São Paulo, sábado, 12 de agosto de 2000


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"Bailarino é atleta da arte", diz Achcar

ESPECIAL PARA A FOLHA

Para a coreógrafa Dalal Achcar, presidente da Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o bailarino é um atleta da arte -daí a necessidade de condições específicas de trabalho.
Responsável pela companhia de dança mais antiga do Brasil, o Ballet do Teatro Municipal do Rio de Janeiro (BTMRJ), fundado em 1937, Achcar coordena um elenco numeroso -cerca de 90 bailarinos- ao lado do coreógrafo e professor argentino Gustavo Molajolli.
"O mundo moderno está abolindo a garantia permanente. Para uma competitividade mais globalizada, é necessário trabalhar com contratos temporários. Lidar com funcionários públicos, como ainda acontece, imobiliza as companhias, pois estabilidade é sinal de mediocridade", ela diz.
Com um elenco que inclui desde funcionários estáveis, admitidos por concurso -como é o caso da bailarina Ana Botafogo-, até contratados por prazos indeterminados, o Ballet do Teatro Municipal do Rio espera, no futuro, absorver artistas estrangeiros, como acontece, segundo Achcar, na maioria das grandes companhias internacionais.
"Na França, há leis que permitem aos bailarinos se aposentar com régios salários, logo após os 40 anos. Na Alemanha, o governo paga treinamentos diversos para intérpretes que, após o encerramento da carreira, possam trabalhar como fisioterapeutas, assistentes de coreografia etc. No Brasil, também temos de encontrar mudanças para um mundo em transformação."
Associando condições de trabalho à qualidade da criação, as companhias brasileiras buscam, hoje, benefícios específicos. "O tripé ideal seria encontrar sustentação por meio do público, do governo e também da iniciativa privada", diz Achcar.

Aposta no clássico
Única companhia brasileira que cultiva o repertório clássico, o Ballet do Teatro Municipal do Rio está preparando uma grande produção -"La Bayadère", que estréia dia 17 e fica em cartaz até dia 26. Para a montagem, Achcar convidou a bailarina russa Natalia Makarova, que recuperou a versão completa, segundo o original criado no século passado pelo coreógrafo Marius Petipa.
Reticente quanto à verba envolvida na produção, Achcar diz que "La Bayadère" custaria mais do que R$ 1,5 milhão se não fosse feito um convênio com o teatro Colón, de Buenos Aires, que está emprestando cenários e figurinos.
"Os clássicos são tão fundamentais para a dança quanto Shakespeare para o teatro", ela diz, defendendo o estilo eclético do grupo carioca, que também interpreta obras contemporâneas.
"Vivemos um fim de século muito pobre em matéria de criadores. A sociedade atual está voltada para a ciência, a tecnologia e as comunicações. Com o excesso de informações, fica difícil avaliar valores verdadeiros. O marketing constrói muitos equívocos, embaça a avaliação, e este é um dos perigos da atualidade, quando tudo está nivelado por baixo."
Para desenvolver bons coreógrafos -outro dilema das companhias atuais- Achcar acha importante ter acesso à cultura clássica. (AFP)


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