São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

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QUADRINHOS

Nostalgia de Geraldão, Doy Jorge e sua turma tem que conviver com o presente em nova revista do cartunista

Glauco leva seu "bauzão" para as bancas

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto os quadrinhos alçam vôos para a internet, as grandes livrarias e as telas dos cinemas, o pacato Geraldão prefere seguir à moda antiga: com mais de 18 anos de publicação na Folha e uma passagem pela editora Circo, quando chegou a vender 50 mil exemplares mensais, o personagem de Glauco, 46, tenta a sorte outra vez ali na esquina, numa banca mais próxima de você.
"As livrarias são para um público selecionado. Quero resgatar a época [anos 80] em que os quadrinhos eram um produto mais acessível", afirma o quadrinista, sobre o lançamento da nova revista bimestral "Geraldão", agora pela editora Opera Graphica.
Inicialmente uma espécie de "melhores momentos de Geraldão e sua turma" -incluídos aí Dona Marta, Zé do Apocalipse, Casal Neuras e Doy Jorge-, a revista pode começar a trazer material inédito nas próximas edições. "No começo vai ser um bauzão mesmo, com tiras do tempo em que nem tinha cor na Folha. Depois de umas duas edições, gostaria de abrir espaço para a molecada nova mostrar seu trabalho", afirma Glauco.
No primeiro número, já participam seus irmãos Orlandinho Vilas Boas, artista plástico, e Pelicano, cartunista que vem atuando na imprensa de Ribeirão Preto.
Nascido em Jandaia do Sul, interior do Paraná, Glauco Vilas Boas (sobrinho dos sertanistas) começou a publicar no início da década de 80, época em que se mudou para São Paulo e se transformou na caricatura e inspiração do próprio Geraldão: "Eu ficava muito sozinho dentro do apartamento, naquela ansiedade de não saber lidar com o tempo", lembra.
Retrato fiel de uma geração e de suas preocupações -liberação sexual, abuso de drogas, consumismo, Guerra Fria-, a galeria dos personagens do quadrinista luta hoje para se fazer entender pelas novas gerações e pelos leitores mais "intelectualizados". "Meu traço não é bom para retratar o futuro. Corro o risco de não falar a língua da moçada", preocupa-se ele, que há tempos se mudou para o meio do mato, em uma chácara no pico do Jaraguá.
Além das tiras, "Geraldão", a revista, traz algumas das charges que Glauco realizou durante as guerras do Afeganistão e do Iraque. Uma prova de que, como chargista, consegue ainda melhor do que nunca lidar com os assuntos -e com os absurdos- da atualidade. "Apesar da tristeza que é uma guerra, gostei muito do resultado [das charges]. É como passear no exterior e depois ter que voltar para casa", compara.


GERALDÃO. Autor: Glauco. Lançamento: Opera Graphica Editora. Quanto: R$ 4,90 (36 págs., cor).


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