São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2011

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Exposição remexe o caldeirão de Haroldo

DE SÃO PAULO

Quando era vizinho de Haroldo de Campos no bairro paulistano de Perdizes, nos anos 80, o compositor Lívio Tragtenberg costumava receber telefonemas extasiados do poeta. "Ele dizia: "Ouve isso, acabei de traduzir esse poema, vem aqui musicar.'"
Tragtenberg musicou mais de 20 poemas criados ou transcriados pelo amigo.
E concebeu experiências multimídia ousadas que nunca saíram do papel. Duas delas tomaram corpo para a exposição em homenagem a Haroldo que vai ser aberta na quarta-feira no Itaú Cultural e na Casa das Rosas, da qual o músico é um dos curadores.
A instalação audiovisual H LAXIA, que também batiza a mostra, surge como vedete da "Ocupação".
Inspirada em "Galáxias", cultuada obra experimental de Haroldo mais conhecida do público pelo trecho musicado por Caetano Veloso ("Circuladô"), a peça é um túnel de 11 metros, em espiral, iluminado por luzes psicodélicas, no qual o público assiste a vídeos e ouve trechos do livro lidos por vozes anônimas (gravados durante a última Bienal).
"Apesar de o Haroldo nunca ter tomado um ácido, as "Galáxias" têm aquele clima lisérgico dos anos 60", brinca o músico.
Numa cabine de áudio, o visitante poderá também gravar sua leitura de "Galáxias", que será de pronto incorporada ao trabalho. O túnel leva a um "útero", onde estão expostos objetos do acervo de Haroldo, revelam seu "paideuma" (grupo de autores referenciais) e sua troca com intelectuais.
Estão lá as "marginálias" (anotações que ele fazia nas laterais dos livros), recortes de jornais acumulados por 50 anos, edições raras, dedicatórias de amigos como Octavio Paz, Umberto Eco e João Cabral de Mello Neto.
Se H LAXIA, instalada no Itaú, explora a figura do intelectual múltiplo, as salas da Casa das Rosas (centro vizinho que conserva o acervo do escritor e que, vale lembrar, chama-se Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura) se atêm às fases e à profusão da obra poética.
Estarão lá as salas "â mago do ô mega", com cartazes originais da exposição concretista de 56 (pintados com esmalte por Carmem, mulher e parceira de Haroldo); "Percurso Poético" (fase da "poesia do cotidiano"); "A Máquina do Mundo Repensada" e o móbile "Do Céu ao Chão". No espaço externo da Casa, estarão totens com trechos do poema "Servidão de passagem". Feliz coincidência, o local, que liga a avenida Paulista à alameda Santos, é de fato, uma servidão -passagem, para uso do público, por terreno particular.
Para o poeta Frederico Barbosa, curador junto com Gênese Andrade, Marcelo Tápia e Tragtenberg, é uma chance de mostrar que Haroldo foi bem mais que um poeta concreto.
"Ele só fez poesia concreta de 1955 a 1960", diz Barbosa, filho do crítico João Alexandre Barbosa (1937-2006) e que conheceu Haroldo quando era criança, tornando-se seu amigo e discípulo.

H LAXIA - OCUPAÇÃO
HAROLDO DE CAMPOS

QUANDO abertura na quarta, às 20hs; de ter. a sex., 9h às 20h; sáb., dom. e feriados, 11h às 20h (Itaú Cultural); e ter. a sáb., 10h às 22h; dom. e feriados, 10h às 18h (Casa das Rosas); até 10/4
ONDE Itaú Cultural (av. Paulista, 149, tel. 0/xx/11/2168-1776) e Casa das Rosas (av. Paulista, 37, tel. 0/xx/11/3285-6986)
QUANTO grátis



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