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Crítica/"Uma Noite no Museu"
Efeitos especiais dominam trama clichê
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA, EM NOVA YORK
Sabe-se que os números
podem dizer o que você
quiser -basta torturá-los. Algumas estatísticas, no
entanto, são muito sugestivas.
Por exemplo: o que teria levado
a um aumento de 20% na freqüência ao Museu de História
Natural de Nova York em relação ao mesmo período de um
ano atrás?
O inverno não estava muito
rigoroso e mais famílias criaram coragem para sair de casa.
Não parece mera coincidência,
entretanto, que o maior êxito
de bilheteria dos EUA na virada
do calendário tenha sido "Uma
Noite no Museu", ambientado
justamente no Museu de História Natural de Nova York
(mas rodado em estúdio, exceto por algumas cenas).
Museus são lugares em que a
história da humanidade adquire vida, martela o filme. Nesse
caso, literalmente: o apelo dessa aventura de fantasia voltada
para famílias (com a chancela
da Fox, e não da Disney) se concentra em uma hipótese de sonho: e se as réplicas embalsamadas de animais e seres humanos em exibição pudessem
mesmo viver (ou reviver)?
Estabelecida a premissa, e
garantidos os efeitos visuais de
última geração que dão a ela algum "realismo", era preciso alinhavar ao menos um fiapo de
história para justificar um longa-metragem sobre a idéia. Temos então um pai separado
(Ben Stiller), metido a inventor
e com dificuldades para arrumar emprego. O sofrimento aumenta quando o filho (Jake
Cherry) diz que quer ser como
o padrasto quando crescer.
Nessas circunstâncias, trabalhar como vigia noturno do
Museu de História Natural, o
único trabalho que aparece,
tem serventia dupla: vale um
salário e pode impressionar o
filho. O problema é que o sujeito não consegue dar conta nem
mesmo desse emprego sossegado. A culpa, claro, é do intenso movimento noturno nas galerias do museu, mas quem vai
acreditar? Só vendo.
E ver, aqui, é privilégio do vigia e do espectador. A variedade é ampla: um Tiranossauro
Rex, soldados do Império Romano, conquistadores do Velho Oeste, guardiões de uma
tumba egípcia e um valioso dispositivo mágico. Robin Williams, Dick Van Dyke, Mickey
Rooney e Owen Wilson (em papel não-creditado) dividem as
estripulias com Stiller.
Diretor de TV alçado ao cinema com "O Grande Mentiroso"
(2002), Shawn Levy assinou
outras duas comédias bem-sucedidas, "Recém-Casados"
(2003) e principalmente "Doze
É Demais" (2003). Está com
prestígio no mercado, o que diz
muito sobre como anda o cinema industrial norte-americano
atualmente.
É sintomático que o filme tenha sido lançado em salas
IMAX, cujas telas gigantes exibem normalmente filmes de divulgação científica com animais, pontos remotos do planeta e o espaço sideral. "Uma Noite no Museu" é seu equivalente
em forma de ficção.
UMA NOITE NO MUSEU
Direção: Shawn Levy
Produção: EUA, 2006
Com: Ben Stiller, Robin Williams
Quando: em cartaz nos cines Bristol, Villa-Lobos e circuito
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