São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 2005

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CINEMA/"A SOGRA"

Presença da atriz veterana ofusca a de Jennifer Lopez e garante único ponto de interesse do filme

Jane Fonda inverte perversidade hollywoodiana

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Quando estreou nos Estados Unidos, em maio passado, "A Sogra" se tornou um filme-evento por um motivo particular: marcou a volta às telas de Jane Fonda. Em uma bem pensada ação de "marketing", com o filme vieram a autobiografia "My Life So Far" e o relançamento em DVD dos vídeos de ginástica estrelados por ela nos anos 80. Resultado: a atriz ganhou páginas e páginas em jornais e revistas e foi centro de vários programas de televisão.
Nesse cenário, quase não se falou de "A Sogra", mas o papel secundário dado ao filme é perfeitamente compreensível. Afinal, o que é mais interessante: a vida de Jane Fonda ou seu desempenho como mãe megera de noivo em uma comédia de gosto duvidoso?
Jane Fonda se tornou um mito que ultrapassou as fronteiras do "star system". Mais do que integrante da dinastia Fonda (Jane é filha do mestre Henry Fonda, irmã de Peter e tia de Bridget); mais do que rosto e corpo de Barbarella (no cultuado filme homônimo de 1968, dirigido por seu então marido Roger Vadim), mais do que atriz-de-talento-reconhecido ganhadora de dois Oscars (por "Klute, Seu Passado a Condena", de 1971, e "Amargo Regresso", de 1978), Jane Fonda construiu sua "persona" pública ao transformar a postura das estrelas de cinema. Seu engajamento no combate à Guerra do Vietnã cravou seu rosto no imaginário das transformações dos anos 60/70. Ela chegou a visitar o país quando este ainda se encontrava sob fogo norte-americano e se deixou fotografar ao lado de vietcongues, o que lhe custou uma cusparada na cara dada por um veterano de guerra.
Pois bem: depois de tudo isso, a atriz voltaria aos holofotes como musa da forma física nos famosos vídeos de ginástica que lançou nos anos 80 e ainda passaria por uma nova "virada" quando se tornou mulher de magnata, em 1991, casando-se com Ted Turner. Para quem já passou por tudo isso, o que falar de seu papel em "A Sogra"? Há, na escalação da atriz, um quê de humilhação, uma crueldade sistêmica que reserva aos mitos em processo de envelhecimento -principalmente femininos- um personagem embaraçoso. Ainda por cima porque posto ao lado de uma jovem estrela faz-tudo (Jennifer Lopez).
Mas eis que Jane Fonda não se deixa enganar. Se ela não chega a salvar "A Sogra", se sustenta como único ponto de interesse do filme. Sua presença ofusca a de Jennifer Lopez, que praticamente desaparece de cena como noiva-vítima, e os momentos de comédia com alguma eficácia estão sob o controle da atriz e não dependem de mais ninguém -nem mesmo do diretor Robert Luketic (de "Legalmente Loira").
Enfim: se Jane Fonda não responde à pergunta "como envelhecer em Hollywood" com a mesma dignidade de Clint Eastwood -até porque existe uma imensa diferença para homens e mulheres no quesito envelhecimento-, pelo menos ela consegue pôr a máquina do cinema para trabalhar a seu favor, invertendo certa perversidade do jogo hollywoodiano. Ponto para ela.


A Sogra
Monster-in-Law
  
Direção: Robert Luketic
Produção: EUA, 2005
Com: Jennifer Lopez, Jane Fonda, Michael Vartan
Quando: a partir de hoje nos cines Iguatemi, Lapa e circuito


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