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CRÍTICA DIÁLOGOS
Fim do livro estimula bate-papo inteligente
Eco e Carrière debatem o futuro dos volumes impressos na era moderna
BIA ABRAMO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Depois de ler "Não Contem
com o Fim do Livro", pode-se
ficar convencido da afirmação contida no título e que é
repetida, argumentada e explicada por Umberto Eco e
Jean-Claude Carrière ao longo de 272 páginas. Ou não.
O vaticínio sobre o futuro
dos livros, ou ainda, do livro
como o suporte privilegiado
da informação, entretanto, é
apenas o ponto de partida
para uma interessantíssima
rodada de conversas entre os
dois intelectuais.
Ambos são bibliófilos, bibliômanos, colecionadores
obsessivos, mas, sobretudo,
conversadores privilegiados.
O humor e um enorme
apego por histórias e anedotas habitam os diálogos, realizados nas casas de Carrière,
em Paris, e de Eco, em Monte
Cerignone (Itália), com mediação do jornalista Jean-Phillipe de Tonnac.
Além de partilhar a mania
por livros e o gosto pela conversa, Eco e Carrière são da
mesma geração (ambos nasceram no início da década de
30) e atravessaram boa parte
da história intelectual do século 20, Eco estudando semiologia, comunicação e história medieval e escrevendo
romances; Carrière, fazendo
roteiros para vários diretores,
entre eles Luis Buñuel, Jacques Tati e Peter Brook.
CONHECIMENTO
Portanto a conversa entre
os dois, mesmo que o mote
seja um clichê (acabam-se os
livros, diante das novas tecnologias?), é, ao mesmo tempo, um sobrevoo divertido
sobre as aventuras da história do conhecimento humano mas também uma rara
ocasião de privar da companhia de dois intelectuais com
uma possibilidade de construir uma erudição diversificada e, uau, gigantesca.
Generosos, neles a erudição não é pretexto para discussões impenetráveis, mas
serve para iluminar um raciocínio provocador com histórias divertidas como a do
linguista sueco que dedicou
a escrever nada menos que
3.000 páginas a fim de demonstrar que o sueco era a
língua original de Adão.
Ou com observações sobre
a natureza do colecionador,
exemplificada com uma passagem relatada por Carrière a
respeito do enorme esforço
despendido por José Mindlin
para obter um exemplar da
primeira edição de "O Guarani" e a indiferença que lhe
causou a leitura do volume...
No meio de tantas histórias divertidas e fascinantes
sobre como a humanidade
vem produzindo e armazenando informação, a questão
inicial empalidece de tal forma que já não importa mais.
O que importa de fato é garantir, para o futuro, a continuidade do conhecimento e
da capacidade de rir de si
mesmo. O resto é detalhe.
NÃO CONTEM COM O FIM
DOS LIVROS
AUTORES Umberto Eco e Jean-Claude Carrière
TRADUÇÃO André Telles
EDITORA Record
QUANTO R$ 39,90 (272 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo
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