente ter acordado para a questão do aquecimento global. Junto disso, as previsões, mesmo as realistas, são sombrias. As doenças, a fome, a perda irreparável da biodiversidade ou o aumento do nível médio do mar não são mais apenas uma retórica dos ambientalistas radicais.
Mas é exatamente essa relação de mau gosto entre ciência, religião e apocalipse -e feita quase no tom de brincadeira - que a produção "Contagem Regressiva para o Armagedon" procura estabelecer. No pretenso documentário, o tom determinista, de que tudo estaria escrito nas Bíblias das várias religiões, é levado ao extremo.
A qualidade ambiental do planeta merece cuidados, mas entrar na linha do sensacionalismo religioso vai muito mais atrapalhar do que, de alguma forma, colaborar para que as futuras gerações possam ter um ar mais puro para respirar.
Neste momento, é o pragmatismo científico (incluindo, claro, os das ciências sociais) que poderá colaborar para algo.