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Campeão atacou racismo
EDUARDO OHATA
da Reportagem Local
Durante sua carreira, Muhammad Ali costumava provocar seus
adversários recitando versos que
anunciavam sua vitória.
O poema preferido do ex-campeão dos pesos pesados, entretanto, tinha motivos sociais e Langston Hugues como autor.
"Também eu canto a América/Eu sou o irmão mais escuro/Eles me mandam comer na cozinha/Quando tem gente de fora.../Mas eu rio,/E como bem,/E
torno-me forte./Amanhã,/Estarei
à mesa/Quando vier gente de fora./Ninguém ousará/dizer-me:/"Coma na cozinha"./Então,/Eles verão o quanto sou bonito/E se sentirão envergonhados/Também eu sou a América."
Ali teve seus motivos para adotar
esses versos como inspiração.
Ao ganhar medalha de ouro na
Olimpíada de Roma, em 1960,
pensou que seria recebido como
herói em sua cidade, Louisville.
Acabou jogando fora a medalha
após ser expulso de um restaurante pelo fato de ser negro.
Ao se profissionalizar, seu estilo
fanfarrão e irreverente irritou ainda mais aquela América branca.
Em vez de imitar o estilo comportado de Joe Louis, lembrava
mais o rebelde Jack Johnson, que
também se notabilizou por provocar a sociedade branca.
Torcedores enchiam os estádios
esperando que alguém calasse a
boca de Ali. Quando este teve a licença de pugilista cassada e foi
condenado à prisão, em 1967, por
recusar-se a servir na guerra do
Vietnã, muitos comemoraram.
"Nunca vi nenhum vietcongue
me desrespeitando. É na América
que sou insultado", justificou.
A antipatia do público não impediu que Ali acumulasse 56 vitórias,
37 por nocaute, e 5 derrotas. Um
número ainda mais impressionante quando se constata que tal cartel
foi conquistado durante o período
de ouro dos pesos pesados, quando competiam George Foreman,
Ken Norton e Joe Frazier, entre
outros excepcionais pugilistas.
As gerações mais novas aprenderam a apreciar Ali. Desde a década
de 70, o ex-campeão, que atualmente sofre do mal de Parkinson,
é uma das mais conhecidas e admiradas figuras do esporte.
Sua constante participação em
eventos beneficentes ajuda nesse
sentido.
Afinal, Ali trocou a cozinha pelos corações da América, e do
mundo.
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