TONY GOES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Há alguns anos, Seu Jorge fez sucesso com versões acústicas para antigas canções de David Bowie, incluídas na trilha de "A Vida Marinha com Steve Zissou" - filme no qual também participou como ator. Com apenas um violão e sua voz grave, o cantor carioca revelou a beleza discreta de músicas que haviam surgido na efervescência do glam rock, mas que andavam meio esquecidas.
Por isso, convidá-lo para revisitar Michael Jackson deve ter parecido uma boa ideia -o show teve renda revertida para o Instituto Criar, ONG do apresentador Luciano Huck. O artista negro mais badalado do Brasil no momento, relendo o repertório do artista negro mais badalado de todos os tempos? Tinha tudo para dar certo.
Mas não deu. Talvez temendo se repetir, Seu Jorge não se rendeu à fórmula do banquinho e violão. Além do mais, Caetano Veloso já vem reinterpretando Michael nesse formato há bastante tempo.
Confiante no próprio taco, Seu Jorge optou por seguir os arranjos originais à risca. E ainda trouxe para o palco uma verdadeira orquestra com 19 músicos, seu "conjuntão pesadão".
Todos tocaram com garra e competência, mostrando-se aptos a participar do show "This Is It".
Todos, menos um. Seu Jorge não tem nem o timbre nem o alcance de Michael Jackson. Seu desempenho no palco também carece de energia: ele construiu um personagem cool ao longo de sua carreira, quase blasé. E o homenageado era o oposto disto: Michael dançava, pulava, gritava, sem aparentar fazer muito esforço -mas fazia. Seu Jorge não faz, e isso também é aparente. Essa atitude "descolada" até funcionou nas músicas lentas, mais adequadas ao seu tom.
Mas nas agitadas o desastre foi total. Seu Jorge soava como um amador num karaokê, incapaz de imitar seu ídolo. E estava ciente disto: a todo momento ele pedia desculpas à plateia e ao próprio Michael. Pelo menos a primeira não as aceitou: o susbolo do hotel Unique foi esvaziando ao longo do espetáculo, que terminou com aplausos desanimados. Seu Jorge merece elogios por ter se arriscado tanto, mas quem se arrisca nem sempre petisca.