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"IRREVERSÍVEL"
Talento de Gaspar Noe revoluciona gênero
de busca por vingança
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
A chegada de "Irreversível"
ao DVD é uma boa oportunidade para reavaliações. Lançado no ano passado, o segundo
longa de Gaspar Noe foi execrado
pela crítica, tachado apressadamente como mais um filme de
violência gratuita concebido para
fazer escândalo. O mais evidente,
o talento (exasperado) de Noe,
acabou recalcado pelo moralismo
dos críticos.
"Irreversível" é também prova
do desespero de um jovem cineasta francês de talento. Depois
de todas as revoluções terem sido
deflagradas na cinematografia
francesa, depois de Vigo, Renoir,
Godard e Eustache, não há filme-invenção que pareça estar à altura. Se ainda batalha por seu lugar
ao sol, Noe já pode ao menos se
orgulhar de ter provocado a mesma reação e crítica que esses cineastas tiveram em seu tempo.
Conservadorismos à parte, fiquemos apenas na essência da
proposta: a idéia de contar uma
história de vingança de trás para a
frente já é, em si, uma pequena revolução no gênero. A inversão
serve para desmontar, de dentro,
o mecanismo de identificação do
espectador, essa eterna promessa
de expiação pela violência que os
filmes de vingança propiciam.
"O tempo destrói tudo", diz o
slogan. Mas não é senão por uma
reversibilidade do tempo que se
opera a narrativa: começa-se por
uma morte maldita em um inferninho do submundo gay para
chegar à relva de um domingo no
parque, em cena idílica concebida
sob o signo de um nascimento.
A violência do ato de vingança
surge, no início, desproporcional
e sem justificação, em sua bestialidade crua. Invertendo o processo,
Noe também reverte a unidimensionalidade crescente a que tendem os personagens dos (tele)filmes de vingança. A cada cena, os
protagonistas ganham novas dimensões. A cada passagem, é o
potencial de Noe que se revela.
Irreversível
Irréversible
Direção: Gaspar Noe
Produção: França, 2001
Com: Monica Bellucci, Vincent Cassel
Distribuidora: Europa
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