São Paulo, segunda-feira, 12 de março de 2007

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A lucrativa morte do Capitão América

Em estratégia mercadológica da editora norte-americana Marvel, o personagem é assassinado de novo

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A editora Marvel anunciou na semana passada a morte do Capitão América. Steve Rogers, o homem que veste o uniforme inspirado na bandeira norte-americana, foi baleado e morreu na revista "Captain America" número 25.
Será um truque? Um clone? Um sósia? Joe Quesada, editor-chefe da Marvel, afirmou em entrevistas que Rogers morreu mesmo, e o que acontecerá nas histórias agora será a definição de seu sucessor. E quanto vale uma morte nas histórias de super-heróis?
Peguemos o exemplo de Steve Rogers. Em 1978, ele foi assassinado por uma criatura conhecida como Inimigo. Na minissérie "Guerras Secretas", de 1984, ele é morto ao combater o Doutor Destino três vezes em uma mesma história, um recorde. Em "Desafio Infinito", de 1991, Thanos tem a "honra" de assassiná-lo. Um novo óbito em 1996, em batalha contra o Massacre. E ele sempre voltou. Por que assassiná-lo mais uma vez?
A resposta é: para vender mais. O Capitão América já é um personagem popular, mas o mercado de super-heróis tem fortes concorrentes: Superman, Homem-Aranha, Batman. Então, o que pode fortalecer um personagem?
Um filme, certamente, mas é bem caro e o retorno pode não ser o esperado, como o mal recebido "Elektra". Um ótimo roteirista também, mas achar alguém para sua revista assim não é fácil ou rápido.

Coerência?
Há outra maneira: apelando. Isso significa inventar algo que vá ser revertido em poucos meses, mas que possa ser divulgado como "corajoso" ou "revolucionário". Matar o Superman, por exemplo, ou aleijar o Batman. Ou descobrir que todas as histórias do Homem-Aranha publicadas nos últimos 19 anos não eram do Homem-Aranha, mas de um clone.
A coerência não importa, nem a qualidade da história. Depois é só voltar atrás: o Superman ressuscitou, o Batman voltou a andar e o Homem-Aranha, veja só, sempre foi o Homem-Aranha, ufa.
Matar um personagem como o Capitão América pode ser uma boa decisão, se levada adiante. Como seus amigos reagiriam? E os heróis e vilões? Por outro lado, pode ser péssimo. Houve a notícia, o burburinho e, poucos meses depois, é hora de ressuscitar: era um "skrull"! Um "superadaptóide"! Um irmão gêmeo!
Aqueles que só compraram porque acharam a notícia da "morte" divertida não vão ligar. O personagem é da editora, que faz dele o que quiser. Mas ninguém gosta de ser feito de bobo. E, se o leitor assíduo, que é o mais importante, sentir-se assim, como ele pode reagir? Parando de ler. Com razão.


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