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ARTIGO
Joãosinho Trinta leva apoteose brasileira ao Jardin des Tuileries
BETTY MILAN
especial para a Folha, de Paris
Joãosinho Trinta não dá ponto
sem nó. Copa de 1998? Brasil possível pentacampeão? Paris?
Chegou a hora de mostrar ao
mundo que futebol é cultura e a
cultura especificamente brasileira
-a do brincar- é universal.
O carnavalesco então bola um
desfile, cujo tema é a história universal do futebol e deve se desenrolar mostrando que o jogo já
existia na China de Confúcio, entre os Aztecas, na Grécia Antiga,
na França Medieval e entre os índios brasileiros que jogavam com
uma pelota feita de látex.
Ou seja, um desfile que dê a entender o quão indissociável a civilização é da cultura do jogo -tese
central de Huizinga no "Homo
ludens"- e o quão sério o Brasil
é, por valorizar o brincar.
A idéia é pertinente e o desfile
realizado no Jardin des Tuileries
-no eixo histórico de Paris, que
vai da igreja de Notre Dame ao Arco do Triunfo, passando pelo Louvre- foi um sucesso.
Malgrado o descaso habitual das
instituições culturais brasileiras e
as falhas como, por exemplo, a falta de alto-falantes.
Três carros alegóricos figurando
a China -por meio da estátua de
Confúcio-, a Grécia -representada por um templo grego- e os
índios -representados por uma
gloriosa sereia-, atravessaram o
jardim em direção à Place de la
Concorde.
Globeleza
As nossas alegorias coloridas de
isopor passaram animadas por
suntuosos destaques diante das
estátuas de pedra do Jardin des
Tuileries.
Com as plumas e os paetês, o
Brasil exibiu o seu tradicional culto do efêmero e deixou estar ao seu
lado o culto da eternidade.
Ousou exibir o museu vivo do
carnaval no contexto do glorioso
Louvre. Reinventou a China mostrando Confúcio com uma bola no
pé.
A um arco-íris de cores tênues, o
de Paris, contrapôs um arco-íris
de cores tórridas, solar.
Às linhas retas do jardim, as curvas de Valéria Valenssa, que passou coberta de estrelas de purpurina e desafiou com o rebolado as
mulheres apolíneas do Lido.
Quem, vendo Ronaldo jogar,
ainda não estava convencido de
que um novo Renascimento acontece no Brasil, deu a mão à palmatória.
Zagallo presidente
Quem ainda não sabia que o país
vitorioso é o do carnaval e o do
futebol, o Braasiill, já não pode ignorar isso e saberá entender por
que havia no Jardin des Tuileries
uma faixa com os dizeres: "Brasil
urgente, Zagallo presidente".
Joãosinho fez a Marquês de Sapucaí renascer triunfantemente
no Jardim de Le Nôtre, arquiteto
de Luis XIV.
Com isso, o Brasil se realizou no
cenário do Rei Sol, que ele, todo
ano, reinventa entre outros reis.
E Paris que, à sua maneira, também é antropofágica, vibrou, deixando estar as nuances todas do
amarelo solar brasileiro ao contexto do verde e das flores cor de
lilás.
Cumpriu-se então a profecia do
"Balé da Bóia", a música com
que Gilberto Gil abriu o grande
show da Copa no Olímpia.
"Quando o meu olhar beijar Paris/Terei mais amor/Serei mais feliz."
O Brasil e a França se beijaram
continuamente na Copa de 98 e,
por isso, nós já ganhamos.
A nossa bandeira pode ser vista
nas ruas, no metrô e nos bares, as
nossas cores estão na moda.
Já ninguém dirá, como no passado, que a combinação verde e
amarelo ou verde e rosa é aberrante.
Com o Brasil, também a Cidade
Luz ganhou, exibindo os seus cenários coloridos e o rio furta-cor,
provou que ela é mesmo uma festa
-como dizia Hemingway- ou
então, que ela não acaba nunca.
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