São Paulo, terça-feira, 12 de junho de 2007

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Crítica/52ª Bienal de Veneza

Principal exposição tenta agradar a todos e evita assumir riscos

Entre os destaques da mostra, o conjunto do brasileiro Iran do Espírito Santo e as favelas dos meninos do Morrinho

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

"Pense com os sentidos, sinta com a mente", a principal seção da 52ª. Bienal de Veneza, com curadoria do norte-americano Robert Storr, é uma mostra que busca agradar a todo tipo de público.
Sem tomar uma posição clara frente às diversas vertentes da produção atual, o que até poderia ser uma positiva afirmação da diversidade, o curador acabou por conceber uma exposição sem riscos e um tanto esquizofrênica na ocupação dos espaços.
No Arsenale, um galpão agigantado e fora dos padrões do tradicional cubo branco, estão os trabalhos mais experimentais e políticos, grande parte deles bastante relacionados às obras da última Bienal de São Paulo, "Como Viver Junto", como as cercas de arame farpado em formato circular do argelino Adel Abdessemed.
Nessa seção, Storr defende uma arte que não se omite das relações com o contexto, mas que muitas vezes é ilustrativa demais em relação a ele, como "Bouncing Skull", do italiano Paolo Canevari, vídeo de um garoto fazendo embaixadas com uma caveira no quartel do Exército iugoslavo na bombardeada Belgrado, em 1999.
Nem todas as obras são tão óbvias, caso da instalação "Tijuanatangierchandelier", de Jason Roades, que, com neons e tapetes instalados de forma caótica, cria um acolhedor ambiente numa referência a regiões pobres.

Brasileiro
Entretanto, a segunda parte da mostra, no Pavilhão Italiano do Giardini, parece concebida por outro curador, pois aí o contexto não é mais questão fundamental, como ocorre com muitas das pinturas expostas, casos das obras de Gerhard Richter e Robert Ryman, entre outros. Nesse caso, um destaque merecido é o brasileiro Iran do Espírito Santo, com um conjunto surpreendente.
Mas há quem fale do contexto também, como a francesa Sophie Calle, que aborda a morte da mãe, ou a homossexualidade como tema das obras de Felix Gonzalez-Torres e Leonilson. A montagem convencional e institucional, contudo, diminui muito o poder das obras -é absurdo que os trabalhos de Leonilson estejam emoldurados, pois o artista era contra esse procedimento.
Diretor do MoMA de Nova York por muitos anos, Storr carregou para a Bienal a tendência de curadores de museus institucionalizarem por demais a arte. Dos poucos riscos assumidos pelo curador, as favelas dos meninos do Morrinho, no Rio, montadas fora do pavilhão, são um raro momento de surpresa da mostra.


52ª Bienal de Arte de Veneza
Quando:
de ter. a sex., das 10h às 18h; até 21/11
Onde: Arsenale e Giardini
Avaliação: regular


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