São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2011

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CRÍTICA MUSICAL

Grupo do interior de São Paulo agrada ao resgatar raízes sertanejas esquecidas

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

A nostalgia da inocência perdida. "Um Dia Ouvi a Lua", da Cia. Teatro da Cidade, resgata histórias de amor na ótica da infância e a partir de canções sertanejas.
Musical à moda antiga, feito à base de voz, duas violas e percussão, agrada, apesar de certo anacronismo. A peça nasceu do convite da companhia de São José dos Campos (SP) ao dramaturgo Luiz Alberto de Abreu e a Eduardo Moreira, ator do Galpão, para uma pesquisa sobre o universo caipira.
O texto foi criado por Abreu a partir das letras de clássicos sertanejos. O autor retirou deles o que percebia como seu ponto de vista dominante: o de um olhar masculino. Adoçou-os com uma perspectiva feminina e estruturou-os sob a ótica infantil. Assim, as três histórias contadas têm como espaço comum uma cidade arquetípica do interior e, como fonte, a memória fantasiosa de suas crianças.
A encenação de Eduardo Moreira conciliou esse material básico com as experiências pregressas do grupo, propondo jogos narrativos em que ora atores e atrizes se assumem como narradores, ora se confundem com os personagens e fazem eles próprios contarem os casos. As canções e as várias cenas de folguedo musical articulam as tramas e permitem graciosos desenhos coreográficos, sem falar na utilização eficaz de adereços vegetais, como palmas secas que se tornam desde vassouras até anteparos para os momentos corais, quando se opera uma diferenciação entre os protagonistas de cada conto e os que os evocam na memória.
Essas opções de construção dramática e cênica são felizes quando alcançam um terno lirismo e revelam intérpretes capazes de cantar à capela com grande eficácia.
Em outros momentos, como quando o elenco tem de dar conta de uma brejeirice, a vontade de redescobrir uma pureza sem mácula torna-se um ingênuo remoer em referências esgotadas.
Não é a quimera de uma lua ensinando aos amantes sobre o melhor curso para suas vidas que causa retraimento. O que dificulta uma adesão consistente ao que é apresentado é o tom piegas, que por vezes sobressai. No geral, porém, a encenação honra a reputação do dramaturgo e do encenador convidados e revela um grupo sério do interior do Estado em busca das raízes esquecidas.

UM DIA OUVI A LUA
QUANDO sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h; até domingo
ONDE Teatro Coletivo (r. da Consolação, 1.623; tel. 0/xx/11/3255-5922)
QUANTO R$ 40
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom


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