São Paulo, sábado, 12 de março de 2005

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Nonagenários, Oscar Niemeyer, Tomie Ohtake e Franz Weissmann abrem mostra hoje no Rio

300 anos de arte

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Franz Weissmann, 93, e Oscar Niemeyer, 96, subiram ontem a rampa do Museu de Arte Contemporânea de Niterói desafiando, mais do que o aclive, a inércia. Eles foram ver a mostra "A Poética da Forma", que reúne trabalhos deles e de Tomie Ohtake, 91, três nonagenários que permanecem em atividade e se renovando.
Ohtake não participou da abertura para convidados exatamente por causa do excesso de atividade. Ficou em São Paulo por ter sentido fortes dores nas costas enquanto trabalhava nas obras de grandes dimensões que comporão sua nova exposição, a ser aberta em abril na Nara Roesler.
A mostra abre hoje para o público reunindo 11 telas de Ohtake, seis esculturas de Weissmann e vários desenhos e projetos arquitetônicos de Niemeyer, também inventor do formato "disco voador" do museu de Niterói.
"A exposição lembra a importância da integração entre arquitetura, pintura e escultura. Estou ao lado de dois artistas formidáveis e, como em toda mostra de trabalhos meus, defendendo que é preciso mudar a realidade, que os arquitetos devem pensar nisso", afirmou Niemeyer.
Para Weissmann, é possível estabelecer relações de afinidade e complementaridade entre as obras dos três artistas. "Ele [Niemeyer], por exemplo, trabalha com o concreto, enquanto eu trabalho com o vazio", disse, referindo-se aos espaços vazados que caracterizam suas esculturas.
"Em comum, os três têm a relação com os movimentos abstracionistas e geométricos, mas sem fazer disso uma regra, um compromisso obrigatório. Acabaram criando um olhar brasileiro, como se dissessem: "Vamos aceitar todos os movimentos, mas interpretar à nossa maneira'", ressaltou o curador Marcus Lontra.
As curvas que Niemeyer criou partindo do ideário modernista são uma das provas dessa liberdade criativa, segundo Lontra. Na exposição, estão projetos de toda a vida de Niemeyer, do pioneiro Conjunto da Pampulha, de Belo Horizonte, até o recente complexo turístico da hidrelétrica de Itaipu, na fronteira com o Paraguai.
Também há desenhos de mulheres, da natureza e fazendo alusão a questões políticas, acompanhados de textos de Niemeyer. Em um deles, ataca o capitalismo afirmando que "o bando de [George] Bush" está ameaçando o Brasil e a América Latina.
Segundo Lontra, o arquiteto influenciou as escolhas dos trabalhos dos colegas. "Procurei pôr obras em que houvesse essa evidência do círculo, para dialogar com o museu. Em Weissmann isto é marcante, e em Tomie busquei várias fases, mas que mostrassem meias-luas, círculos."
As esculturas de Weissmann suscitaram maiores preocupações. Bruno Contarini, calculista de Niemeyer, foi chamado para avaliar se as rampas suportariam o peso das peças, entre elas "Flor Mineral", de 920 kg. Deu o aval.


A Poética da Forma
Quando:
de hoje a 13/6, de ter. a dom., das 10h às 19h
Onde: MAC de Niterói (Mirante da Boa Viagem, s/nš, tel. 0/xx/21/2620-2400)
Quanto: R$ 4 (entrada franca às quartas)


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