São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2004

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AGRO-ARTE

Instituição foi local de venda de gado Nelore

"Obras de arte" da natureza vão a leilão no Museu da Escultura

DA REPORTAGEM LOCAL

Projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha para ser a "casa" da escultura brasileira e da escultura em si, o Mube (Museu Brasileiro da Escultura) teve, na última segunda-feira, uma noite de glamour country. Foi realizado no local um leilão virtual de embriões de gado, o Primeiro Leilão de Prenhezes Nelore, com a venda de 36 "obras de arte" da natureza.
Segundo Paulo Velloso, titular da Nelore Santa Rita e um dos organizadores do evento, o museu foi escolhido para sediar o leilão justamente por esse perfil "artístico" do gado. "Como essas vacas são as melhores da nossa raça, que é a Nelore, são as obras-primas, avaliamos que promover o evento no museu da escultura cairia bem", afirmou. Segundo Velloso, a direção do museu "comprou a idéia facilmente".
No lar da escultura, pouco se via das obras. As paredes estavam cobertas por tecidos brancos e, apenas quando havia um sopro mais forte de vento, era possível ver a pontinha de alguns dos objetos.
No lugar dos trabalhos de arte, o chão foi ocupado por mesas cobertas por petiscos. Nas paredes, telões mostravam as mães dos embriões leiloados. Uma delas era Espanhola, uma vaca cujo filhote foi arrematado por R$ 259 mil (divididos em 14 parcelas de R$ 18.500); venda mais cara da noite.
Em vez dos típicos souvenirs vendidos em museus, relógios Cartier e jóias rebuscadas aguçavam os olhares consumistas. Com R$ 280 mil, era possível levar um colar de 67 quilates de brilhantes em um dos dois estandes montados no hall de entrada.
Entre os participantes ativos do leilão estava Alice Ferreira, 55, vice-presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Nelore. Habitué de eventos do gênero, no Mube, Ferreira vendia um embrião bem cotado, um exemplar "elite top". "Se conseguir [prestações de] R$ 20 mil ficaria feliz", disse logo no primeiro lance. "Mas acho que posso conseguir até mais", exclamou a seguir.
Nem todos compartilhavam da mesma empolgação. Por trás do telão principal, dividindo espaço entre a cozinha improvisada do evento e os banheiros do museu, uma turma de três alunos de um dos cursos de escultura oferecidos pelo Mube tentava manter a concentração. "Toda semana, há uma chatice dessas. Tem lançamento de perfume, de bolsa, de carro. Museu não é feito para isso", desabafou a jornalista Carolina Oliveira, 50, no curso há três anos.
Com a estrutura totalmente privada e sem acervo próprio, o Mube encontrou no aluguel de suas instalações para eventos sociais uma saída para a sustentação financeira. Segundo a assessoria do evento, a diretoria do Mube preferiu não comentar sobre o leilão. (ISABELLE MOREIRA LIMA)


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