São Paulo, terça-feira, 12 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mostra paralela é a que causa mais entusiasmo

DO ENVIADO A VENEZA

Nos últimos dias, os comentários mais entusiasmados sobre arte, em Veneza, não recaíram sobre a Bienal ou um dos 36 eventos oficiais relacionados a ela, mas sim para a pequena e surpreendente "Artempo -Quando o Tempo Se Torna Arte", que segue até 7 de outubro, no Pallazzo Fortuny.
O palácio do século 14, em estilo bizantino, antiga sede de uma fábrica de tecidos, reuniu um time de quatro curadores que incluiu Jean-Hubert Martin, o responsável por "Magiciens de la Terra" (que quer dizer mágicos da terra), no Centro Pompidou, em 1989, que se tornou lendária ao reunir lado a lado artistas europeus, asiáticos, africanos e latinos, como Cildo Meireles.
O sucesso de "Artempo" -a fila para entrada chegava a quase uma hora no último fim de semana- se baseia em dois princípios: realizar diálogos inesperados e ativar o espaço do próprio palácio.

Ousadia
No primeiro caso, os curadores se mostraram ousados em suas relações, como ao expor uma das emblemáticas telas cortadas de Lucio Fontana junto a uma cadeira com tecido parecido, ou uma escultura do século 18, da cabeça de uma mulher com véu, em mármore de carrara, junto com o vídeo da cabeça de uma mulher com o cabelo se movendo lentamente, de Yael Davids, de 2001.
Já no segundo caso, o Fortuny mantém seu mobiliário e as paredes forradas de tecidos reunidos ao longo dos séculos e, nesse ambiente, as obras contemporâneas praticamente desaparecem no espaço, criando uma espécie de charada, que o visitante precisa desvendar.
Por exemplo: é difícil perceber a diferença entre uma escultura de Louise Bourgeois e uma esfera fálica do século 2 a.C., enquanto a marcação temporal em textos budistas se torna tão contemporânea como uma obra de On Kawara.
Ao expor num ambiente tão inusitado nomes como Francis Bacon, Marina Abramovic, Marcel Duchamp, Anish Kapoor, Yves Klein ou Thomas Ruff, Martin e seu grupo reafirmam que curadores ainda têm muito a dizer.


Texto Anterior: Crítica/52ª Bienal de Veneza: Principal exposição tenta agradar a todos e evita assumir riscos
Próximo Texto: Exposição comemora 80 anos de Flavio-Shiró
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.