|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NA REDE
remixer.com
Documentário discute direito autoral na era da informação a partir do produtor americano Girl Talk; diretor gravou parte do filme no Brasil
BRUNA BITTENCOURT
DA REPORTAGEM LOCAL
Sob a alcunha de Girl Talk, o
produtor americano Gregg Gillis ficou conhecido por seus excêntricos mash ups, nos quais
se apropria de dezenas de trechos de músicas de outros artistas, editados e rearranjados,
para criar novas faixas.
Mas, para lançar cada um dos
seus quatro álbuns, Gillis teria
de ter desembolsado US$ 4,2
milhões com licenças para editoras e gravadoras -o que nunca aconteceu. O cálculo foi feito
pelo diretor canadense Brett
Gaylor em "RIP: a Remix Manifesto", documentário que parte
de Gillis para discutir o direito
autoral na era da informação e
que agora está disponível em
www.ripremix.com/ripit.
"Sempre houve uma tensão
entre a internet e as ideias tradicionais que cercam propriedade intelectual", diz Gaylor,
32, em entrevista à Folha.
Em "RIP", o diretor defende
a chamada cultura de remix, na
qual, a partir do download -seja de uma música, seja de um
filme-, internautas podem
transformar uma obra já conhecida em algo novo, como
sugere ser o caso de Gillis. "É
uma forma de cidadãos não serem mais só consumidores,
mas de se tornaram criadores."
No filme, a cultura de remix é
defendida pela flexibilização da
atual legislação que protege a
propriedade intelectual -pela
qual o uso de qualquer trecho
de uma música sem autorização é passível de processo.
O filme trata desde a batalha
do Napster até a atuação das
grandes corporações, detentoras de gravadoras e estúdios,
para que as regras do jogo não
mudem. O diretor ouve, entre
outros, Lawrence Lessig, fundador do Creative Commons
-organização que disponibiliza licenças flexíveis para obras
intelectuais. Para Gaylor, tal
proposta é uma das melhores
alternativas para o embate dos
direitos autorais.
"É uma solução razoável que
permite aos artistas declararem que seu trabalho pode ser
sampleado, mas sem abrir mão
de seus direitos comerciais, caso a obra venha a ser usada com
fins lucrativos", diz o diretor.
"A única alternativa para o futuro é restaurar o equilíbrio do
direito autoral. Atualmente, há
muita coisa nas mãos das grandes corporações."
Neste mês, enquanto ainda
apresentava "RIP" em festivais
de cinema, Gaylor disponibilizou o filme para download com
a intenção de permitir às pessoas que "remixem, adicionem
e melhorem" o documentário.
"Me inspirei no movimento
do open source [código aberto], em que programadores e
hackers criam softwares colaborativamente", diz Gaylor sobre o que ele chama de "cinema open source", instrumento
que usou para permitir que o
público interfira em seu filme.
"Foi também um jeito de adotar algumas das ideias das
quais o filme fala e de provar
que elas podem ser um modelo
novo, atual."
Brasil como exemplo
O Brasil ocupa uma significativa fatia do filme. Gaylor diz
acreditar que o país tem muito
a ensinar. Em passagem pelo
Rio, conversou com Gilberto
Gil, que levou o Creative Commons a um debate público
quando ainda era ministro da
Cultura. "É inspirador que a
América do Norte veja isso."
Enquanto a discussão se
aquece, o Girl Talk segue lançando seus discos por um selo
especializado em samples, batizado de Illegal Art. E Gillis
afirma que, até hoje, nunca foi
processado.
Texto Anterior: João Pereira Coutinho: "Heliopolis" Próximo Texto: Para advogado, legislação está desatualizada Índice
|