São Paulo, terça-feira, 12 de junho de 2007

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Exposição comemora 80 anos de Flavio-Shiró

Mostra, a ser realizada em agosto de 2008 no Instituto Tomie Ohtake, integrará os festejos do centenário da imigração japonesa

LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Flavio-Shiró tem raízes diversas. O artista -que se define como "uma figueira brava, ligado a três continentes por raízes aéreas, alimentadas por seivas complementares e de contraste"- nasceu no Japão e emigrou para a Amazônia aos 3 anos. Há 50 anos, divide seu tempo entre a França e o Brasil.
Depois de expor em Paris, em maio, na embaixada brasileira, Shiró mergulha em nova exposição que tem um grande valor simbólico: será inaugurada em São Paulo, em agosto do ano que vem, no Instituto Tomie Ohtake, no contexto do centenário da imigração japonesa. Além disso, com essa mostra Flavio-Shiró comemora seus 80 anos, que completa em 27 de agosto de 2008. A exposição terá curadoria de Paulo Herkenhoff e reunirá obras de 1941 até as atuais que está pintando.
A exposição de São Paulo só ganhará contornos definitivos quando o artista for ao Brasil este ano para um encontro com Herkenhoff e Ricardo Ohtake.
Todo ano, Shiró passa os meses de julho a dezembro no Rio, onde tem casa, perto da igreja da Glória, restaurada por ele próprio, como o apartamento de Paris, no bairro do Marais.
Ao explicar por que se instalou no Rio e não em São Paulo, onde passou a juventude, Flavio-Shiró diz que ama as cidades femininas como Rio, Paris e Veneza. E foi por estar no Rio que o artista não viveu o terrível verão parisiense de 2003, quando várias pessoas, sobretudo idosos, morreram, em conseqüência do calor. Entre os mortos na "canicule", seu amigo, o fotógrafo carioca Alécio Andrade. "Um carioca vir morrer de calor em Paris é uma grande ironia do destino", diz.
Quando Shiró recebeu a Folha em seu apartamento térreo, que tem jardim interno e até mesmo uma árvore frondosa, estava totalmente envolvido nos preparativos da exposição da sala Krajcberg, na embaixada. O artista ficou feliz com o debate em que o então candidato Nicolas Sarkozy lançou condenando a herança de maio de 68. Sua exposição ganhou em atualidade pois se chamava "Autour de 1968" e tinha telas dessa época, além de algumas fotos que ele fez dos conflitos nas ruas de Paris. O acaso quis que maio de 68 voltasse aos jornais, "reciclando" a exposição.
O apartamento do artista no Marais fica num prédio do século 15, repleto de história. Ele próprio reformou totalmente o local, que tinha se transformado em depósito do antigo mercado Les Halles. O belo apartamento, construído com pedras mais antigas que o Brasil, foi minuciosamente decorado com objetos escolhidos pelo olho exigente de Shiró.
Apesar do orgulho de mostrar seu trabalho como arquiteto e decorador, Shiró faz uma restrição. Ninguém tem autorização para ver o ateliê, o santo dos santos, vedado a artistas, críticos e curiosos.
Por isso, os quadros da exposição do ano que vem são segredo bem guardado pelo artista, que a embaixadora do Brasil na França, Vera Pedrosa, define como "um sábio".


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