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LIVROS/LANÇAMENTOS
GEOPOLÍTICA
Livrarias apresentam mais obras estrangeiras, nem sempre atuais
Guerra no Iraque traz o país de volta às prateleiras
PAULO DANIEL FARAH
ESPECIAL PARA A FOLHA
A guerra no Iraque já está trazendo de volta às estantes das livrarias obras sobre a história, a
política e a cultura desse país, tal
como acontecera em 1991.
Como de praxe quando se trata
de temas relacionados à geopolítica ou ao Oriente Médio, faltam
obras redigidas por brasileiros e
destacam-se traduções de obras
estrangeiras, nem sempre atuais.
Com experiência em coberturas
de países árabes e da política externa de Washington, os jornalistas Patrick e Andrew Cockburn
apresentam um panorama fundamentado do regime de Saddam
Hussein e das mudanças de estratégia norte-americanas (como a
incitação aos levantes de curdos e
xiitas e o posterior abandono dos
insurgentes à própria sorte) que
levaram ao fortalecimento do ex-ditador em "Saddam Hussein:
Renascido das Cinzas", de 1999.
O livro analisa a ascensão de
Saddam, da chegada ao poder do
partido Baath, em 1968, à época
em que ele depôs Ahmad Hassan
Bakr e se tornou o presidente iraquiano, em 1979, intensificando a
repressão aos dissidentes e membros do comando do Baath. "Não
sobrou ninguém para enfrentar
Saddam", resumem os autores,
que defendem a tese de que sua
sobrevivência como ditador só foi
possível por causa de uma sucessão de "erros" da Casa Branca.
O terror provocado por Uday,
filho de Saddam que é temido em
Bagdá ao ponto de os restaurantes
se esvaziarem com a sua presença,
é descrito com detalhes.
Os Cockburn relatam ainda os
efeitos desastrosos do embargo
econômico imposto em 1991:
"Ninguém sabe ao certo quantas
pessoas morreram como resultado das sanções, mas organismos
internacionais respeitáveis referem-se a cerca de meio milhão de
baixas entre as crianças. Esse número... se aproxima realmente da
marca dos holocaustos modernos
de Ruanda e Camboja".
"O bloqueio econômico não enfraqueceu a força do regime... O
maior erro de todos foi, para acossar Saddam, fazer todo o povo iraquiano pagar o preço. Um dia a
conta será cobrada", afirmam os
autores no parágrafo que encerra
o último capítulo, "Fim de Jogo".
Os erros de transliteração e as trocas de letras em nomes árabes não
chegam a comprometer o livro.
As entrevistas com Tarek Aziz
que formam a obra "Iraque: A
Guerra Permanente" ajudam a
compreender um pouco o regime
de Saddam sob a ótica de um de
seus membros, o vice-premiê iraquiano -há que se descontar a
defesa que Aziz faz do ex-ditador,
descrito como "um dirigente imparcial e sincero, que ama seu povo". A conservação da grafia francesa de nomes como Oudaï e Qusaï dificulta a leitura.
A obra "Iraque: Plano de Guerra" examina as políticas adotadas
por Londres e Washington nos
últimos 13 anos e alega que "os Estados Unidos participaram ativamente da implosão da primeira
agência de inspeção de armas da
ONU... com o intuito de impor ao
Iraque um outro general".
Quem se interessa pela história
antiga da região deve ler "Mesopotâmia, a Invenção da Cidade",
da antropóloga e assirióloga
Gwen dolyn Leick. "A idéia da cidade como um conceito heterogêneo, complexo, desordenado,
em permanente mudança, mas
basicamente viável para a sociedade humana foi uma criação
mesopotâmica", afirma Leick.
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