São Paulo, sexta, 11 de dezembro de 1998

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Cegos e especialistas avaliam catálogos em braile

especial para a Folha

Ao final das visitas especiais da 24ª Bienal, que duram cerca de duas horas, os monitores fornecem um questionário de avaliação e um catálogo simples, com 12 páginas de textos em letras grandes, reproduzidos em xerox pelo projeto "Diversidade". Cada grupo de cegos recebe ainda um catálogo em braile, com 20 páginas.
Além da apresentação do curador-geral Paulo Herkenhoff, os catálogos trazem breves textos sobre os artistas Albert Eckhout (1612-1665), Tarsila do Amaral (1886-1973), Cildo Meireles, Hélio Oiticica (1937-1980) e Lygia Clark (1920-1988).
A Folha mandou os catálogos em braile para avaliação em duas instituições especializadas em ajudar cegos. Dorina Nowill e a revisora Regina de Oliveira, da Fundação Dorina Nowill (responsável pelos catálogos de exposições em braile dos museus de Arte Moderna e Contemporânea de São Paulo), e ainda Lara de Campos Siaulys e sua mãe Mara, da Laramara Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual, concordam que publicações sobre cultura em braile são sempre bem-vindas, já que há pouco material especializado no Brasil.
Regina aponta outras qualidades, como o formato retangular, suas dimensões (do tamanho de folhas de caderno comum) e o tipo de encadernação (as páginas são ligadas por uma espiral de plástico). "É possível virar as páginas com facilidade e mantê-las imóveis enquanto se lê."
Mas há críticas. Mara tem visão normal, é professora de geografia e pedagoga especializada em crianças com dificuldades visuais. Para ela, o conteúdo é para iniciados em arte. "O nível é alto demais para quem sempre foi cego."
Para sua filha, Lara, o conteúdo não é pesado. Ela é cega desde que saiu da maternidade, há 20 anos, toca bateria e estuda música popular na Unicamp. "É mesmo intelectualzão. Se o catálogo tivesse 500 páginas, não teria paciência de ler", conta. "Mas seria bom se trouxesse ilustrações como os livros didáticos."
Regina, que é cega desde a infância, concorda com Lara. "Desenhos simplificados em relevo complementam a informação. Com eles podemos entender com mais facilidade o estilo e as características de cada artista."
Regina ainda sentiu falta de um índice. "Livros com mais de dez páginas devem conter índices, o que facilitaria a busca de informações."
Ela lembra que a diagramação também é importante. "Nem sempre a disposição do texto na escrita comum é mais adequada para a escrita em braile."

Mostra: 24ª Bienal de São Paulo
Quando: hoje, das 13h às 21h; amanhã e domingo, das 10 às 22h. Até domingo
Onde: Pavilhão da Bienal (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 3, Ibirapuera, tel. 574-5922). Na Internet: http://uol.com.br/bienal/24bienal
Quanto: R$ 10 e R$ 16 (aos sáb. e dom., a partir das 14h)




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