São Paulo, sábado, 11 de novembro de 2000

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DA RUA
Você aí

FERNANDO BONASSI

Não consigo achar as chaves de um dia pro outro. Não lembro onde estacionei o carro. Não sou capaz de lavar um prato, de fritar um ovo. A cadela pode morrer de fome que eu nem vou perceber. Meus desejos são bem esquisitos. Posso passar meses procurando a tartaruga. Meu joelho é torto. Minha miopia só cresce. Nem sempre cheiro bem. Tenho os cotovelos puídos. Tropeço de arrancar unha. Não posso decorar mapas. Meu senso de direção nem me leva aos lugares conhecidos. Definitivamente, eu não regulo bem. Desconfiar de mim tornou-se parte da minha personalidade, feito esse tique de jogar os óculos sobre o nariz engordurado. Mas você não. Você sempre está aí. Como um farol. Como um cortador de frios.


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