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CINEMA
Série com seis capítulos dirigida por Amilcar M. Claro tem o primeiro episódio exibido no festival É Tudo Verdade
Longa traduz carreira de Antunes Filho
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO
São cerca de seis horas, um piscar de olhos para traduzir 52 anos
de carreira, mas uma eternidade
no acirrado tempo da televisão.
O documentário "O Teatro Segundo Antunes Filho", que o canal a cabo STV Rede SescSenac leva ao ar de 20 a 25 deste mês, sempre às 23h, incumbe-se de sintetizar a trajetória artística e o pensamento de um dos maiores encenadores do teatro brasileiro.
Trata-se de uma série de seis capítulos com 50 minutos cada um.
Os títulos estão subdivididos assim: "As Origens de um Artista",
"60, a Década das Transgressões",
"Desafios de um Tempo Duro",
"Mestre e Discípulos", "A Poética
do Mal" e "O Método".
A captação aconteceu entre junho e dezembro de 2001. A direção é de Amilcar M. Claro, sob
concepção de Raul Teixeira e roteiro de Sebastião Milaré.
Invariavelmente com um cachecol xadrez nos ombros e um
cachimbo na boca, o paulistano
José Alves Antunes Filho, 71, rememora sua relação com o teatro,
a começar pela experiência do
"moleque" Zequinha, que foi debutar como ator dirigido por Osmar Rodrigues Cruz.
Cita o período em que foi assistente de diretores estrangeiros no
Teatro Brasileiro de Comédia
(TBC), nos anos 50, caso do italiano Ruggero Jacobbi e do polonês
Zbigniew Ziembinski. Descreve a
realização do teleteatro da TV
Cultura, nos anos 70, com programas ao vivo. Estabelece o divisor
de águas "Macunaíma" (1978),
quando abandona os projetos do
"teatrão", mais comercial, em nome de uma prospecção que vai
culminar com a criação do Centro
de Pesquisa Teatral (CPT), em
1982, sob o signo de uma ética e de
uma estética sem concessões.
É o conhecido Antunes que trata o interlocutor como "bicho",
expressão dos anos 70, ao mesmo
tempo em que evoca Shiva, divindade que pode criar ou destruir o
mundo com um gesto, ou Jung,
que criou o conceito do "arquétipo", o inconsciente coletivo.
Atores como Laura Cardoso,
Luís Melo, Eva Wilma, Raul Cortez, Giulia Gam, Cacá Carvalho e a
nova geração do CPT, representada por Juliana Galdino e Emerson
Danesi, prestam depoimentos sobre a relação artística e, por vezes,
pessoal com Antunes.
O recorte estético ganha um
programa todo seu, "O Método",
sobre as teorias que norteiam o
trabalho de voz, de corpo e de
dramaturgia radicalizados na série "Prêt-à-Porter". "A criação artística é um parto. Tem de apanhar muito na cara. Se o cara é
convenientemente agradável, não
vai sair do lugar. Eu sempre fui
muito inconveniente, inoportuno, chato, curioso", afirma Antunes em uma das suas autocríticas.
A intenção de realizar um documentário sobre o encenador é antiga. Raul Teixeira, 38, idealizador
do projeto, costumava filmar em
VHS ensaios e encontros do CPT,
onde desempenha hoje a função
de sonoplasta. Segundo ele, a
idéia já existia cinco anos atrás.
"É muito difícil filmá-lo. O CPT
é um lugar meio sagrado. Antunes dizia: "Não gosto dessas coisas". Quando se fechou o método,
encontrei o Milaré, o Amilcar. Daí
formamos o trio."
Definindo o registro documental como "uma grande reportagem sobre a vida e o processo de
criação de um artista", o roteirista
do projeto, Sebastião Milaré, 56,
acredita que o vídeo antecipa, em
certos pontos, o livro que está escrevendo (sem prazo de conclusão) sobre o método de Antunes.
"A matéria é a mesma, só que o
vídeo é uma demonstração prática. Não entra tanto nos conceitos." Antes da concepção final, foi
elaborado um primeiro roteiro,
que só se completou com a captação de imagens e depoimentos.
Milaré escreveu "Antunes Filho
e a Dimensão Utópica" (1994), em
que trata da carreira do artista. Foi
a ele que Antunes concedeu a longa entrevista -oito horas gravadas em dois dias- editada e mostrada aos pedaços. "Quando ele
fala do passado, é mais linear. Já
quando chega à atualidade, não se
controla, volta a assuntos, é mais
conturbado", diz Milaré.
Uma das preocupações era saber se o encenador teria paciência
para enfrentar a maratona de perguntas. E, até, que apresentasse,
quando tudo estava pronto para
começar, uma eventual desistência. Deu, enfim, tudo certo. "Às
vezes, ele ficava meio ansioso, falava: "Pára, vamos logo". Ele faz
um teatro a que estou acostumado. Sei quando é brincadeira. Ele é
um provocador. Mas acabava fazendo o que a gente pedia. Ele fala
de uma forma no vídeo que a gente até desconhece. Ele se abriu
mesmo", afirma Teixeira.
O primeiro capítulo da série será exibido no É Tudo Verdade,
em SP e no Rio. O lançamento será na próxima terça, no Sesc Anchieta, para convidados.
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