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CINEMA/"A SOGRA"
Presença da atriz veterana ofusca a de Jennifer Lopez e garante único ponto de interesse do filme
Jane Fonda inverte perversidade hollywoodiana
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Quando estreou nos Estados
Unidos, em maio passado,
"A Sogra" se tornou um filme-evento por um motivo particular:
marcou a volta às telas de Jane
Fonda. Em uma bem pensada
ação de "marketing", com o filme
vieram a autobiografia "My Life
So Far" e o relançamento em
DVD dos vídeos de ginástica estrelados por ela nos anos 80. Resultado: a atriz ganhou páginas e
páginas em jornais e revistas e foi
centro de vários programas de televisão.
Nesse cenário, quase não se falou de "A Sogra", mas o papel secundário dado ao filme é perfeitamente compreensível. Afinal, o
que é mais interessante: a vida de
Jane Fonda ou seu desempenho
como mãe megera de noivo em
uma comédia de gosto duvidoso?
Jane Fonda se tornou um mito
que ultrapassou as fronteiras do
"star system". Mais do que integrante da dinastia Fonda (Jane é
filha do mestre Henry Fonda, irmã de Peter e tia de Bridget); mais
do que rosto e corpo de Barbarella
(no cultuado filme homônimo de
1968, dirigido por seu então marido Roger Vadim), mais do que
atriz-de-talento-reconhecido ganhadora de dois Oscars (por
"Klute, Seu Passado a Condena",
de 1971, e "Amargo Regresso", de
1978), Jane Fonda construiu sua
"persona" pública ao transformar
a postura das estrelas de cinema.
Seu engajamento no combate à
Guerra do Vietnã cravou seu rosto no imaginário das transformações dos anos 60/70. Ela chegou a
visitar o país quando este ainda se
encontrava sob fogo norte-americano e se deixou fotografar ao lado de vietcongues, o que lhe custou uma cusparada na cara dada
por um veterano de guerra.
Pois bem: depois de tudo isso, a
atriz voltaria aos holofotes como
musa da forma física nos famosos
vídeos de ginástica que lançou
nos anos 80 e ainda passaria por
uma nova "virada" quando se tornou mulher de magnata, em 1991,
casando-se com Ted Turner. Para
quem já passou por tudo isso, o
que falar de seu papel em "A Sogra"? Há, na escalação da atriz,
um quê de humilhação, uma
crueldade sistêmica que reserva
aos mitos em processo de envelhecimento -principalmente femininos- um personagem embaraçoso. Ainda por cima porque
posto ao lado de uma jovem estrela faz-tudo (Jennifer Lopez).
Mas eis que Jane Fonda não se
deixa enganar. Se ela não chega a
salvar "A Sogra", se sustenta como único ponto de interesse do
filme. Sua presença ofusca a de
Jennifer Lopez, que praticamente
desaparece de cena como noiva-vítima, e os momentos de comédia com alguma eficácia estão sob
o controle da atriz e não dependem de mais ninguém -nem
mesmo do diretor Robert Luketic
(de "Legalmente Loira").
Enfim: se Jane Fonda não responde à pergunta "como envelhecer em Hollywood" com a mesma
dignidade de Clint Eastwood
-até porque existe uma imensa
diferença para homens e mulheres no quesito envelhecimento-,
pelo menos ela consegue pôr a
máquina do cinema para trabalhar a seu favor, invertendo certa
perversidade do jogo hollywoodiano. Ponto para ela.
A Sogra
Monster-in-Law
Direção: Robert Luketic
Produção: EUA, 2005
Com: Jennifer Lopez, Jane Fonda, Michael Vartan
Quando: a partir de hoje nos cines Iguatemi, Lapa e circuito
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