São Paulo, sábado, 11 de julho de 1998

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ARTIGO
Joãosinho Trinta leva apoteose brasileira ao Jardin des Tuileries

BETTY MILAN
especial para a Folha, de Paris

Joãosinho Trinta não dá ponto sem nó. Copa de 1998? Brasil possível pentacampeão? Paris?
Chegou a hora de mostrar ao mundo que futebol é cultura e a cultura especificamente brasileira -a do brincar- é universal.
O carnavalesco então bola um desfile, cujo tema é a história universal do futebol e deve se desenrolar mostrando que o jogo já existia na China de Confúcio, entre os Aztecas, na Grécia Antiga, na França Medieval e entre os índios brasileiros que jogavam com uma pelota feita de látex.
Ou seja, um desfile que dê a entender o quão indissociável a civilização é da cultura do jogo -tese central de Huizinga no "Homo ludens"- e o quão sério o Brasil é, por valorizar o brincar.
A idéia é pertinente e o desfile realizado no Jardin des Tuileries -no eixo histórico de Paris, que vai da igreja de Notre Dame ao Arco do Triunfo, passando pelo Louvre- foi um sucesso.
Malgrado o descaso habitual das instituições culturais brasileiras e as falhas como, por exemplo, a falta de alto-falantes.
Três carros alegóricos figurando a China -por meio da estátua de Confúcio-, a Grécia -representada por um templo grego- e os índios -representados por uma gloriosa sereia-, atravessaram o jardim em direção à Place de la Concorde.

Globeleza
As nossas alegorias coloridas de isopor passaram animadas por suntuosos destaques diante das estátuas de pedra do Jardin des Tuileries.
Com as plumas e os paetês, o Brasil exibiu o seu tradicional culto do efêmero e deixou estar ao seu lado o culto da eternidade.
Ousou exibir o museu vivo do carnaval no contexto do glorioso Louvre. Reinventou a China mostrando Confúcio com uma bola no pé.
A um arco-íris de cores tênues, o de Paris, contrapôs um arco-íris de cores tórridas, solar.
Às linhas retas do jardim, as curvas de Valéria Valenssa, que passou coberta de estrelas de purpurina e desafiou com o rebolado as mulheres apolíneas do Lido.
Quem, vendo Ronaldo jogar, ainda não estava convencido de que um novo Renascimento acontece no Brasil, deu a mão à palmatória.

Zagallo presidente
Quem ainda não sabia que o país vitorioso é o do carnaval e o do futebol, o Braasiill, já não pode ignorar isso e saberá entender por que havia no Jardin des Tuileries uma faixa com os dizeres: "Brasil urgente, Zagallo presidente".
Joãosinho fez a Marquês de Sapucaí renascer triunfantemente no Jardim de Le Nôtre, arquiteto de Luis XIV.
Com isso, o Brasil se realizou no cenário do Rei Sol, que ele, todo ano, reinventa entre outros reis.
E Paris que, à sua maneira, também é antropofágica, vibrou, deixando estar as nuances todas do amarelo solar brasileiro ao contexto do verde e das flores cor de lilás.
Cumpriu-se então a profecia do "Balé da Bóia", a música com que Gilberto Gil abriu o grande show da Copa no Olímpia.
"Quando o meu olhar beijar Paris/Terei mais amor/Serei mais feliz."
O Brasil e a França se beijaram continuamente na Copa de 98 e, por isso, nós já ganhamos.
A nossa bandeira pode ser vista nas ruas, no metrô e nos bares, as nossas cores estão na moda.
Já ninguém dirá, como no passado, que a combinação verde e amarelo ou verde e rosa é aberrante.
Com o Brasil, também a Cidade Luz ganhou, exibindo os seus cenários coloridos e o rio furta-cor, provou que ela é mesmo uma festa -como dizia Hemingway- ou então, que ela não acaba nunca.



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