|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Renée Gumiel morre aos 92 anos
Marlene Bergamo - 18.jan.06/Folha Imagem
|
Renée Gumiel em ensaio da peça "Cinzas", que estreou em janeiro de 2006, no Sesc Pinheiros
|
Vítima de pneumonia, a bailarina francesa que atuou em São Paulo estava internada desde o último dia 3, em São Paulo
Uma das responsáveis por modernizar a dança brasileira, a atriz voltaria ao cartaz dia 8, em "Os Sertões", no teatro Oficina
DA REPORTAGEM LOCAL
A atriz e bailarina Renée Gumiel morreu domingo, aos 92
anos, vítima de pneumonia
-seguida de um choque séptico. Ela estava internada desde o
último dia 3, na UTI do hospital
Santa Cruz, em São Paulo.
Nascida em 1913 na cidade
francesa de Saint-Claude, Renée chegou ao Brasil nos anos
1950, trazendo consigo a dança
moderna. Era a mais velha bailarina em atividade no país.
Prestes a completar 93 anos,
em 20/10, ainda dava aulas de
dança e, na quarta-feira anterior à sua internação, participou de seu último ensaio com o
grupo Oficina Uzyna Uzona.
Na sexta, dia 8, ela voltaria
aos palcos na peça "Os Sertões". Para o diretor Zé Celso,
Renée "é imortal, uma deusa
dançante": "Era uma guia de todos nós, foi nossa grande amante", diz ele. "A última coisa que
fez foi um ensaio de "O Homem
- Parte 2", uma nova cena em
que, como um animal, era domada a chicotadas. Queria
sempre mais."
Renée nunca se interessou
pelo balé clássico ("jamais coloquei meus pés em uma sapatilha de ponta"). Ela começou a
estudar dança com Araça Makarowa em 32. Depois foi para a
Inglaterra, onde estudou com
Kurt Jooss e Rudolf Laban. Na
Europa, dançou com Harald
Kreutzberg e trabalhou com
Jean Cocteau e Igor Stravinsky.
Durante a Segunda Guerra
Mundial, deixou temporariamente a dança e entrou para a
Resistência Francesa. Fugiu do
país durante a ocupação nazista, indo para a Espanha.
Em 1957, convidada por um
embaixador a criar a dança moderna brasileira, veio para o
país com o marido, um comerciante espanhol, e se estabeleceu em SP, onde fundou uma
escola e teve seus dois filhos.
Renée se fixou de vez no Brasil em 1961, quando abriu sua
segunda escola, o Ballet Renée
Gumiel, que funcionou até
1988. Fundadora da Cia. de
Dança Contemporânea Brasileira, ela participou de movimentos no Teatro de Dança
Galpão, Teatro Brasileiro de
Comédia, Ballet Stagium e Balé
da Cidade de São Paulo.
Para a coreógrafa Marika Gidali, diretora do Ballet Stagium,
e que trabalhou com Renée em
1964, ela "transformou a dança
brasileira": "Ela é um ícone que
está na história. Era um grande
personagem, como bailarina,
atriz e ser humano."
Há um ano, sua história foi
retratada no documentário
"Renée Gumiel - A Vida na Pele", de Sérgio Roizenblit e Inês
Bogéa, filme que mostra sua
participação nos movimentos
de modernização da dança.
Em março de 2006, Renée
disse à Folha: "Durante toda a
vida estive perto da morte, é totalmente habitual. Morte, vida;
vida, morte". Ela se referia a
momentos difíceis pelos quais
passou. Lutou três vezes contra
o câncer e teve duas fraturas no
fêmur.
Seu corpo foi velado ontem,
no Sesc Consolação, e cremado
na Vila Alpina, em São Paulo.
Texto Anterior: Gastronomia: Carla Pernambuco lança "Balaio de Sabores" Próximo Texto: Análise: Bailarina aproximou dança e teatro Índice
|