São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mostras celebram Dalí, mestre do surrealismo e da auto-promoção

Bernat Armangue/Associated Press
Mulher observa "Dalí Atomicus" (1948), do fotógrafo americano Philippe Halsman, em Barcelona


NAIEF HADDAD
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Há exatamente cem anos, nasceram Bidu Sayão (1904-1999) e Salvador Dalí (1904-1989). O que mais há de comum entre eles? Quase nada, além do fato de terem alcançado o pico de popularidade nos Estados Unidos.
Orgulhoso do artista que acolheu, os EUA são um dos epicentros das celebrações do centenário do catalão. O museu Salvador Dalí, na Flórida, reúne hoje seus sócios para um jantar em homenagem ao pintor. A que brindarão? Provavelmente ao artista que, nos anos 20, se aproximou de Picasso e Miró. Devem dar vivas a um dos expoentes da fase inicial do surrealismo, movimento artístico que soltou as rédeas do inconsciente. E por certo aplaudirão o artista que, junto com Luis Buñuel, fez um dos filmes ("Um Cão Andaluz") mais intrigantes e debatidos da história do cinema.
Resta saber se os sócios se lembrarão do artista que virou pastiche, triste personagem de si mesmo, a partir da virada do século passado. Talvez se esqueçam do declínio da qualidade da produção envolto em aforismos vazios.
Pois bem, são cem anos de Salvador Dalí e o mundo comemora. Toda a estratégia promocional toma conta dos museus, a começar pelo instalado em sua terra natal, Figueras, na Catalunha. O Teatro-Museu Salvador Dalí possui um acervo de mais de 4.000 peças. A poucos quilômetros de lá, Barcelona vê a mostra "Dalí e a Cultura de Massa".
Hoje, Buenos Aires ganha o quinto museu no mundo dedicado a Dalí, com acervo que roda pela América Latina e deve passar por São Paulo. No segundo semestre, o Palazzo Grassi, em Veneza, receberá uma grande retrospectiva do surrealista, que segue para o Museu de Arte da Filadélfia, nos EUA.
Mas a (boa) arte e o marketing às vezes se descolam. Na última quinta-feira, por conta da venda de uma tela de Picasso por US$ 104 milhões, a Folha publicou um ranking com as obras mais caras: há dois Picassos, dois Van Goghs, um Renoir, um Rubens e um Cézanne. Do mestre da auto-promoção Salvador Dalí? Nenhuma.


Texto Anterior: A voz de um século
Próximo Texto: Ilustrada: Marcos Mendonça é eleito na TV Cultura
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.