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Cinema
Cinema busca "o ano que nunca existiu"
Mercado torce para que em 2007 floresça o "filme médio" brasileiro, para fortalecer a indústria e afastar o fiasco de 2006
Especialistas, no entanto, se dividem; alguns apostam na repetição da tendência à concentração do sucesso popular em poucos títulos
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
A temporada do cinema brasileiro nas telas começa hoje,
com a estréia de "Passageiro
-0Segredos de Adulto", de Flávio R. Tambellini.
Autor também de "Bufo &
Spallanzani" (2001) e dono de
extenso currículo como produtor ("Eu, Tu, Eles", "Cazuza",
entre outros), Tambellini é moderado ao falar das chances de
seu filme na bilheteria.
"Adoraria que, num cálculo
otimista, ele tivesse mais de
cem mil espectadores. Mas, se
der cem mil, é muito bom."
Diante dos resultados do filme nacional nos cinemas em
2006, nenhuma cautela parece
excessiva. Entre 64 títulos lançados, só dois superaram 1 milhão de espectadores -"Se Eu
Fosse Você", de Daniel Filho
(3,6 milhões), e "Didi - O Caçador de Tesouros" (1,02 milhão).
Um total de 53 filmes (82%
das estréias) teve menos de
cem mil espectadores. O dado
mais impressionante, porém, é
que 24 filmes ficaram abaixo de
5.000 espectadores, segundo o
portal especializado Filme B.
"Você fica até deprimido de
ver filmes com público de
5.000, menos que no teatro",
diz Tambellini. "Espero que este ano melhore e que a gente tenha muitos filmes médios."
Filme médio é a definição para títulos que escapam do fracasso, sem ser necessariamente
um grande sucesso, o que é
sempre a exceção. Em suma,
é a faixa de produção que garante o funcionamento regular
da indústria.
Tambellini não está sozinho
na torcida para que o Brasil experimente essa condição.
"2007 vai ser o ano que nunca
existiu, com grande força dos
filmes médios, entre 500 mil e 1
milhão de espectadores", afirma Paulo Sérgio Almeida, editor do Filme B e cineasta.
"Inesquecível"
Almeida lançará no próximo
dia 8 de junho o longa "Inesquecível", seu candidato particular a sucesso mediano.
"É um filme destinado ao jovem adulto das classes A e B",
diz, explicando porque "Inesquecível" não se encaixa no
perfil dos aspirantes a "blockbuster": "No ranking da retomada [a produção brasileira a
partir de 1995], os filmes que
estouraram geralmente têm
um pé nas classes C e D".
Rodrigo Saturnino Braga, diretor da Columbia/Buena Vista, que será responsável pelo
maior número de lançamentos
brasileiros no ano -nove, incluindo "Inesquecível"-, acha
discutível a afirmação de que as
classes C e D sejam responsáveis pelos grandes sucessos
brasileiros, "já que o parque
exibidor nacional está concentrado em grandes centros e distante dessa fatia de consumo".
Embora também tenha a expectativa de que "haja mais filmes neste ano com performances em torno de 500 mil espectadores", Saturnino Braga diz
que "a concentração do público
em poucos filmes não é nada
novo e não deve mudar".
Não é outra a expectativa do
distribuidor Bruno Wainer, da
Downtown Filmes, que lançará
seis títulos nacionais em 2007,
tendo "Antônia" (Tata Amaral),
como aposta do "grande filme".
Para Wainer, "2007 vai se
comportar como se comportaram os últimos dois ou três
anos -poucos filmes vão responder por 90% do público".
Além de "Antônia", cita "A
Grande Família", "Cidade dos
Homens" e "Tropa de Elite".
Haverá crescimento de público "entre 10% e 15%", na avaliação de Carlos Eduardo Rodrigues, diretor-executivo da
Globo Filmes, que projeta 7 milhões de espectadores para seus
lançamentos neste ano.
Rodrigues define 2006 como
um ano "atípico" e diz acreditar
que "2007 deva ter um comportamento mais equilibrado,
devido à diversidade de gêneros e temas [dos filmes]".
O secretário do Audiovisual,
Orlando Senna, acha o ano
atual "propenso a ser bom" e cita uma carta na manga do Ministério da Cultura. "Esperamos que seja o ano da implantação do Tíquete Cultura", mecanismo semelhante ao Vale
Refeição, cujos cupons poderão
ser usados para consumo de cinema e "de todas as outras expressões artísticas", diz Senna.
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