São Paulo, sexta-feira, 12 de junho de 2009

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crítica

"Festa" é início promissor de Nachtergaele

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

"A Festa da Menina Morta" é um filme até certo ponto desconcertante pela ficção que envolve: uma cidade ribeirinha do Amazonas promove a santo um jovem após ele receber de um cachorro o vestido rasgado de uma menina desaparecida.
Certas coisas são animadoras nessa estreia, desde a visada sobre o misticismo até a observação detida da vida de um lugarejo ilhado. Uma população fora do espaço e do tempo, onde se encontram referências de "ir a Manaus", como quem busca perspectiva dentro da realidade. Porque uma das virtudes do filme talvez seja essa: levar o espectador a se perguntar todo o tempo sobre o que, de fato, está vendo: qual o sentido das imagens? Matheus Nachtergaele não permite ao sentido repousar alegremente nas coisas filmadas.
O mundo que se vê é um mistério porque o mundo é um mistério. Por exemplo: a essa festa razoavelmente macabra podemos apor umas tantas dúvidas. Se a menina morta continuou morta, qual o milagre de Santinho? O que se impõe é a necessidade de a população vivenciar um acontecimento superior, que dê conta da existência de Deus, de sua presença entre os homens. Santinho cumpre a função, por mais frágil que seja a história da menina -ou justamente por isso: quanto mais frágil, mais evidente é a necessidade da crença.
O segundo aspecto desconcertante é menos animador. Vendo o filme se tem a impressão de reencontrar a estética do cinema novo, a ideia de um "Brasil autêntico" que se buscava nos anos 60. Nada contra isso, que de certa forma já teve seu tempo, o que se reflete numa falta de força maior de boa parte das imagens.
Não reforça o filme, até onde pude entender, a relação incestuosa pai-filho. Ela não parece motivada o bastante para existir. Não é questão de moral, mas de construção, algo não muito bem colocado nesta estreia promissora de Nachtergaele como diretor.


Avaliação: bom




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