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Cult e polêmico, gaúcho estréia na televisão, na terça, o "talk show" "Sem Frescura"
Pereio tamanho família
XICO SÁ
CRITICO DA FOLHA
Marlon Brando morreu, mas
Paulo César Pereio, 64 anos exageradamente bem vividos, passa
muito bem, obrigado.
Um tanto quanto sereno e tomado por uma certa leseira
brechtiana -o homem sacaneando o mito cafajeste do ator e
da obra-, Pereio estréia, depois
de amanhã, o "Sem Frescura",
programa de entrevistas do Canal
Brasil.
O embate-homenagem com o
Brando de "O Último Tango em
Paris" é coisa da grande comunidade "pereioística" no Orkut -o
novo centro de discussões da internet. Um desnecessário exercício de macheza comparada. Polêmica que o Doutor Ailton, um dos
filiados mais ativos da sociedade
virtual do ator gaúcho, parece ter
liquidado: "Com todo respeito ao
M.B., mas o cara nunca foi assim
nenhum Pereio", mandou.
Ser um Pereio é não amaciar a
língua, é não "amanteigar" jamais
as declarações, mesmo na sua fase
"Pereiozinho paz & amor", como
declara sobre o recreio sossegado
que vive. Logo no primeiro "Sem
Frescura", sapecou contra as moças de outro televisivo, o "Saia
Justa" (do canal GNT).
"Aquele programa de merda
que as quatro fazem...", manda ao
ar, enquanto tenta lembrar o nome do programa. "Quatro mulheres chatas...", tenta ganhar tempo
ainda com a sua falta de jeito para
o padrão "talk show". O alvo para
valer seria apenas uma das criaturas do quarteto: Marisa Orth.
A atriz havia dito, em uma das
edições do "Saia Justa", que Cissa
Guimarães, ex-mulher de Pereio,
tinha "comido o pão que o diabo
amassou" durante o casamento
com ele. Declarou também que o
ator era viciado em drogas.
"Disse que eu era dependente
químico, como se fosse chique delatar um colega de profissão", responde Pereio logo no primeiro
"Sem Frescura". Resposta besuntada de algum deboche, mas sem
a dicção da ira. Pereio está tranqüilo. Tamanho família.
Na estréia, a convidada é justamente a atriz e ex-mulher Cissa. A
direção do programa é da filha
Lara Velho, o roteiro é de Neila
Tavares, mãe de Lara. A produção
é da Macaya, firma também ligada à família, em sociedade com a
Globosat. "Logo, logo os parentes
vão acabar", avisa o novo apresentador, sacaneando a lista do
nepotismo escancarado.
A conversa com Cissa Guimarães é muito cordial e reveladora
da grande paixão da mocinha que
caiu nas "garras do canalha" ainda na menoridade. Ele caminhava
para os 40, ela tinha 17. "Como
você se sentia comigo?", indaga a
atriz. "Ah, me sentia um pedófilo", responde.
Pereio está tranqüilo, camisa
aberta, bermudão, chinelo, animal dos trópicos. O cenário é um
jardim, duas cadeiras. O ator coça
a perna em algumas ocasiões. Não
se trata de um tique à moda Actor's Studio, nada das invencionices de Brando. Apenas a falta de
jeito para a nova atividade.
"Virou cult", diz Cissa, a ex-mulher que teria comido o pão que o
diabo amassou. "Comi outras coisas mais gostosas", agora quem
responde é a própria ex-mulher.
Pereio mordisca o lábio, sem a delicadeza dos trejeitos de Brando.
Por causa de falta de pagamento
de pensão alimentícia, a ex-mulher levou o ex-marido à prisão,
no início dos 90. De tão batido, o
tema não foi tocado na entrevista.
Falaram muito dos dois filhos que
tiveram, João e Tomás, meninos
de 20 e poucos anos. "Pelo menos
não tem nenhum veado", diz no
programa de estréia, mais uma
vez rindo da imagem de "cafa"
que colou à sua biografia.
Pereio não é cult e celebrado por
acaso. São peças a perder a conta,
como diz, e 60 filmes. O seu "porra" é um clássico de final de frase
nos diálogos. Na sua comunidade
no Orkut, os admiradores também falam assim. A cada final de
período, tacam lá a velha exclamação, "porra!".
A vida e obra de Pereio vai virar
um documentário, já em fase
adiantada de produção, chamado
"Pereio Eu te Odeio", dirigido por
Allan Sieber, autor de quadrinhos, cartunista e animador. É
também de Sieber a abertura de
"Sem Frescura", uma animação
carregada de testosterona.
Por ter construído -à revelia
ou não- uma carreira em tons
malditos, Pereio, aparentemente
mais sossegado, agora se vê diante
de uma pergunta provocativa feita tanto por quem o ama como
por quem o odeia: seria hoje um
careta?
Embora tenha largado um pouco o caminho do excesso, aquele
que, segundo o poeta William
Blake, conduz ao palácio da sabedoria, o ator se diz mais calmo,
menos desleixado com a saúde,
mas com a mesma tormenta interior. Cissa Guimarães provoca, familiar: "O Pereio está careta, ele
não falta mais", diz, referindo-se a
algumas confusões que envolveram diretores de teatro e cinema e
o ex-marido.
Como disse o próprio ator outro dia, em uma mesa do Jobi, botequim da boemia do Baixo Leblon, é hora do grau zero da sua
imagem: "Não há mais, a essa altura, como zelar pela reputação...
Agora eu tenho é que zerar minha
reputação".
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