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DA RUA
Você aí
FERNANDO BONASSI
Não consigo achar as chaves de um dia pro outro. Não
lembro onde estacionei o carro. Não sou capaz de lavar um
prato, de fritar um ovo. A cadela pode morrer de fome
que eu nem vou perceber.
Meus desejos são bem esquisitos. Posso passar meses procurando a tartaruga. Meu joelho é torto. Minha miopia só
cresce. Nem sempre cheiro
bem. Tenho os cotovelos puídos. Tropeço de arrancar
unha. Não posso decorar mapas. Meu senso de direção
nem me leva aos lugares conhecidos. Definitivamente,
eu não regulo bem. Desconfiar de mim tornou-se parte
da minha personalidade, feito
esse tique de jogar os óculos
sobre o nariz engordurado.
Mas você não. Você sempre
está aí. Como um farol. Como
um cortador de frios.
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