São Paulo, quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

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Stoklos repassa sua carreira em três peças

Artista encena "Mary Stuart", "Vozes Dissonantes" e "Calendário da Pedra'

Obras serão apresentadas no Sesc Pompéia, em São Paulo, lembrando o teatro essencial, estilo idealizado pela diretora e coreógrafa


GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Denise Stoklos comemora a maturidade de sua carreira artística. Apresenta, de hoje à sábado no Sesc Pompéia, em São Paulo, "Mary Stuart" (1997), "Vozes Dissonantes" (1999) e "Calendário da Pedra" (2001), obras de seu teatro essencial, estilo criado por esta artista, diretora e coreógrafa, que se tornou conhecida por utilizar em cena o mínimo de recursos materiais para que o ator extraia o máximo de sua potência.
Os três solos abordam questões urgentes da humanidade. "Trato de temas como liberdade e amor. Com liberdade tudo seria diferente, e se houvesse amor jamais existiria o sistema em que estamos instalados, dirigido por interesses corporativos que são exclusivos", afirma Stoklos.
Os espetáculos serão apresentados em ordem cronológica. Foram escolhidos aleatoriamente. "Eles possuem a mesma portabilidade", explica. "Mary Stuart" é uma das peças de maior repercussão de seus 40 anos carreira. Nele, Stoklos interpreta simultaneamente a rainha da Escócia Mary Stuart -aprisionada e condenada à morte-, e a rainha da Inglaterra Elizabeth 1ª, sua prima, a autora da sentença letal.
"O homem sempre esteve, em todos os momentos de sua história, lutando por amor e liberdade. Cada vez que tocamos nesse tema estamos sendo essenciais e políticos", diz.
Stoklos espera que o público faça a ponte entre a luta por poder em voga na atualidade e a que marcou o Reino Unido do século 16. "Como em todas as minhas obras, cabe ao espectador realizar sua leitura. Sou apenas o instrumento que faz a máquina do teatro funcionar."
O discurso político é ainda mais explícito em "Vozes Dissonantes". O monólogo criado para as comemorações dos 500 anos do Brasil reúne textos de intelectuais e poetas como Padre Antônio Vieira, Tiradentes e José Bonifácio, rebeldes nacionais que, nesses cinco séculos de história, levantaram suas vozes contra as ordens oficiais.
O sistema é contestado de forma interiorizada em "Calendário da Pedra". Inspirado em um poema de Gertrude Stein de nome "Book of Anniversary", a peça apresenta um personagem, personificação da humanidade, acossado por lembranças, aspirações e escolhas.
"O protagonista é a platéia, sou eu, somos todos nós, é nossa memória coletiva", explica a artista, que recentemente virou avó e, com a energia vital habitual, dá prosseguimento à sua arte de transformar corpo em discurso, através da junção de gesto, palavra e pensamento.
É assim que Denise Stoklos, 58, não rejeita o envelhecer, pelo contrário: "Envelhecer é maravilhoso, desmistifica o fato de você querer respostas definidas. Recomendo".


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