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ABI cria Salão do Jornalista Escritor
Entidade reunirá em São Paulo alguns dos mais conhecidos escritores do país
DA REPORTAGEM LOCAL
A ABI (Associação Brasileira
de Imprensa) inaugura oficialmente na quarta-feira o 1º Salão Nacional do Jornalista Escritor, no Memorial da América
Latina, em São Paulo -iniciativa que abrirá as comemorações
do centenário da ABI, em 2008.
"A proposta é fazer um salão
anual, uma vez em São Paulo e
outra no Rio", explica o vice-presidente da entidade, Audálio Dantas, 78. "Hoje a produção de livros por jornalistas justifica um evento dessa natureza", que visa discutir "a questão
do jornalismo e literatura. Já
temos cadeiras de jornalismo
literário em várias faculdades".
O debate sobre o "jornalismo
literário" se avoluma num momento em que a literatura está
cada vez mais ausente dos jornais, observa Ruy Castro, 59,
colunista da Folha: "Houve um
tempo em que os jornais pululavam de grande crítica literária, folhetins, poemas, contos
etc. E, na época, ninguém falava em "jornalismo literário".
Hoje, falam tanto nisso e literatura, que é bom, não tem".
Na opinião do jornalista
Mauro Santayana, 75, esse distanciamento foi acompanhado
por um declínio do texto jornalístico: "Na minha geração, o
jornalismo era o caminho para
os jovens que sonhavam com
uma carreira literária. Por isso
havia mais jornalistas-escritores que hoje". Com o tempo, a
competição com a TV e a ênfase na lucratividade "reduziram
o cuidado com o texto, a fim de
privilegiar a urgência", até que
os jornalistas "foram vencidos
pela pausterização dos textos".
Para Audálio, essa evolução
no sentido de um noticiário
mais rápido está ligada à necessidade de reduzir custos: "Na
revista "Realidade", eu fiz uma
matéria na qual demorei 45
dias só na pesquisa do assunto.
O custo para se fazer uma publicação dessa natureza é alto".
O escritor Ignácio de Loyola
Brandão, 71, discorda: "A "Realidade" estava condenada pela
censura, que de todos os lados
cortava, vetava, proibia. Era
uma das mais lidas e mais bem
escritas revistas deste país -e a
mais corajosa. Todos os seus
temas eram polêmicos, provocativos. E era uma época que
não admitia polêmica". Mas
acrescenta: "Não sei se ela teria
espaço hoje. Talvez fosse séria
demais para um país como este. Era uma revista inteligente
demais para o país suportar".
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