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A lucrativa morte do Capitão América
Em estratégia mercadológica da editora norte-americana Marvel, o personagem é assassinado de novo
PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A editora Marvel anunciou
na semana passada a morte do
Capitão América. Steve Rogers,
o homem que veste o uniforme
inspirado na bandeira norte-americana, foi baleado e morreu na revista "Captain America" número 25.
Será um truque? Um clone?
Um sósia? Joe Quesada, editor-chefe da Marvel, afirmou em
entrevistas que Rogers morreu
mesmo, e o que acontecerá nas
histórias agora será a definição
de seu sucessor. E quanto vale
uma morte nas histórias de super-heróis?
Peguemos o exemplo de Steve Rogers. Em 1978, ele foi assassinado por uma criatura conhecida como Inimigo. Na minissérie "Guerras Secretas", de
1984, ele é morto ao combater o
Doutor Destino três vezes em
uma mesma história, um recorde. Em "Desafio Infinito", de
1991, Thanos tem a "honra" de
assassiná-lo. Um novo óbito em
1996, em batalha contra o Massacre. E ele sempre voltou. Por
que assassiná-lo mais uma vez?
A resposta é: para vender
mais. O Capitão América já é
um personagem popular, mas o
mercado de super-heróis tem
fortes concorrentes: Superman, Homem-Aranha, Batman. Então, o que pode fortalecer um personagem?
Um filme, certamente, mas é
bem caro e o retorno pode não
ser o esperado, como o mal recebido "Elektra". Um ótimo roteirista também, mas achar alguém para sua revista assim
não é fácil ou rápido.
Coerência?
Há outra maneira: apelando.
Isso significa inventar algo que
vá ser revertido em poucos meses, mas que possa ser divulgado como "corajoso" ou "revolucionário". Matar o Superman,
por exemplo, ou aleijar o Batman. Ou descobrir que todas as
histórias do Homem-Aranha
publicadas nos últimos 19 anos
não eram do Homem-Aranha,
mas de um clone.
A coerência não importa,
nem a qualidade da história.
Depois é só voltar atrás: o Superman ressuscitou, o Batman
voltou a andar e o Homem-Aranha, veja só, sempre foi o Homem-Aranha, ufa.
Matar um personagem como
o Capitão América pode ser
uma boa decisão, se levada
adiante. Como seus amigos reagiriam? E os heróis e vilões?
Por outro lado, pode ser péssimo. Houve a notícia, o burburinho e, poucos meses depois, é
hora de ressuscitar: era um
"skrull"! Um "superadaptóide"!
Um irmão gêmeo!
Aqueles que só compraram
porque acharam a notícia da
"morte" divertida não vão ligar.
O personagem é da editora, que
faz dele o que quiser. Mas ninguém gosta de ser feito de bobo.
E, se o leitor assíduo, que é o
mais importante, sentir-se assim, como ele pode reagir? Parando de ler. Com razão.
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