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AGRO-ARTE
Instituição foi local de venda de gado Nelore
"Obras de arte" da natureza vão a leilão no Museu da Escultura
DA REPORTAGEM LOCAL
Projeto do arquiteto Paulo
Mendes da Rocha para ser a "casa" da escultura brasileira e da escultura em si, o Mube (Museu
Brasileiro da Escultura) teve, na
última segunda-feira, uma noite
de glamour country. Foi realizado
no local um leilão virtual de embriões de gado, o Primeiro Leilão
de Prenhezes Nelore, com a venda
de 36 "obras de arte" da natureza.
Segundo Paulo Velloso, titular
da Nelore Santa Rita e um dos organizadores do evento, o museu
foi escolhido para sediar o leilão
justamente por esse perfil "artístico" do gado. "Como essas vacas
são as melhores da nossa raça,
que é a Nelore, são as obras-primas, avaliamos que promover o
evento no museu da escultura cairia bem", afirmou. Segundo Velloso, a direção do museu "comprou a idéia facilmente".
No lar da escultura, pouco se via
das obras. As paredes estavam cobertas por tecidos brancos e, apenas quando havia um sopro mais
forte de vento, era possível ver a
pontinha de alguns dos objetos.
No lugar dos trabalhos de arte, o
chão foi ocupado por mesas cobertas por petiscos. Nas paredes,
telões mostravam as mães dos
embriões leiloados. Uma delas era
Espanhola, uma vaca cujo filhote
foi arrematado por R$ 259 mil (divididos em 14 parcelas de R$
18.500); venda mais cara da noite.
Em vez dos típicos souvenirs
vendidos em museus, relógios
Cartier e jóias rebuscadas aguçavam os olhares consumistas. Com
R$ 280 mil, era possível levar um
colar de 67 quilates de brilhantes
em um dos dois estandes montados no hall de entrada.
Entre os participantes ativos do
leilão estava Alice Ferreira, 55, vice-presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Nelore.
Habitué de eventos do gênero, no
Mube, Ferreira vendia um embrião bem cotado, um exemplar
"elite top". "Se conseguir [prestações de] R$ 20 mil ficaria feliz",
disse logo no primeiro lance.
"Mas acho que posso conseguir
até mais", exclamou a seguir.
Nem todos compartilhavam da
mesma empolgação. Por trás do
telão principal, dividindo espaço
entre a cozinha improvisada do
evento e os banheiros do museu,
uma turma de três alunos de um
dos cursos de escultura oferecidos
pelo Mube tentava manter a concentração. "Toda semana, há uma
chatice dessas. Tem lançamento
de perfume, de bolsa, de carro.
Museu não é feito para isso", desabafou a jornalista Carolina Oliveira, 50, no curso há três anos.
Com a estrutura totalmente privada e sem acervo próprio, o Mube encontrou no aluguel de suas
instalações para eventos sociais
uma saída para a sustentação financeira. Segundo a assessoria do
evento, a diretoria do Mube preferiu não comentar sobre o leilão.
(ISABELLE MOREIRA LIMA)
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