São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/"Uma Noite no Museu"

Efeitos especiais dominam trama clichê

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA, EM NOVA YORK

Sabe-se que os números podem dizer o que você quiser -basta torturá-los. Algumas estatísticas, no entanto, são muito sugestivas.
Por exemplo: o que teria levado a um aumento de 20% na freqüência ao Museu de História Natural de Nova York em relação ao mesmo período de um ano atrás?
O inverno não estava muito rigoroso e mais famílias criaram coragem para sair de casa.
Não parece mera coincidência, entretanto, que o maior êxito de bilheteria dos EUA na virada do calendário tenha sido "Uma Noite no Museu", ambientado justamente no Museu de História Natural de Nova York (mas rodado em estúdio, exceto por algumas cenas).
Museus são lugares em que a história da humanidade adquire vida, martela o filme. Nesse caso, literalmente: o apelo dessa aventura de fantasia voltada para famílias (com a chancela da Fox, e não da Disney) se concentra em uma hipótese de sonho: e se as réplicas embalsamadas de animais e seres humanos em exibição pudessem mesmo viver (ou reviver)?
Estabelecida a premissa, e garantidos os efeitos visuais de última geração que dão a ela algum "realismo", era preciso alinhavar ao menos um fiapo de história para justificar um longa-metragem sobre a idéia. Temos então um pai separado (Ben Stiller), metido a inventor e com dificuldades para arrumar emprego. O sofrimento aumenta quando o filho (Jake Cherry) diz que quer ser como
o padrasto quando crescer. Nessas circunstâncias, trabalhar como vigia noturno do Museu de História Natural, o único trabalho que aparece, tem serventia dupla: vale um salário e pode impressionar o filho. O problema é que o sujeito não consegue dar conta nem mesmo desse emprego sossegado. A culpa, claro, é do intenso movimento noturno nas galerias do museu, mas quem vai acreditar? Só vendo.
E ver, aqui, é privilégio do vigia e do espectador. A variedade é ampla: um Tiranossauro Rex, soldados do Império Romano, conquistadores do Velho Oeste, guardiões de uma tumba egípcia e um valioso dispositivo mágico. Robin Williams, Dick Van Dyke, Mickey Rooney e Owen Wilson (em papel não-creditado) dividem as estripulias com Stiller. Diretor de TV alçado ao cinema com "O Grande Mentiroso" (2002), Shawn Levy assinou outras duas comédias bem-sucedidas, "Recém-Casados" (2003) e principalmente "Doze É Demais" (2003). Está com prestígio no mercado, o que diz muito sobre como anda o cinema industrial norte-americano atualmente.
É sintomático que o filme tenha sido lançado em salas IMAX, cujas telas gigantes exibem normalmente filmes de divulgação científica com animais, pontos remotos do planeta e o espaço sideral. "Uma Noite no Museu" é seu equivalente em forma de ficção.


UMA NOITE NO MUSEU   
Direção: Shawn Levy
Produção: EUA, 2006
Com: Ben Stiller, Robin Williams
Quando: em cartaz nos cines Bristol, Villa-Lobos e circuito


Texto Anterior: Crítica: Em "O Passageiro", Tambellini retrata adolescência com sutileza e discrição
Próximo Texto: Sexta temporada de "24 Horas" vaza na internet antes da estréia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.