São Paulo, sexta, 12 de setembro de 1997.



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Campeão atacou racismo

EDUARDO OHATA
da Reportagem Local

Durante sua carreira, Muhammad Ali costumava provocar seus adversários recitando versos que anunciavam sua vitória.
O poema preferido do ex-campeão dos pesos pesados, entretanto, tinha motivos sociais e Langston Hugues como autor.
"Também eu canto a América/Eu sou o irmão mais escuro/Eles me mandam comer na cozinha/Quando tem gente de fora.../Mas eu rio,/E como bem,/E torno-me forte./Amanhã,/Estarei à mesa/Quando vier gente de fora./Ninguém ousará/dizer-me:/"Coma na cozinha"./Então,/Eles verão o quanto sou bonito/E se sentirão envergonhados/Também eu sou a América."
Ali teve seus motivos para adotar esses versos como inspiração.
Ao ganhar medalha de ouro na Olimpíada de Roma, em 1960, pensou que seria recebido como herói em sua cidade, Louisville.
Acabou jogando fora a medalha após ser expulso de um restaurante pelo fato de ser negro.
Ao se profissionalizar, seu estilo fanfarrão e irreverente irritou ainda mais aquela América branca.
Em vez de imitar o estilo comportado de Joe Louis, lembrava mais o rebelde Jack Johnson, que também se notabilizou por provocar a sociedade branca.
Torcedores enchiam os estádios esperando que alguém calasse a boca de Ali. Quando este teve a licença de pugilista cassada e foi condenado à prisão, em 1967, por recusar-se a servir na guerra do Vietnã, muitos comemoraram.
"Nunca vi nenhum vietcongue me desrespeitando. É na América que sou insultado", justificou.
A antipatia do público não impediu que Ali acumulasse 56 vitórias, 37 por nocaute, e 5 derrotas. Um número ainda mais impressionante quando se constata que tal cartel foi conquistado durante o período de ouro dos pesos pesados, quando competiam George Foreman, Ken Norton e Joe Frazier, entre outros excepcionais pugilistas.
As gerações mais novas aprenderam a apreciar Ali. Desde a década de 70, o ex-campeão, que atualmente sofre do mal de Parkinson, é uma das mais conhecidas e admiradas figuras do esporte.
Sua constante participação em eventos beneficentes ajuda nesse sentido.
Afinal, Ali trocou a cozinha pelos corações da América, e do mundo.



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