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Crítica/"Encanto"
Mendes repete oportunismo pop em "Encanto"
JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O pianista e arranjador
Sergio Mendes será
para sempre lembrado
pelo seu oportunismo. Foi talvez o músico que melhor soube
vender a música brasileira lá fora a partir dos anos 60.
Will.I.Am, se for lembrado
por algo, será pelo oportunismo também. Seu grupo de hip
hop, o Black Eyed Peas, estava
em vias de se tornar um típico
nome do underground quando
o rapper optou por uma guinada pop, incluindo a entrada da
cantora Fergie na formação. O
BEP nunca mais saiu da mídia e
Will ganhou moral para ter
uma carreira-solo, fazer música para a campanha do presidenciável Barack Obama e tocar vários outros projetos. O
mais importante deles consistiu na revitalização da carreira
de Sergio Mendes.
Will teve a iniciativa de produzir "Timeless" (2006), CD
que devolveu o niteroiense às
paradas de sucesso. No álbum,
Mendes era ladeado por diversos artistas pop: de Erykah Badu a Marcelo D2. O grande hit
foi a releitura de "Mas que Nada", com participação do BEP e
de Gracinha Leporace, esposa
do pianista.
E o que poderíamos esperar
desses dois músicos se não uma
continuação da bem-sucedida
parceria? "Encanto" segue a
mesma fórmula de "Timeless".
Convidados de gerações e
praias distintas bulindo com
clássicos da bossa nova ou defendendo inéditas, sempre com
produção adequada aos nossos
tempos.
O molde vem de Santana.
"Supernatural" (1999) é imbatível na categoria "disco de uma
lenda que andava esquecida e
se juntou com uma turma moderninha para reconquistar
território". Mas quando tentou
reutilizar a fórmula em "Shaman" (2002), o guitarrista fez
bem menos barulho, mesmo
tendo como carro-chefe a melhor canção de sua "fase duetos" ("The Game of Love").
"Encanto" também tem uma
música que supera tudo o que
havia em "Timeless". Trata-se
de "Acode", composta e interpretada por Vanessa da Mata.
Gravada originalmente por
Shirle de Moraes, fala de uma
moça que sai cambaleando
após tomar uma pinga de caju
pensando que era Ki-Suco. A
gaiatice de Vanessa casa bem
com o órgão de Mendes e não
sobra qualquer ranço brega.
Fergie abre o disco cantando
"The Look of Love", um dos
primeiros sucessos internacionais de Mendes. Will enfia suas
rimas em "Água de Beber" e
banca o cantor de soul em
"Funky Bahia", composta com
Carlinhos Brown. O baiano cedeu sua voz em "Odo-Ya".
Herb Alpert, Juanes e Natalie Cole são outros nomes do
disco. Oscilam entre o curioso e
o chatíssimo. Só dá raiva quando o italiano Jovanotti mete
um rap em "Lugar Comum", de
João Donato e Gilberto Gil. Escolhesse uma música menos
bonita para estragar.
ENCANTO
Artista: Sergio Mendes
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 30, em média
Avaliação: regular
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