São Paulo, sábado, 11 de junho de 2011

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DEPOIMENTO

Danuza Leão

"Rubem gostava de mulheres bonitas, muito bonitas, e se apaixonava por elas. A beleza para ele talvez fosse mais fundamental do que para Vinicius. Das feias, era apenas amigo. (...)
Houve um tempo em que Rubem começou a achar certa graça em mim; eu, muito garota, ele, um homem já maduro, que nunca tentou me conquistar como os homens tentam conquistar as moças.
Nunca me disse uma só palavra, mas me olhava com uma intensidade que me desconcertava. Eu, com 17, 18 anos, nem o encorajava nem o desencorajava; na minha idade, um homem que me olhava daquele jeito dava medo, não sei bem de quê; um dia viajei, desapareci, e pronto.
Quando voltei, recebi uma carta de Rubem; uma carta dura, na qual ele falava de maneira cruel do meu medo de viver. Ele tinha razão, mas não precisava me machucar tanto.
Muitos anos depois, abri um baú com velhas cartas, e lá estava ela, entre outras. Tomei coragem e rasguei todas, achando que com isso estava deixando meu passado para trás e recomeçando do zero, mas qual: certas cartas, não adianta rasgar; elas continuam sempre, vivas, em nosso coração."


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