São Paulo, sexta, 11 de dezembro de 1998

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Didatismo ofusca talento dos atores

CECÍLIA SAYAD
da Redação

Filmes voltados para um público púbere ou infantil têm que ter uma mensagem clara e, por isso, o risco de cair em esquematizações banalizadoras é grande.
No caso de "Sempre Amigos", a esquematização consiste em atribuir a duas pessoas diferentes dois elementos básicos para a formação de um ser humano: mente e corpo.
Kieran Culkin (irmão de Macaulay) faz Kevin, um garoto que possui uma deficiência que não o permite caminhar sem muletas e deforma seu corpo. Como forma de compensação, tem uma mente desenvolvida e criativa.
Max (Elden Henson), por sua vez, é gordo e forte como um touro, mas não é capaz de ler uma linha e nem de enfrentar uma mosca. Como é sempre bom lembrar, um físico forte sem uma mente que dê sentido a sua existência não serve para nada. E vice-versa. É então que o corpo de Max encontra seu complemento na mente de Kevin.
Tudo acontece depois que este se muda para a casa vizinha com sua mãe (Sharon Stone). Kevin abre para Max o mundo da imaginação, falando-lhe sobre os cavaleiros da Távola Redonda, o que lhe dá coragem para enfrentar o bando de vândalos de que toda escola americana é vítima em filmes.
Max carrega Kevin nas costas e o leva a fazer coisas que seu físico deformado impossibilitariam, como jogar basquete. Os dois se tornam inseparáveis, um único ser.
A idéia poderia render uma boa fábula. Mas "Sempre Amigos" se preocupa demais com sua função educativa ("todos devem praticar o bem"), ingênua demais. E o que poderia ser de algum proveito fica relegado a segundo plano.
Como o elenco de nomes de peso (além de Stone, há Gilliam Anderson, de "Arquivo X", e Gena Rowlands, de "Gloria"), desperdiçado em papéis que não estão à altura de seu talento.
O mais grave, porém, é deixar de lado as nuances necessárias à credibilidade de uma história, mesmo quando ela se pretende fabulesca.
Pois a fábula que tem como cenário o mundo contemporâneo não pode ignorar as matizes que este mundo apresenta e se resumir a noções desatualizadas por serem excessivamente banalizadas. Afinal, o que é por demais esquematizado pode se afastar de tal forma da vida que se torna inexpressivo.

Filme: Sempre Amigos
Produção: EUA, 1998
Direção: Peter Chelsom
Com: Sharon Stone, Gena Rowlands, Kieran Culkin, Elden Henson, Gilliam Anderson
Quando: a partir de hoje, nos cines Olido 1, Iguatemi 2 e circuito




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