São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 2006

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Crítica/rock

Futureheads aprofunda legado pós-punk

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Para muita gente, o pós-punk foi o período mais frutífero do rock and roll. Foi onde o punk ganhou aura artística, em que as guitarras passaram a brincar com melodias da black music. Essa época pode ser localizada entre 1977 e 1984, mas, também, entre 2001 e... Se depender de bandas como Futureheads, o legado não terminará tão cedo.
Pouco tempo depois do lançamento no exterior, chega às lojas brasileiras o segundo disco do quarteto inglês, "News and Tributes", que aprofunda as referências a grupos como The Jam, Wire e Killing Joke.
Há poucos anos, essas bandas retornaram à ordem do dia por meio de novos nomes, como Franz Ferdinand, Bloc Party, Maximo Park, Rapture...
Em 2005, o crítico Simon Reynolds publicou o obrigatório "Rip it Up and Start Again: Post Punk 1978-1984" -sem previsão de lançamento no Brasil-, livro em que aponta as particularidades dessas bandas (esticam ao máximo suas guitarras com poucos acordes, o baixo bate forte e as letras vão do inconformismo social à alienação e desilusões amorosas).
Enquanto Rapture, Franz Ferdinand e Maximo Park vão buscar inspiração nas melodias dançantes do Gang of Four, o Futureheads parece preferir a urgência rítmica e o discurso de bandas como The Jam e Wire.
A comparação tem a ajuda da voz de Barry Hyde, semelhante à de Paul Weller, do Jam. Além das influências, dá para situar o Futureheads com o Franz Ferdinand pela maneira como as duas bandas encararam o segundo álbum. Tanto um como outro trazem discos menos imediatos, menos pop do que os de suas estréias -e aí tem-se a impressão de que procuram escapar das inevitáveis comparações com o passado. Não há, em "News and Tributes", nenhuma canção com o apelo de "Decent Days and Nights" ou "Hounds of Love" (o cover de Kate Bush).
O disco abre com "Yes/No" e sua bateria marcial. O refrão é cantado em coro, como se fosse um grito de protesto niilista e sem nenhum alvo definido. É, de fato, um grito de inconformismo, desespero, de alguém que sabe que as coisas estão fora do lugar mas não sabem como nem onde está a solução. Esse é o tom de "Fallout" e também do single "Skip to the End" (que foi remixado por DJs como Erol Alkan e Digitalism).
"Como você se atreve?", brigam eles em "Cope". "Nós mentimos porque a verdade é pior", afirmam em "The Return of the Berseker". As canções do Futureheads não indicam saídas, não apontam direções, mas possuem energia e uma certa tensão que faz falta hoje em dia.


NEWS AND TRIBUTES    
Artista: The Futureheads
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 35, em média


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