São Paulo, terça-feira, 12 de julho de 2011

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Autor do pavilhão do Brasil em Veneza cai no ostracismo

Boa parte dos projetos do arquiteto Henrique Mindlin, que completaria cem anos em 2011, está descaracterizada

Finalista no concurso do plano de Brasília fez projetos importantes no Rio, como o Avenida Central e a sede do "JB"

DO ENVIADO AO RIO

Um gigante no centro do Rio -e o homem por trás dele- andam meio esquecidos. Henrique Mindlin, arquiteto que desenhou o arranha-céu Avenida Central, faria cem anos neste ano e morreu neste mês há 40 anos. Mas nem a dupla efeméride tem servido para resgatar sua memória.
"É preciso ter olho para ver o Mindlin, ele é discreto demais", comenta Ana Luiza Nobre, professora de arquitetura da PUC do Rio que escreveu um capítulo de seu doutorado sobre o arquiteto.
"Se você espera encontrar surpresa, algo que seduza pela forma, não vai encontrar", diz Nobre. "Ele era a contenção, a sobriedade."
Mesmo discreto, Mindlin foi um dos finalistas no concurso que elegeu o plano urbanístico de Brasília, projetou o pavilhão brasileiro nos jardins da Bienal de Veneza e outros dois marcos arquitetônicos do Rio, o antigo Banco do Estado da Guanabara e a sede do "Jornal do Brasil", hoje um centro ortopédico.
São todos projetos que se destacam na história da arquitetura por seus traços minimalistas, de contenção formal absoluta e completa inserção no entorno, prédios que se camuflam no tecido urbano ao contrário das linhas grandiosas de Oscar Niemeyer e da escola carioca.
"Eram duas tendências, uma formalista e outra que só tentava resolver as necessidades do projeto", lembra Walmyr Amaral, arquiteto que trabalhou com Mindlin e chegou a chefiar seu escritório nos anos 50. "No nosso trabalho havia uma ligação muito maior entre os aspectos funcionais e formais."
Talvez por isso a firma de Mindlin teve clientes de sobra e acabou implantando um método para desenvolver projetos em equipe, um pouco distante da noção de autor que surgia na arquitetura nacional e mais próximo dos escritórios americanos, com os quais tinha forte contato.

PERFIL COSMOPOLITA
Mindlin, atento ao que se fazia nos Estados Unidos, foi amigo do arquiteto Richard Neutra, autor de projetos ortogonais, de funcionalidade exacerbada, uma herança visível na obra que desenvolveu no Rio e em São Paulo.
Além do trabalho como arquiteto, Mindlin compilou boa parte da produção arquitetônica moderna no país no livro "Arquitetura Moderna no Brasil", lançado em 1956.
"Ele tinha esse perfil mais cosmopolita, uma mentalidade que vai na contramão da poética pessoal", analisa Nobre. "Tem a ver com isso a ideia de entregar a ele a obra do pavilhão em Veneza."
Na cidade italiana, a construção, espécie de casa de concreto armado dividida em dois módulos, já esteve em situação bastante precária e passou por pequenas reformas nos últimos quatro anos.
Em estado mais grave, alguns de seus projetos no Rio estão descaracterizados. A antiga sede do "Jornal do Brasil", por exemplo, passou anos vazia e se deteriorou até ser convertida em clínica.
"Ele foi depredado, arrancaram as esquadrias, vandalizaram tudo", diz Nobre. "É uma grosseria, uma desatenção que desfigura o edifício."
Menos distorcido e mais esquecido, o Avenida Central é outro retrato de descaso, com a ocupação desordenada de alguns andares que abrigam lojas de quinquilharias eletrônicas. (SILAS MARTÍ)


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