São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2008

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Crítica/"Encanto"

Mendes repete oportunismo pop em "Encanto"

JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O pianista e arranjador Sergio Mendes será para sempre lembrado pelo seu oportunismo. Foi talvez o músico que melhor soube vender a música brasileira lá fora a partir dos anos 60.
Will.I.Am, se for lembrado por algo, será pelo oportunismo também. Seu grupo de hip hop, o Black Eyed Peas, estava em vias de se tornar um típico nome do underground quando o rapper optou por uma guinada pop, incluindo a entrada da cantora Fergie na formação. O BEP nunca mais saiu da mídia e Will ganhou moral para ter uma carreira-solo, fazer música para a campanha do presidenciável Barack Obama e tocar vários outros projetos. O mais importante deles consistiu na revitalização da carreira de Sergio Mendes.
Will teve a iniciativa de produzir "Timeless" (2006), CD que devolveu o niteroiense às paradas de sucesso. No álbum, Mendes era ladeado por diversos artistas pop: de Erykah Badu a Marcelo D2. O grande hit foi a releitura de "Mas que Nada", com participação do BEP e de Gracinha Leporace, esposa do pianista.
E o que poderíamos esperar desses dois músicos se não uma continuação da bem-sucedida parceria? "Encanto" segue a mesma fórmula de "Timeless". Convidados de gerações e praias distintas bulindo com clássicos da bossa nova ou defendendo inéditas, sempre com produção adequada aos nossos tempos.
O molde vem de Santana.
"Supernatural" (1999) é imbatível na categoria "disco de uma lenda que andava esquecida e se juntou com uma turma moderninha para reconquistar território". Mas quando tentou reutilizar a fórmula em "Shaman" (2002), o guitarrista fez bem menos barulho, mesmo tendo como carro-chefe a melhor canção de sua "fase duetos" ("The Game of Love").
"Encanto" também tem uma música que supera tudo o que havia em "Timeless". Trata-se de "Acode", composta e interpretada por Vanessa da Mata.
Gravada originalmente por Shirle de Moraes, fala de uma moça que sai cambaleando após tomar uma pinga de caju pensando que era Ki-Suco. A gaiatice de Vanessa casa bem com o órgão de Mendes e não sobra qualquer ranço brega.
Fergie abre o disco cantando "The Look of Love", um dos primeiros sucessos internacionais de Mendes. Will enfia suas rimas em "Água de Beber" e banca o cantor de soul em "Funky Bahia", composta com Carlinhos Brown. O baiano cedeu sua voz em "Odo-Ya".
Herb Alpert, Juanes e Natalie Cole são outros nomes do disco. Oscilam entre o curioso e o chatíssimo. Só dá raiva quando o italiano Jovanotti mete um rap em "Lugar Comum", de João Donato e Gilberto Gil. Escolhesse uma música menos bonita para estragar.


ENCANTO
Artista:
Sergio Mendes
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 30, em média
Avaliação: regular


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