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Crítica/rock
Zefirina Bomba procura o barulho perfeito em CD veloz
DA REPORTAGEM LOCAL
Zefirina era uma lavadeira que saiu de Catolé da
Rocha (interior da Paraíba) para trabalhar na casa do
pequeno Ilsom. O menino nunca apagou da memória a barulheira que ela fazia quando batia a roupa no tanque para tirar
o excesso de sabão. Parecia o
som de uma bomba. Quando
cresceu, Ilsom resolveu montar
uma banda de garagem bem
ruidosa. Ao escolher o nome,
não pensou duas vezes: Zefirina Bomba.
Hoje com 29 anos, vocalista e
"violeiro" do trio, Ilsom Barros
fica curioso para saber o que a
antiga lavadeira pensaria sobre
o disco de estréia de seu grupo,
o ótimo "Noisecoregroovecocoenvenenado", que reúne,
além das influências vindas do
tanque, ecos díspares de Iggy
Pop a Pixies, surf music a Tom
Zé e Glauber Rocha a João Cabral de Melo Neto.
Se Zefirina teve vida curta e
não primava pelo silêncio, a
banda também busca a urgência. São exatos 27 minutos
-curtos e nada rasteiros- de
um rock descendente dos pré-punks Stooges e MC5, com 15
faixas que duram pouco mais
de dois minutos cada uma. É
quase um tiro no pé em termos
comerciais, comparado aos padrões atuais, em que gravadoras e artistas insistem em discos longos e exaustivos, como
se um maior número de músicas fosse agregar qualidade para atrair o consumidor.
Glauber Rocha
"O CD foi pensado como se
fosse um álbum dos tempos do
vinil, daqueles que, quando terminam, você fala: "Nossa, já
acabou? Vamos ouvir de novo?'", explica Barros. "Nossos
shows também são curtos, não
duram mais do que meia hora.
Tudo é muito urgente, a gente
fala pouco e grita bastante."
Mas por que tamanha contenção de palavras e tempo?
Entre as influências extramusicais,
Barros cita o cineasta Glauber Rocha e o poeta João
Cabral de Melo Neto. "A Paraíba é
uma região com
muitos contrastes:
ao lado de um prédio novo, você vê
uma casa destruída. Tudo é muito
visual", diz.
"Nos seus filmes,
Glauber jogava as
imagens direto na
nossa cara, não ficava explicando as
coisas, era tudo
muito simbólico",
explica. A imagem
de Corisco (de
"Deus e o Diabo na
Terra do Sol") girando e gritando
casa-se à perfeição com o som
árido do Zefirina. "Já João Cabral era cru, dizia muito com
pouco, também de uma maneira direta. São referências mais
pessoais, que uso na estrutura
das palavras das canções."
Cita a canção "TPM". "Quando chega a TPM, é aquela coisa:
a menina não consegue se expressar direito, e o cara não entende nada", diz. Na letra, as
frases não se completam: "Pensei bem no que.../ Mas nada do
que eu digo/Você tenta entender?/Pra isso nunca sirvo".
Na busca pelo barulho perfeito, Barros transformou sua viola
num poderoso instrumento de distorção ao incrementá-la
com captadores,
conseguindo novos
sons. "A viola já tem
um som estourado,
rude e rasgado naturalmente. Queria ver
como soaria se usasse como uma guitarra, no amplificador."
"A Paraíba é um lugar onde o rural e o
urbano estão o tempo todo juntos, convivendo. Fica muito
próximo da Zona da
Mata, ver rabecas e
violeiros é uma coisa
normal, faz parte da
minha formação. Eu
e meus amigos ouvíamos de tudo: de
Jackson do Pandeiro e Raul
Seixas a AC/ DC."
Sem fusões
A terra natal, diz Barros, ex-instrutor de natação de crianças, gestantes e idosos, ainda
ajudou a banda a não ter medo
de ousar. "A tranqüilidade da
Paraíba é aparente; por trás da
calma tem muita loucura. Como a gente não tinha perspectiva de mercado, resolvemos colocar para quebrar."
O Zefirina Bomba, no entanto, não usa o velho recurso do
exotismo da fusão do rock e regionalismos como atrativo.
Aliado ao peso, há um senso
pop que permeia todas as canções, o que em parte justifica o
interesse do produtor Carlos
Eduardo Miranda, que "descobriu" a banda e os incentivou a
tentar a sorte em São Paulo -o
disco, no entanto, tem produção assinada pelo próprio Ilsom. "Noisecore" é um disco
para os dias atuais: esperto e
com altas referências que os
deixam acima de qualquer banda "pesada" do mainstream e
com refrões e riffs grudentos
que poucos grupos de garagem
conseguem criar.
(BRUNO YUTAKA SAITO)
NOISECOREGROOVECOCOENVENENADO
Artista: Zefirina Bomba
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 28, em média
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