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São Paulo, sábado, 12 de abril de 2003

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LIVROS/LANÇAMENTOS

GEOPOLÍTICA

Livrarias apresentam mais obras estrangeiras, nem sempre atuais

Guerra no Iraque traz o país de volta às prateleiras

PAULO DANIEL FARAH
ESPECIAL PARA A FOLHA

A guerra no Iraque já está trazendo de volta às estantes das livrarias obras sobre a história, a política e a cultura desse país, tal como acontecera em 1991.
Como de praxe quando se trata de temas relacionados à geopolítica ou ao Oriente Médio, faltam obras redigidas por brasileiros e destacam-se traduções de obras estrangeiras, nem sempre atuais.
Com experiência em coberturas de países árabes e da política externa de Washington, os jornalistas Patrick e Andrew Cockburn apresentam um panorama fundamentado do regime de Saddam Hussein e das mudanças de estratégia norte-americanas (como a incitação aos levantes de curdos e xiitas e o posterior abandono dos insurgentes à própria sorte) que levaram ao fortalecimento do ex-ditador em "Saddam Hussein: Renascido das Cinzas", de 1999.
O livro analisa a ascensão de Saddam, da chegada ao poder do partido Baath, em 1968, à época em que ele depôs Ahmad Hassan Bakr e se tornou o presidente iraquiano, em 1979, intensificando a repressão aos dissidentes e membros do comando do Baath. "Não sobrou ninguém para enfrentar Saddam", resumem os autores, que defendem a tese de que sua sobrevivência como ditador só foi possível por causa de uma sucessão de "erros" da Casa Branca.
O terror provocado por Uday, filho de Saddam que é temido em Bagdá ao ponto de os restaurantes se esvaziarem com a sua presença, é descrito com detalhes.
Os Cockburn relatam ainda os efeitos desastrosos do embargo econômico imposto em 1991: "Ninguém sabe ao certo quantas pessoas morreram como resultado das sanções, mas organismos internacionais respeitáveis referem-se a cerca de meio milhão de baixas entre as crianças. Esse número... se aproxima realmente da marca dos holocaustos modernos de Ruanda e Camboja".
"O bloqueio econômico não enfraqueceu a força do regime... O maior erro de todos foi, para acossar Saddam, fazer todo o povo iraquiano pagar o preço. Um dia a conta será cobrada", afirmam os autores no parágrafo que encerra o último capítulo, "Fim de Jogo". Os erros de transliteração e as trocas de letras em nomes árabes não chegam a comprometer o livro.
As entrevistas com Tarek Aziz que formam a obra "Iraque: A Guerra Permanente" ajudam a compreender um pouco o regime de Saddam sob a ótica de um de seus membros, o vice-premiê iraquiano -há que se descontar a defesa que Aziz faz do ex-ditador, descrito como "um dirigente imparcial e sincero, que ama seu povo". A conservação da grafia francesa de nomes como Oudaï e Qusaï dificulta a leitura.
A obra "Iraque: Plano de Guerra" examina as políticas adotadas por Londres e Washington nos últimos 13 anos e alega que "os Estados Unidos participaram ativamente da implosão da primeira agência de inspeção de armas da ONU... com o intuito de impor ao Iraque um outro general".
Quem se interessa pela história antiga da região deve ler "Mesopotâmia, a Invenção da Cidade", da antropóloga e assirióloga Gwen dolyn Leick. "A idéia da cidade como um conceito heterogêneo, complexo, desordenado, em permanente mudança, mas basicamente viável para a sociedade humana foi uma criação mesopotâmica", afirma Leick.


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