São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2004

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ANÁLISE

Agilidade garante sucesso de novela das sete

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Da Cor do Pecado" vai terminando em alta. Talvez o sucesso da novela de estréia de João Emanuel Carneiro, com supervisão de Silvio de Abreu e direção-geral de Denise Saraceni, esteja no ritmo acelerado.
A novela mistura um convencional melodrama de apoio, com quadros mais ousados, de humor irreverente. A receita não é nova nem fácil. Aqui deu certo.
A família Sardinha, liderada por mamushka Edilásia (Rosi Campos), ameaça virar filme e seriado. O peso do núcleo de personagens modernos, naturais, alternativos foi se expandindo. Nossos heróis geraram uma gangue rival, espécie de encarnação das "Meninas Superpoderosas".
A novela combina elementos de cartum, com humor pastelão e alusões a um encantado universo de esporte e saúde -surfe, figurinos despojados e interiores arejados pouco convencionais.
Como quem não quer nada, ao lado de mocinhos e vilões escancarados, a novela testa arranjos flexíveis. Há famílias por afinidade, padrões femininos e masculinos e relações inter-raciais tolerantes, na chave da ação afirmativa. Mas o que faz o sucesso de "Da Cor do Pecado" é a mão firme do roteirista na condução de intrincadas e infindáveis tramóias.
Afonso (Lima Duarte) foi atingido no capítulo do dia 20 de julho, morreu no dia seguinte e uma semana depois seu filho já estava preso e condenado. Hoje, Paco/Apolo (Reynaldo Gianecchini), em liberdade, está prestes a se casar com uma Bárbara (Giovanna Antonelli) repentinamente convertida a uma paixão alucinante.
João Emanuel Carneiro domina os principais temas da dramaturgia universal, conduzindo a narrativa com agilidade inédita. Equipe e direção afinadas garantem que a história sempre surpreenda. O segredo do sucesso possivelmente tem a ver com a sintonia entre o ritmo alucinado da narrativa e o cotidiano contemporâneo. Nessa novela, como na vida, quem perdeu dançou.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP


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