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Comida
Entrando numa fria
A partir de receitas clássicas, chefs de restaurantes paulistanos reinventam as sopas frias e contam como preparar esses pratos, ideais para o verão
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
A tomar como exemplo um
dos ícones da culinária do Norte do Brasil, o tacacá, caldo consumido quentíssimo mesmo
sob as mais altas temperaturas,
soa estranho falar em sopa fria.
Curiosamente, a origem de
clássicos como o gazpacho, a
vichyssoise e o borscht passa
longe dos trópicos -todos caldos consumidos frios e inventados em países do hemisfério Norte.
Mas por que não aproveitar a
estação quente para quebrar
esse paradigma alimentar brasileiro e testar receitas de sopas
frias criadas, a pedido da Folha,
por alguns chefs de cozinha?
Leve e colorido, um caldo de
tomates frescos é a sugestão de
José Barattino, chef do Emiliano. Servida fria, a entrada dispensa qualquer passagem pelo
fogo durante o preparo, tal qual
o gazpacho. Embora também
seja feita com tomate, pimentão e pepino, a comparação
com o prato espanhol pára por
aí. Nesta receita, o tomate não
é processado. Usa-se apenas
seu caldo, vertido através de
uma trouxa de pano após um
processo que dura oito horas.
"É bacana que os chefs façam
coisas mais coerentes com o
nosso clima. A sopa fria é uma
entrada interessante", diz Barattino. "As pessoas são tradicionais na hora de comer. Sopa
não é muito comum aqui no
Brasil, ainda mais se for fria.
Parece que tomar sopa no verão é difícil de entender."
O chef Yann Corderon, do
Azaït, propõe para os dias de
calor uma versão fria do crème
dubarry -originalmente consumido quente. À base de couve-flor, a receita é incrementada com ovas de salmão.
"É um creme saboroso e refrescante, e as ovas de salmão
dão um gosto mais exótico à receita, quebram um pouco o
gosto marcante da couve-flor.
É um contraste bom", diz Corderon. Mas atenção: "As ovas
devem ser servidas à parte. Se
juntar tudo no mesmo prato, fica esquisito, escuro".
Tailândia e Japão
Do Thai Gardens vem a indicação de uma versão fria da tom
kha khung, uma sopa picante
com leite de coco que é uma das
mais conhecidas na Tailândia,
país tropical tão sem tradição
no consumo de sopas frias
quanto o Brasil.
"Os tailandeses consomem
sempre produtos quentes, igual
aos baianos", diz o espanhol
Bernard Roca, sócio-proprietário do Thai Gardens. "O tom
kha é consumido quente e normalmente leva frango. Fizemos
essa adaptação para uma sopa
fria e substituímos o frango por
camarão."
O chef Shundi Kobayashi,
que abrirá no final de fevereiro
sua nova casa, o Original Shundi, no Itaim Bibi, propõe uma
adaptação do dobin mushi, sopa japonesa de frutos do mar
servida numa chaleira.
A dobin hiyashi supo (dobin
quer dizer chaleira de cerâmica, e hiyashi supo, sopa fria) é
preparada com dashi -caldo-base da culinária japonesa feito
com alga kombu e raspas de bonito seco- acrescido de shimeji, camarão, pescada branca e
cebolinha.
Leia as receitas de Shundi Kobayashi e Claude Troisgrois
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