|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Bailarino é atleta da arte", diz Achcar
ESPECIAL PARA A FOLHA
Para a coreógrafa Dalal Achcar,
presidente da Fundação Teatro
Municipal do Rio de Janeiro, o
bailarino é um atleta da arte -daí
a necessidade de condições específicas de trabalho.
Responsável pela companhia de
dança mais antiga do Brasil, o Ballet do Teatro Municipal do Rio de
Janeiro (BTMRJ), fundado em
1937, Achcar coordena um elenco
numeroso -cerca de 90 bailarinos- ao lado do coreógrafo e
professor argentino Gustavo Molajolli.
"O mundo moderno está abolindo a garantia permanente. Para
uma competitividade mais globalizada, é necessário trabalhar com
contratos temporários. Lidar com
funcionários públicos, como ainda acontece, imobiliza as companhias, pois estabilidade é sinal de
mediocridade", ela diz.
Com um elenco que inclui desde funcionários estáveis, admitidos por concurso -como é o caso da bailarina Ana Botafogo-,
até contratados por prazos indeterminados, o Ballet do Teatro
Municipal do Rio espera, no futuro, absorver artistas estrangeiros,
como acontece, segundo Achcar,
na maioria das grandes companhias internacionais.
"Na França, há leis que permitem aos bailarinos se aposentar
com régios salários, logo após os
40 anos. Na Alemanha, o governo
paga treinamentos diversos para
intérpretes que, após o encerramento da carreira, possam trabalhar como fisioterapeutas, assistentes de coreografia etc. No Brasil, também temos de encontrar
mudanças para um mundo em
transformação."
Associando condições de trabalho à qualidade da criação, as
companhias brasileiras buscam,
hoje, benefícios específicos. "O
tripé ideal seria encontrar sustentação por meio do público, do governo e também da iniciativa privada", diz Achcar.
Aposta no clássico
Única companhia brasileira
que cultiva o repertório clássico, o
Ballet do Teatro Municipal do Rio
está preparando uma grande produção -"La Bayadère", que estréia dia 17 e fica em cartaz até dia
26. Para a montagem, Achcar
convidou a bailarina russa Natalia
Makarova, que recuperou a versão completa, segundo o original
criado no século passado pelo coreógrafo Marius Petipa.
Reticente quanto à verba envolvida na produção, Achcar diz que
"La Bayadère" custaria mais do
que R$ 1,5 milhão se não fosse feito um convênio com o teatro Colón, de Buenos Aires, que está emprestando cenários e figurinos.
"Os clássicos são tão fundamentais para a dança quanto Shakespeare para o teatro", ela diz, defendendo o estilo eclético do grupo carioca, que também interpreta obras contemporâneas.
"Vivemos um fim de século
muito pobre em matéria de criadores. A sociedade atual está voltada para a ciência, a tecnologia e
as comunicações. Com o excesso
de informações, fica difícil avaliar
valores verdadeiros. O marketing
constrói muitos equívocos, embaça a avaliação, e este é um dos
perigos da atualidade, quando tudo está nivelado por baixo."
Para desenvolver bons coreógrafos -outro dilema das companhias atuais- Achcar acha importante ter acesso à cultura clássica.
(AFP)
Texto Anterior: Companhia 2 recebe bailarinos mais velhos Próximo Texto: Escassez de recursos freia experimentação Índice
|