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Stoklos repassa sua carreira em três peças
Artista encena "Mary Stuart", "Vozes Dissonantes" e "Calendário da Pedra'
Obras serão apresentadas no Sesc Pompéia, em São Paulo, lembrando o teatro essencial, estilo idealizado pela diretora e coreógrafa
GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Denise Stoklos comemora a
maturidade de sua carreira artística. Apresenta, de hoje à sábado no Sesc Pompéia, em São
Paulo, "Mary Stuart" (1997),
"Vozes Dissonantes" (1999) e
"Calendário da Pedra" (2001),
obras de seu teatro essencial,
estilo criado por esta artista, diretora e coreógrafa, que se tornou conhecida por utilizar em
cena o mínimo de recursos materiais para que o ator extraia o
máximo de sua potência.
Os três solos abordam questões urgentes da humanidade.
"Trato de temas como liberdade e amor. Com liberdade tudo
seria diferente, e se houvesse
amor jamais existiria o sistema
em que estamos instalados, dirigido por interesses corporativos que são exclusivos", afirma
Stoklos.
Os espetáculos serão apresentados em ordem cronológica. Foram escolhidos aleatoriamente. "Eles possuem a mesma
portabilidade", explica. "Mary
Stuart" é uma das peças de
maior repercussão de seus 40
anos carreira. Nele, Stoklos interpreta simultaneamente a
rainha da Escócia Mary Stuart
-aprisionada e condenada à
morte-, e a rainha da Inglaterra Elizabeth 1ª, sua prima, a autora da sentença letal.
"O homem sempre esteve,
em todos os momentos de sua
história, lutando por amor e liberdade. Cada vez que tocamos
nesse tema estamos sendo essenciais e políticos", diz.
Stoklos espera que o público
faça a ponte entre a luta por poder em voga na atualidade e a
que marcou o Reino Unido do
século 16. "Como em todas as
minhas obras, cabe ao espectador realizar sua leitura. Sou
apenas o instrumento que faz a
máquina do teatro funcionar."
O discurso político é ainda
mais explícito em "Vozes Dissonantes". O monólogo criado
para as comemorações dos 500
anos do Brasil reúne textos de
intelectuais e poetas como Padre Antônio Vieira, Tiradentes
e José Bonifácio, rebeldes nacionais que, nesses cinco séculos de história, levantaram suas
vozes contra as ordens oficiais.
O sistema é contestado de
forma interiorizada em "Calendário da Pedra". Inspirado em
um poema de Gertrude Stein
de nome "Book of Anniversary", a peça apresenta um personagem, personificação da humanidade, acossado por lembranças, aspirações e escolhas.
"O protagonista é a platéia,
sou eu, somos todos nós, é nossa memória coletiva", explica a
artista, que recentemente virou avó e, com a energia vital
habitual, dá prosseguimento à
sua arte de transformar corpo
em discurso, através da junção
de gesto, palavra e pensamento.
É assim que Denise Stoklos,
58, não rejeita o envelhecer, pelo contrário: "Envelhecer é maravilhoso, desmistifica o fato de
você querer respostas definidas. Recomendo".
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