São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 2006

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Renée Gumiel morre aos 92 anos

Marlene Bergamo - 18.jan.06/Folha Imagem
Renée Gumiel em ensaio da peça "Cinzas", que estreou em janeiro de 2006, no Sesc Pinheiros


Vítima de pneumonia, a bailarina francesa que atuou em São Paulo estava internada desde o último dia 3, em São Paulo

Uma das responsáveis por modernizar a dança brasileira, a atriz voltaria ao cartaz dia 8, em "Os Sertões", no teatro Oficina


DA REPORTAGEM LOCAL

A atriz e bailarina Renée Gumiel morreu domingo, aos 92 anos, vítima de pneumonia -seguida de um choque séptico. Ela estava internada desde o último dia 3, na UTI do hospital Santa Cruz, em São Paulo.
Nascida em 1913 na cidade francesa de Saint-Claude, Renée chegou ao Brasil nos anos 1950, trazendo consigo a dança moderna. Era a mais velha bailarina em atividade no país. Prestes a completar 93 anos, em 20/10, ainda dava aulas de dança e, na quarta-feira anterior à sua internação, participou de seu último ensaio com o grupo Oficina Uzyna Uzona.
Na sexta, dia 8, ela voltaria aos palcos na peça "Os Sertões". Para o diretor Zé Celso, Renée "é imortal, uma deusa dançante": "Era uma guia de todos nós, foi nossa grande amante", diz ele. "A última coisa que fez foi um ensaio de "O Homem - Parte 2", uma nova cena em que, como um animal, era domada a chicotadas. Queria sempre mais."
Renée nunca se interessou pelo balé clássico ("jamais coloquei meus pés em uma sapatilha de ponta"). Ela começou a estudar dança com Araça Makarowa em 32. Depois foi para a Inglaterra, onde estudou com Kurt Jooss e Rudolf Laban. Na Europa, dançou com Harald Kreutzberg e trabalhou com Jean Cocteau e Igor Stravinsky.
Durante a Segunda Guerra Mundial, deixou temporariamente a dança e entrou para a Resistência Francesa. Fugiu do país durante a ocupação nazista, indo para a Espanha.
Em 1957, convidada por um embaixador a criar a dança moderna brasileira, veio para o país com o marido, um comerciante espanhol, e se estabeleceu em SP, onde fundou uma escola e teve seus dois filhos.
Renée se fixou de vez no Brasil em 1961, quando abriu sua segunda escola, o Ballet Renée Gumiel, que funcionou até 1988. Fundadora da Cia. de Dança Contemporânea Brasileira, ela participou de movimentos no Teatro de Dança Galpão, Teatro Brasileiro de Comédia, Ballet Stagium e Balé da Cidade de São Paulo.
Para a coreógrafa Marika Gidali, diretora do Ballet Stagium, e que trabalhou com Renée em 1964, ela "transformou a dança brasileira": "Ela é um ícone que está na história. Era um grande personagem, como bailarina, atriz e ser humano."
Há um ano, sua história foi retratada no documentário "Renée Gumiel - A Vida na Pele", de Sérgio Roizenblit e Inês Bogéa, filme que mostra sua participação nos movimentos de modernização da dança.
Em março de 2006, Renée disse à Folha: "Durante toda a vida estive perto da morte, é totalmente habitual. Morte, vida; vida, morte". Ela se referia a momentos difíceis pelos quais passou. Lutou três vezes contra o câncer e teve duas fraturas no fêmur.
Seu corpo foi velado ontem, no Sesc Consolação, e cremado na Vila Alpina, em São Paulo.


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